17/05/2019

ALEN TAGUS | Discurso Direto


Nascido da associação inédita entre o músico português Charlie Mancini, pianista e compositor de música para cinema e a artista francesa Pamela Hute, melodista e roqueira de coração, Alen Tagus explora um universo musical repleto de imagens que convida à viagem. Uma viagem onírica que presta homenagem à narrativa cinematográfica. Charlie Mancini conheceu a música de Pamela Hute online e identificaram-se de imediato com o seu trabalho artístico. O processo de colaboração à distância começou com o tema “Time Passing By” do qual ficaram bastante satisfeitos e orgulhosos com o resultado e que recebeu vários elogios por parte da imprensa portuguesa, francesa e da comunidade online. No dia em que é editado o EP "Paris, Sines", são meus convidados em "Discurso Direto" Charlie Mancini e Pamela Hute

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu esta oportunidade para trabalhar com Pamela Hute ?

Charlie Mancini - Visto que gostei e identifiquei-me com o trabalho a solo da Pamela entrei em contacto com ela e enviei um tema que tinha concebido naquela altura. Passado pouco tempo a Pam trabalhou no seu estúdio adicionando bateria, guitarras, letra e voz. Foi uma enorme surpresa ouvir o resultado final da ´Time Passing By´!

Pamela Hute - O Charlie veio falar comigo e eu agradeço-lhe por isso!

PR - Como é decorreu este processo de colaboração à distancia – Paris, Sines?

Carlie Mancini - Este processo de colaboração à distância ainda está a decorrer! Continuamos a criar temas em conjunto que irão ser incluídos no segundo disco. O processo é simples: eu crio bases com o baixo elétrico, teclados e por vezes somo a essas ideias alguma percussão. A seguir envio as pistas separadas usando a cloud e a Pam cozinha a sua parte produzindo os temas. Este é um processo muito suave e prático, o que possibilita que ambos tenhamos tempo de amadurecer as ideias e ir propondo soluções. Esta é a forma que encontrámos para termos canções de realmente nos orgulhem.

Pamela Hute - Eu já tinha trabalhado nuns temas por email mas nunca ao ponto de fazer um EP completo. Como o Charlie diz, é um processo muito natural no nosso caso. Não andamos para a frente e para trás muito; concordamos em tudo muito rapidamente. Isso permite-nos trabalhar sozinhos, por isso é colaborativo porém ao mesmo tempo permitimo-nos ter espaço para nos expressarmos individualmente dedicando-nos à canção. Eu penso que é um processo criativo bem saudável.

PR - O titulo deste EP ecoa no filme de 1984, “Paris, Texas”. De que forma podemos relacionar este disco com a experiência desse mesmo filme?

Pamela Hute - Eu só vi o filme muito recentemente e pareceu-me óbvio que as nossas canções podem-se relacionar com as imagens deste filme. Espaços amplos, bares vazios, personagens coloridos, amor… Paris-Sines remete para o título do filme contudo não é a mesma coisa visto que o filme é sobre uma cidade chamada Paris, no estado do Texas e nós estamos a referir-nos a uma relação à distância!

Charlie Mancini - É uma excelente pergunta! O disco pode-se relacionar no ambiente cinematográfico que é sugerido a quem ouve a nossa música. O disco e o filme têm muito em comum: ambos focam-se em pontos de vista solitários… As canções são cantadas na primeira pessoa (como se fosse o próprio personagem Travis ou a Jane do filme de Wim Wenders) num tom confessional e deambulante. A Pam escreve sobre a dificuldade que por vezes há nas relações interpessoais e isso dá o mote para um piscar de olhos ao filme e a todo um imaginário de escapismo, existencialismo, de viagem permanente, da relação pai-filho, e de paisagens áridas… Isso está patente em momentos tensos e explosivos e outros mais contemplativos e serenos das canções do EP.

PR - Neste “Paris, Sines” explora também um universo musical repleto de imagens que convida à viagem. É de de alguma forma uma homenagem à narrativa cinematográfica?

Charlie Mancini - Sem dúvida, que da minha parte há sempre a paixão pelas bandas sonoras, pelo Design sonoro, pelo acompanhamento musical das imagens em movimento, até pelos próprios diálogos entre os personagens dos filmes. Há um universo musical muito ligado à força da imagem. Isso não é pensado para soar de uma maneira concreta. Simplesmente sai assim visto que são as referências que tenho enquanto espectador e músico acompanhador de cinema. A narrativa de ficção do cinema fica bem marcada nas letras que a Pam cria porque inspira-se nas histórias que os filmes contam e não só.

Pamela Hute - O Charlie escreve de uma forma natural temas para filmes. É uma influência forte e óbvio no seu background musical e as suas progressões harmónicas naturalmente disparam essas referências. O projecto é realmente construído à volta deste conceito; temos sempre imagens na cabeça quando compomos. As imagens podem dar uma grande dimensão à música e o oposto ainda funciona melhor. É algo interessante para explorar. Gostamos imenso de jogar com as referências e imaginação de quem nos ouve.

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste “Paris, Sines”?

Charlie Mancini - Pessoalmente gosto muito do primeiro single "Time Passing By". Tem ali uma matriz forte do som Alen Tagus.

Pamela Hute - Sim, esta canção é sem dúvida especial. Foi a primeira que fizemos e já lá estavam todos os elementos.



PR - Pertence a um nova geração revivalista do cinema mudo. Existe algum género predileto para as suas improvisações ao vivo?

Charlie Mancini - Existe sim. Gosto muito de musicar comédia pastelão (slapstick comedy) porque tem muita dinâmica e o público fica mais concentrado na narrativa apresentada no ecrã.

PR - Para terminar, em que medida a música ao vivo enriquece a experiência de visualização de um filme?

Charlie Mancini - Talvez seja 50% da experiência ou por vezes até mais. Um bom exercício pode ser ver os grandes clássicos da sétima arte sem som e apercebermo-nos que perdemos bastante do impacto emocional. No período do “cinema mudo” sempre houve música tocada na sala ou teatro e toda a pantomima dos actores ajudava bastante a levar a mensagem ou a contar a história projectada no ecrã. Acredito que só as imagens não chegam. O som e a música complementam -nas perfeitamente e fazem com que o cinema seja uma das grandes experiências a que a humanidade tem acesso.


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