03/06/2017

TNT | Discurso Direto


Há um menino de ouro e um rei dos gazeteiros nas nossas memórias cinematográficas dos anos 80 e encontrar essas referências no alinhamento do novo álbum de TNT, "Menino de Ouro", só confirma o seu estatuto de veterano. O homem forte da Mano a Mano tem construído um singular percurso no muito povoado território do hip hop nacional, mas nunca abdicou da sua própria bagagem nessa viagem.

Portugal Rebelde - É verdade que a expressão “Menino de Ouro” reflecte o teu crescimento e as dificuldades que encontraste para te afirmar como rapper?

TNT - Em parte sim. A expressão “Menino de Ouro” é usada neste disco de uma forma irónica, para representar as expectativas que os nossos pais (e a sociedade em geral) colocam em nós e que na maioria das vezes não são correspondidas. Existe uma grande pressão para seres o cidadão exemplar, o empregado do mês ou um artista consensual, caso contrário és só mais um. Esta situação é abordada ao longo do disco, em temas como “O Rei dos gazeteiros”, “Pro Bono” ou o single “Menino de Ouro”.

PR - Este disco conta com muitas participações de peso. Queres falar-nos um pouco dessas escolhas?

TNT - Neste disco tive o prazer de colaborar com algumas das minhas referências enquanto músico. O Carlão é uma delas, cresci a ouvir a música dele. Senti que o tema “Catarse” precisava de um refrão forte e lembrei me da passagem dele por alguns projectos mais “heavy” como Dias de Raiva. Fiz o convite, ele aceitou e o resultado foi o que eu esperava. Ao escrever o tema “Check In” imaginei um sample do tema de Cool Hipnoise “Ponto Sem Retorno” no refrão, que acabou por se concretizar através da reinterpretação desse tema pelo Melo D. Quanto às participações de rappers, convidei alguns dos que mais admiro, como o Blasph, Kulpado ou RealPunch. As vozes ficaram a cargo do Tó Cruz, Maura M e Nuno Santos, cada um com o seu timbre e interpretação própria. Na parte instrumental contei com as produções do DJ Player em grande parte dos temas, do Lhast (responsável por êxitos do Richie Campbel, Diogo Piçarra, Regula), entre outros.

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste “Menino de Ouro?

TNT - Os álbuns não são estáticos, na minha opinião, e a minha visão dos mesmos vai mudando ao longo do tempo. Inicialmente podia dizer que o tema single “Menino de Ouro” definia a luta para me afirmar como rapper e seria a música que mais caracterizava o disco. Uns meses após o lançamento do disco e com toda a experiência de isso envolve, acho que a “Pro Bono” é a música que mais define este disco e a minha postura perante o mercado musical. Se não fizeres aquilo a que te propões por gosto e com amor, muito dificilmente terás sucesso, sendo que o sucesso é estares bem contigo e com os que te rodeiam sem teres de abdicar da tua integridade e das tuas convicções.



PR - No próximo dia 10 e 16 de Junho, apresentas em Lisboa (Musicbox) e no Porto (Café Au Lait) as canções deste disco. O que é que o público pode esperar destes concertos?

TNT - O público pode esperar dois grandes concertos, é para isso que estou a trabalhar! No Musicbox vou acompanhado pela minha banda e levo convidados de peso como Nerve, Beware Jack, Blasph e o Melo D, entre outros. Vai ser uma festa de lançamento do disco e ao mesmo tempo uma celebração da editora que represento, a Mano A Mano (www.manoamano.pt) com grande parte dos artistas com quem trabalho a subirem ao palco. No Porto vou reduzir o formato mas não vou poupar no conteúdo. Conto com o rapper Weis para partilhar o palco e vamos levar à invicta uma noite de bom Hip-Hop português.

PR - Para terminar, que memórias guardas de 20 Anos de rimas?

TNT - É um pouco difícil para mim assumir este papel de “veterano” por andar a fazer rap em Português desde 1997. Não me revejo no tempo mas nos trabalhos que tenho feito e a realidade é que este é o meu segundo disco a solo, o que significa que ainda tenho muito para evoluir. Mas não posso minimizar o facto de que já ter atravessado várias fases do Hip-Hop feito em Portugal e da música portuguesa em geral. Quando iniciei a minha carreira o rap era visto como uma cultura musical marginal pois havia uma predominância do rock e variantes. As coisas mudaram em vinte anos e hoje o rap é um estilo musical afirmado. Perdeu um pouco da mística marginal pela qual me apaixonei, já não é uma coisa “só nossa” mas isso é inevitável e acontece sempre que um determinado estilo musical está na moda. Guardo na memória acima de tudo os primeiros discos de rap feitos em Português, como “MandaChuva” do Boss AC, “Sem Cerimónias” de Mind da Gap, “Terceiro Capítulo” dos Da Weasel e por aí fora.


1 comentário:

Anónimo disse...

" O menino DE ouro" ...que reluz...
decerto !!

..Portugal Rebelde ...não "vacila "..e ainda bem !!!

/>