A comemorar 10 anos de carreira, os Melech Mechaya estão de regresso aos discos com o surpreendente “Aurora”, o quarto longa-duração do grupo. Depois dos bem-sucedidos “Aqui Em Baixo Tudo É Simples” e “Gente Estranha”, discos que foram apresentados em mais de 150 concertos em 10 países de 3 continentes, “Aurora” representa o trabalho mais inovador e original do quinteto, alargando os horizontes da música klezmer para uma sonoridade única que é só deles. João da Graça, André Santos, Francisco Caiado, João Novais e Miguel Veríssimo, são os meus convidados em "Discurso Direto".
Portugal Rebelde - “Aurora” é o disco mais inovador e original dos Melech Mechaya?
João da Graça - Penso que sim. Se no Aqui em Baixo Tudo é Simples e Gente Estranha tínhamos já tentado uma tímida incursão por outras sonoridades, no Aurora fazêmo-lo de forma explícita e sem medo de arriscar.
André Santos - Seguramente! Neste disco exploramos muitos ambientes e texturas musicais novas rompendo com alguns do padrões que trazíamos até à data. Nós próprios levámos algum tempo a aceitar e a integrar este conjunto de músicas novas por todas as inovações que as mesmas nos traziam naturalmente.
Francisco Caiado - Sem dúvida. A principal inovação deste novo trabalho foi o aceitar de músicas com um carácter mais contemplativo, ritmos mais calmos e melodias menos estridentes. Ao fazermos isso acabámos por fugir do klezmer tradicional e aproximamo-nos de uma sonoridade muito mais original.
João Novais - "Aurora" é sobretudo um olhar para o futuro, o começar de um novo dia, é a oportunidade perfeita para começar de novo e fazer sempre melhor, levando-os a ir mais além. Se é inovador e original? - não sei, mas é seguramente uma versão mais atual dos Melech Mechaya.
Miguel Veríssimo - Ditto!
PR - Este disco conta com as participações especiais de Noiserv, Filipe Melo e Lamari de Chambao. Querem falar-nos um pouco destes “encontros”?
André Santos - Foram três parcerias muito felizes, no meu ver. A música "Un Puente" foi logo feita de origem a pensar numa voz em espanhol até que nos surgiu a ideia de convidar a Lamari. Foi uma experiência incrível. Ela trazia já muitas ideias e a letra no bolso, então quando chegámos a estúdio fomos experimentando as melhores soluções para cada ideia e naturalmente tivemos uma boa conexão. A música "Boom", com a participação do Noiserv foi uma música que fizemos e com a quel sempre nos sentimos inseguros por ser bastante diferente do caminho normal dos Melech. No entanto, quando o Noiserv enviou as primeiras sugestões dele, sentimos logo que estávamos perante uma música muito forte e que estranhamente nos acabou por ficar muito natural. Com o Noiserv tivemos um "encontro" mais virtual mas foi sempre muito fluído, mostrando que a música tinha de ser feita desta forma e não de outra. O Filipe Melo participou no tema que dá nome ao disco. Só depois do tema estar feito é que surgiu a ideia de convidar um instrumento exterior a Melech para completar a música. O nome do Filipe surgiu por todos já o conhecermos das suas diversas facetas artísticas e foi feito o convite que resultou numa parceria muito bonita e pura. Com o Filipe tivemos a honra de ensaiar antes de gravar e explorar algumas ideias em conjunto, desenvolvendo a música ao seu lado e daí surgindo a nossa Aurora.
Francisco Caiado - O André tirou-me as 1000 palavras da boca.
João da Graça - André, disseste tudo.
João Novais - Escolhemos cada um deles e estendemos-lhe o convite para participar porque gostamos deles e achámos que acrescentariam algo único àquilo que tínhamos para oferecer. É um enorme privilégio terem aceitado e colaborado neste disco, sem o talento deles esta Aurora seria um pouco menos luminosa.
Miguel Veríssimo - Para nós é já uma tradição convidarmos músicos que admiramos para os nossos discos. São sempre momentos muito especiais para nós, sobretudo por termos alguém a trabalhar a nossa música de fora.
