21/04/2016

MIKE EL NITE | "O Justiceiro"


Mike El Nite é um dos expoentes de uma nova escola e uma nova sensibilidade no universo do rap nacional: estudou música electrónica, fez electro, trabalhou – e ainda trabalha – com Da Chick, rima, mas também se coloca atrás dos pratos em inúmeras ocasiões, nomeadamente para suportar outros artistas. Estes factos são relevantes apenas para se entender que o seu percurso e as suas coordenadas não lhe permitem um encaixe fácil na prateleira mais ou menos definida da cena do Hip Hop Tuga.

A diferença de Mike El Nite começa logo no nome: referência à memória televisiva de infância carregada de humor e com a dose certa de “word play”. Depois há os EPs que o colocaram no mapa: Rusga Para Concerto em G Menorde onde saiu um monumental “Mambo No 1” que ganhou espaço na compilação regular que a Fnac dedica aos novos talentos nacionais e também Vaporetto Titano,lançado o ano passado e outro dos marcos na história ainda jovem, mas promissora, da ASTROrecords.

Com tudo isto, exigia-se, muito naturalmente um álbum: em disco e em concerto Mike El Nite tem sabido mostrar que é avesso a convenções, que gosta de procurar originalidade nos beats que usa ou nas temáticas que aborda (“Ride a Bike” é uma espécie de hino ecológico enviesado e “Só Badalhocas” com participação de Da Chick agitou as águas digitais da internet com alguma celeuma feminista injustificada) e que continua a usar a memória televisiva como motor para a sua criatividade.

Entende-sse, por isso mesmo, que o título do novo álbum seja "O Justiceiro" – não apenas um eco da memória de TV que lhe valeu o seu nome artístico, mas também porque, como alerta quer “fazer justiça às temáticas” que aborda. “O trap ou a componente mais electrónica do rap”, assegura Mike, “também pode ser forte em mensagem e consciência”.

E para embalar essa mensagem, em "O Justiceiro", Mike El Nite escolhe Dwarf para a produção, assume o papel de co-produtor em alguns temas, e recruta aliados numa série de outros nomes das margens mais underground da nossa cena rimática: L-Ali, Nofake, Profjam ou até Kaixo, que chega do lado de lá da fronteira, da Galiza, marcam presença nesta estreia de Mike El Nite num projecto de fôlego mais alargado. 

E na subcave de todo este edifício erguido electronicamente, uma vez mais, a memória a desempenhar um papel no drama sónico com um conjunto de samples de música portuguesa a plantarem este projecto solidamente, neste rectângulo à beira mar espantado.

"O Justiceiro" está a chegar. Vem de bicicleta e dança o mambo. Não há outro igual. O disco está disponível pra download gratuito e legal, aqui.

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