18/12/2017

VALÉRIA CARVALHO | Discurso Direto


Valéria Carvalho, actriz e cantora Brasileira do estado de Minas Gerais, tem um enorme reconhecimento em Portugal, onde se radicou em 1991, pelo seu desempenho no teatro, televisão e cinema. Na televisão portuguesa, trabalhou em várias novelas, séries e talk shows. É ainda criadora e directora da Casa da Língua Portuguesa. Porém, foi graças ao seu trabalho no teatro, e ao êxito formidável dos seus espectáculos, que ganhou a atenção e a admiração dos meios culturais: Chico em Pessoa (2012), em torno da obra de Pessoa e Chico Buarque de Holanda, que esteve presente na Casa Fernando Pessoa e em vários festivais. Em 2014 apresentou o espectáculo musical "Rui Veloso em Jeito de Bossa" no Centro Cultural Olga Cadaval. É na sequência deste espectáculo que surge o álbum "Rui em Jeito de Bossa". Valéria Carvalho é hoje minha convidada em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - Quando em 2014 apresentou o espetáculo musical "Rui Veloso em Jeito de Bossa", alguma vez pensou que estavam ali as “sementes” de um disco?

Valéria Carvalho - Sim, o mais possível. Primeiro nasceu a ideia do disco, o espetáculo vem justamente da necessidade de elaborar melhor o conceito e estabelecer a linguagem do projeto. Foi uma experiência fundamental para encontrar a identidade do disco que partiu da minha voz e do meu violão, encontrar os músicos certos e definir os arranjos. Também valeu para ver a reação do público servindo como uma rampa de entusiasmo fundamental para a concretização de qualquer projeto.

PR - A música de Rui Veloso foi o seu primeiro contacto com a música portuguesa?

Valéria Carvalho - Curiosamente, quando cheguei em Portugal com apenas uma mochila cheia de sonhos nas costas, no início dos anos 90, foi na cidade do Porto. Quando desci do avião estava a acontecer um show do Rui numa praça pública, e eu perguntei a alguém que passava quem era aquele... eu pensei, que curioso nós também temos um Veloso... o Caetano....Fiquei a assistir ao concerto com atenção e foi o meu primeiro contato com a música portuguesa. Depois cheguei a viver uns meses no Porto e sempre ouvindo Rui e deixando que as letras de Carlos Tê me fizessem ganhar consciência do meio onde estava inserida. Aos poucos e até hoje fui descobrindo outros gigantes e me apaixonando genuinamente por eles todos... Ary dos Santos, Carlos Paredes, Zeca Afonso, Madredeus, Amália, Paulo de Carvalho, Fausto, Trovante, Real Cia, Carlos do Carmo, António Variações, Sérgio Godinho, Ornatos Violeta, Jorge Palma, Boss AC, Valete, Chullage, António Zambujo, Jorge Palma entre outros menos mediáticos mas com a globalização temos acesso a este maravilhoso manancial criativo que acontece nos bairros da periferia de Lisboa onde a Lusofonia realmente acontece.

PR - Houve algum critério para a selecção das 10 canções que compõem este disco?

Valéria Carvalho - Sim, em termos de música foi mais fácil, em termos de letras nem todas ficavam bem em Bossa Nova. A minha sensibilidade foi gerindo a escolha. O mais difícil foi deixar de fora alguns temas como "A ilha", "Nunca me esqueci de ti" ou "Porto Côvo" que entram no espetáculo assim como "O baile da paróquia" que fazemos em ritmos de xote nordestino e que as pessoas se divertem muito e nós também. Também no espetáculo entram algumas letras de Carlos Tê ditas em perfomance.

PR - “Primeiro Beijo”, single de apresentação deste disco conta com a participação de Mafalda Veiga. Quer falar-nos um pouco deste encontro?

Valéria Carvalho - Foi um encontro inusitado! Já nos conhecíamos circunstancialmente e por ocasião do casamento de um amigo em comum nos unimos para cantar na festa da celebração de união, eu sugeri o primeiro beijo, ela adorou a ideia e assim foi... as pessoas na festa adoraram... eu também achei que soou muito bem. Quando gravei o disco convidei a Mafalda e ela aceitou. Acho que foi um encontro muito feliz a todos os níveis, ela é uma pessoa muito especial e estou muito feliz de tê-la conhecido melhor.

PR - Como é que foi misturar os dois universos de “Rui em jeito de Bossa”?

Valéria Carvalho - Foi natural para uma pessoa como eu que vive aqui há tantos anos. É simplesmente a minha forma de ver e sentir a música portuguesa que já faz parte da minha história. Na minha pessoa estes universos já não estão separados.

PR - Numa frase como caracterizaria este disco?

Valéria Carvalho - Vou usar a frase do próprio Rui que para mim foi a mais certeira até agora: "É orgânico e telúrico".

PR - O Rui Veloso acompanhou de perto a gravação deste disco. Posso perguntar-lhe que conselhos lhe deu para a composição deste “Rui em jeito de Bossa”’ ?

Valéria Carvalho - Ele foi fundamental em tudo. Eu ouço muito tudo que ele me diz, confio totalmente nele. Ele "bateu sempre o pé" no que dizia respeito aos arranjos, para ele o projeto é a minha voz e o meu violão, e pouco mais. Foi o caminho mais difícil para mim, aprender a acreditar, valorizar e confiar naquilo que brotava de mim própria... hoje vejo que o Rui me deu a minha identidade musical, nunca vou poder agradecê-lo o suficiente.




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