30/04/2016

DEOLINDA | Discurso Direto


Chama-se "Outras Histórias" o novo trabalho dos Deolinda. O 4.º álbum de estúdio da banda, sucessor de "Mundo Pequenino" (2013),  foi registado em co-produção com João Bessa e traça alguns caminhos que ainda não haviam sido explorados no repertório e estilo da banda. Hoje em "Discurso Direto", Pedro Silva Martins dá-nos a conhecer num "faixa a faixa" as 15 canções do álbum "Outras Histórias".

01. Bons dias

A melodia surgiu com um brilho muito peculiar que me levava para o brilho das manhãs. Lembrei-me de algo que ouvi algures de que a melhor maneira de começar o dia é dar os bons dias ao próprio dia e ele recompensar-nos-à da nossa simpatia. É uma canção sobre a importância da simpatia e o impacto que pode ter um bom dia na vida de alguém.

02. Manta para dois

Cena do quotidiano. Duas pessoas chateadas no sofá e uma manta. A manta tem aqui um sentido de pacificação, de união. Uma espécie de manta de incêndio para os arrufos diários de casal. A canção começou a nascer nos camarins antes de um concerto da Deolinda no México. A letra foi escrita no avião, algures sobre o Atlântico.

03. Mau acordar

O ritmo da guitarra de acompanhamento sugeria os solavancos de um comboio. Fui vasculhar as minhas memórias das viagens que fazia na Linha de Sintra. É uma canção que se propõe ela própria como uma viagem no pensamento de alguém que procura algo mais para a sua vida. O pensamento enlevado em contraste com os tiques de uma multidão suburbana e o seu mau acordar.

04. Corzinha de Verão

Fim de semana em Porto Covo. Todos os planos de um bom dia de praia saem frustrados. Por sorte tinha levado a guitarra e passei a tarde à volta desta ideia até aparecer a melodia. A alusão ao museu surge depois de ouvir uma criança que se queixava que os pais só a levavam a museus e não à praia.

05. Bote furado

O bote como metáfora de um país que se afunda com a suspeita de que quem nos pede para salvar o bote é a mesma pessoa que lhe fez um furo. A canção surge a partir da última parte que foi escrita e composta antes e deixando a sugestão de letra para a primeira parte. A letra sofreu algumas alterações até à versão final.

06. Desavindos

Tema simples de um casal desavindo, sem tempo, focado em si mesmo e sem espaço para o futuro. Mão arregaçada e metida a fundo na consciência. A canção pode não ser apenas sobre um casal, podemos estar desavindos com um país, por exemplo, e aí "contar aos nossos filhos uma outra história" ganha outra dimensão. No entanto, o foco foi posto no casal e, nas primeiras versões da letra, no canto superior direito já aparece a indicação: "dueto com Manel Cruz".

07. Canção Aranha

Canção sobre uma canção que está por fazer. A canção nasce da estrofe inicial "há canções que pedem tempo/ e por não ser o momento/ sei que esta canção não é para já" que escrevi na esplanada do bar do Teatro Maria Matos num final de tarde. A referência ao concerto é inspirada nos muitos casais que nos vêm contar que as canções da Deolinda são muitas vezes rastilho das suas relações.

08. Avó da Maria

Quem nunca ouviu uma avó falar de uma neta e pesar as virtudes mais para os seus genes? Conversa de café e padaria tornada canção. O ritmo saltitão da guitarra levou para esse universo brincalhão e infantil.

09. Nunca é tarde

Pela densidade da letra pensou-se baixar o tempo da música que, numa primeira apresentação, era mais rápida. Desde o início da melodia sentia a necessidade de um momento de pressão-descompressão no interior da canção, a ideia era percussão e cordas. O Filipe Melo criou um arranjo de cordas fantástico para esse momento.

10. A velha e o dj

Ideia surgiu após a leitura de um comentário no facebook em que alguém expunha o comportamento de certas mulheres mais velhas em discotecas. A análise não era muito abonatória para as senhoras e revelava alguma dor de cotovelo. Então resolvi dar alguma dignidade a quem dança e ama sem olhar à idade e a preconceitos. As raparigas novas e invejosas ficam mal vistas nesta canção. Ler comentários às vezes pode inspirar boas ideias.

11. Pontos no mundo

Durante alguns meses esta melodia teve o título "melodia Macau". Tinha algo de oriental. O Luis na primeira abordagem que fez, surgiu com o acompanhamento que foi gravado e tudo levava para o oriente. Fui consultar os meus diários do concerto da Deolinda em Macau, para me inspirar. Num aeroporto tinha assistido sem querer à conversa de um casal a fazer escala entre voos. Pelos olhares e pelos sorrisos senti que era uma história com futuro. Se foi ou não, não sei, mas teve futuro nesta canção.

12. Berbicacho

Tema que nasce de uma afinação particular de guitarra e a intenção de criar uma história sobre uma troca de papéis. Não teve uma inspiração concreta mas sei que a muitos cabe a carapuça. Antes de Viriato teve outros nomes pouco musicais. O momento "africano" no coro surgiu depois de gravarmos vozes e começarmos a sobrepor ideias.

13 Bom partido

Uma semi-marcha popular com uma percussão americana e o refrão com mudança de compasso à brasileira. Letra inspirada nas mulheres que procuram bons maridos e confiam mais nos desígnios sagrados do que no Tinder ou outras aplicações semelhantes.

14. Canções que tu farias

Inspirado e dedicado a António Variações e outros nomes que muito me influenciaram. A ideia de uma máquina que consegue ouvir no silêncio as canções que faríamos é algo que me conforta porque sei que vou, de certeza, deixar muitas canções por fazer.

15. Dançar de olhos fechados

Uma dança quase hipnótica. Tudo dança na melodia, as palavras, as frases, as personagens, os cenários. Uma construção de narrativa que muito gozo me deu. É uma canção sobre a imaginação e o seu poder sensorial.

1 comentário:

Coisaspequenas disse...

Muito obrigada por esta entrevista, amigos de Portugal Rebelde. Estava à procura da origem de algumas canções deste album, e fiquei muito contente em achar esta página! Tenho saudades dos Deolinda...

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