18/08/2018

ALMA MENOR | Discurso Direto


"Em Tons de Aguarela" (2018), é este o título da primeira aventura musical que junta Tiago Morais (gaita de foles) e Tiago Marques (acordeão), dois músicos que procuram a sua inspiração na mais variada música do mundo, desafiando os limites da imaginação, não raras vezes, numa contradição surpreendente e emocionante. Hoje em "Discurso Direto" destaque para o projeto Alma Menor.

Portugal Rebelde - Antes de mais, quando é que começaram as “experimentações” do Alma Menor?

Alma Menor - Em Setembro de 2014, no entanto já nos conhecíamos há algum tempo atrás, por termos participado em alguns eventos previamente e partilhado a nossa musica acabando por tocar juntos em ambiente informal, nessa altura ficou o bichinho de uma linguagem muito próxima que queríamos explorar. Passado pouco tempo começámos a ensaiar. Numa primeira fase, o projeto contava com outros instrumentos: guitarra, cavaquinho e percussões, e também tínhamos vontade de incluir a sanfona. Porém, e em virtude da riqueza harmónica e melódica do acordeão, optou-se por este em detrimento dos cordofones. Gradualmente, as composições foram ganhando forma e tornaram-se de tal forma complexas que já considerámos o acordeão e a gaita-de-foles como os elementos basilares do nosso projeto, tentando levar os instrumentos para novos patamares em termos de abordagem estilística e de execução técnica, em especial no que diz respeito à gaita-de-fole.

PR - Onde é que vão beber as vossas influências musicais?

Tiago Marques - As nossas influências são muito variadas, desde o nuevo tango do Piazzola, música clássica Barroca, diversos músicos das regiões dos balcãs e da música Klezmer, sem deixar de lado alguns nomes do acordeão na música Portuguesa, tais como Eugénia Lima, do acordeão jazz, como Richard Galliano, ou ainda do jazz modal, como John Coltrane.

Tiago Morais - É notório que existem influências comuns entre os dois, desde logo no novo tango do Piazzola e na magia do acordeão do Galliano. No entanto é curioso realçar que pessoalmente descobri Piazzola através de uma versão de sanfona de um músico que considero único, German Diaz num dos seus projectos, Rao Trio. Sem esquecer também a belíssima versão do Libertango do meu professor e grande referência para mim, Daniel Bellón, e lá está, gaiteiro que é gaiteiro tem que admirar nomes como Gaiteiros de Lisboa, Carlos Nunez etc. Aparte disso, existem outros géneros que me têm influenciado ao longo dos tempos, apesar de considerar que isso não é uma coisa estanque nem fundamental no processo criativo. Interessante sim é constatar a riqueza que acontece quando uma ideia que é pessoal e está fechada em si, de pronto descobre outra percepção e se transforma drasticamente sob nuances inusitadas e que de repente nos surpreendem pela sua riqueza harmónica e melódica, como se estivessem à espera de ser descobertas.

PR - Este disco conta com a participação de Luís Peixoto, Hugo Correia, e Rúben Monteiro entre outros. Querem falar-nos um pouco destes “encontros”?

Alma Menor - Tínhamos bem definido que o nosso disco não se iria resumir exclusivamente a nós e nesse sentido apostámos no Hugo Correia para o produzir e acrescentar também os seus atributos técnicos que deram uma dimensão muito grande ao disco, o Hugo Correio é um daqueles músicos que toda a gente deveria conhecer, pois respira música por todos os poros, nos mais distintos processos. Por sorte temos a felicidade de ter como amigos todos os que participaram neste disco, alguns deles até são promessas antigas como no caso do Luís Peixoto ou do Tiago Pereira. Depois nos casos do Rúben Monteiro e do Léo Santos assim como do David acho que foi natural. As músicas já chamavam por eles à partida e foi só encaixar as peças. Com isto o que quisemos fazer foi também acrescentar outros timbres e tornar este disco especial, não apenas um registo do nosso trabalho mas sim um trabalho digno de registo.

PR - Já tiveram a oportunidade de apresentar ao vivo este disco. Qual tem sido o “feedback” do público?

Alma Menor - Tem sido curioso constatar a admiração com que as pessoas nos recebem, como se de verdade não esperassem que um acordeão e uma gaita de foles pudessem funcionar e “encher” uma sala. Acima de tudo temos sido surpreendidos com a quantidade de feedbacks honestos e super positivos, as pessoas de verdade ouvem o nosso disco, e não o revisam apenas. Temos gente que já conhece as músicas de cor, e aliás, temos histórias de pessoas, amigos que até sonham com as nossas músicas, o que não deixa de ser muito engraçado e revela que de facto há qualquer coisa que realmente fica. Sentimos claramente que esta sonoridade é para ser ouvida e vivida em ambiente intimista, e é ai onde nos sentimos realmente mais confortáveis e em casa.

PR - Numa frase como caracterizariam este “Em Tons de Aguarela”?

Alma Menor - Uma palete de sensações e sabores que bebe de várias fontes, é música com alma!

PR - Para terminar, estão felizes com o resultado final deste disco de estreia?

Tiago Marques - Enquanto músico, olhando sempre numa perspetiva de evolução, haverá sempre algo que faríamos de forma diferente. Também assumimos que este disco foi o culminar de uma etapa de encontro, descoberta e de experimentação entre dois instrumentos diferentes. Estou muito satisfeito e orgulhoso deste trabalho, mas já estou de olhos postos no próximo!

Tiago Morais - Normalmente não gosto de ouvir os trabalhos onde participo e acho que muitos músicas têm a mesma psicose, no entanto posso dizer que já ouvi este disco inúmeras vezes, o que representa para mim uma novidade, claro, mas acima de tudo um grande orgulho e realização pessoal com este trabalho. No entanto e como o Tiago Marques diz, já estamos a olhar ao próximo e a tentar perceber o que podemos fazer de diferente e de melhor.


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