PR - Qual é o tema que melhor define o “espírito” deste disco?
João da Graça - É uma pergunta difícil, porque acho que todas as músicas têm a sua identidade própria. Eu gosto muito do Aurora, do Êxodos, do Fado Saltério. Têm, cada uma à sua maneira, um lado sombrio e levemente carregado de uma nuvem cinzenta que se aproxima mas não molha.
André Santos - Pessoalmente acho que o Fado Saltério é um bom tema para este lugar no pódio. Acaba por ser uma música que tem diferentes emoções em si, as quais encontramos ao longo do disco. A mim soa-me fresco, não sei explicar melhor…
Francisco Caiado - Considero que o tema que abre o disco, “Aurora”, é como a porta de entrada neste novo universo de Melech Mechaya e como tal uma tema que ajuda a definir o espírito do álbum. É uma música nostálgica mas poderosa, que avança lenta mas constantemente empurrada pelos 6 músicos (grande participação do Filipe Melo).
João Novais - Este disco caracteriza-se sobretudo pela diversidade de sonoridades que conseguimos criar, destacar uma música é como reduzir uma palavra a uma sílaba, ou um poema a um verso, na "Aurora" gosto sobretudo da cor do céu, do degradê.
Miguel Veríssimo - Neste disco é-me realmente difícil eleger uma, pois gosto muito de todas. Tenho ouvido mais a sequência Boom - Poça de Dominó - Êxodos, mas o Ricochete é uma música que me surpreendeu positivamente ao vivo, por exemplo.
PR - Numa frase apenas como caracterizariam o álbum “Aurora”?
João da Graça - Um novo dia na nossa música.
André Santos - O melhor disco dos Melech Mechaya!
Francisco Caiado - Uma viagem inesquecível!
João Novais - "Aurora" é o nascer do dia, é uma senhora de idade simpática, é uma criança que está para nascer.
Miguel Veríssimo - Um disco para ouvir sentado, num momento em que se possa dedicar à música.
PR - Que memórias guardam destes 10 anos de música Klezmer?
João da Graça - Muitas histórias deliciosas, muito suor e partilha em palco e fora dele. Amizades e cumplicidades musicais que marcaram a minha vida. E depois claro, a partilha com o público que nos vai conhecendo e de quem vamos recebendo um retorno prazeroso.
André Santos - As histórias e aventuras são muitas. Temos, obviamente, imensos episódios para relembrar o resto da vida, mas o mais importante é que ao longo destes 10 anos fomos ficando cada vez mais amigos uns dos outros e desejosos de viver os próximos 10 anos de aventuras.
Francisco Caiado - Sem dúvida que as melhores memórias são a amizade que construímos entre nós e também com o nosso público. Não esquecerei em particular as maravilhosas rodas gigantes (alegadamente as maiores já vistas em muitos destes sítios) que temos conseguido fazer por esse mundo fora.
João Novais - Mais do que uma memória é um sentimento, a enorme alegria em fazer aquilo que se gosta e poder partilhá-lho com outras pessoas.
Miguel Veríssimo - Estes últimos 10 anos de Melech confundem-se muito com os últimos 10 anos das nossas vidas, e emociona-me pensar no caminho que percorremos todos como grupo, como pessoas e como músicos. Tem sido um privilégio.
PR - Para terminar, o que é que o público pode esperar de um concerto dos Melech Mechaya?
Miguel Veríssimo - Música, sempre! E alegria, e um momento de comunhão.
João da Graça - Um espectáculo que continua a procurar interagir com o público, mas que acrescenta mais variações de emoções na música que tocamos. Estamos mais adultos, talvez seja por isso.
André Santos - Pode continuar a esperar muita festa e animação mas com mais mistura de diferentes emoções e alguns momentos não tão rápidos mais super intensos.
Francisco Caiado - Um concerto intenso e dinâmico, onde essencialmente se celebra a vida com muita dança e alguma parvoíce.
João Novais - Enquanto acontecem "outras coisas" algures lá pelo meio há-de acontecer alguma música.
Sem comentários:
Enviar um comentário