06/12/2019

MADALENA PALMEIRIM | Discurso Direto


Não é sozinha que se faz uma casa feliz. Podia ser esse o nome da rua onde mora Madalena Palmeirim, cantautora e multi-instrumentista, que assina agora o seu disco de estreia “Right as rain”, que hoje é lançado. Um álbum com 12 canções originais cantadas em português, inglês e criolo, que reúne à sua volta intérpretes com bagagens muito diferentes, como Carlos Barretto, Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, MOMO., Miguel Bonneville e Sara Carinhas. Num mundo com cada vez mais paredes e divisões, a sala de estúdio tornou-se morada para diferentes encontros e para essa procura e partilha de diferentes linguagens. E porque nem sempre a chuva cai a direito, "Right as rain" teima em passear-se por diferentes territórios, passando pela morna, rock, folk ou samba. Gravado com o apoio à Edição Fonográfica da Fundação GDA, este é um disco caleidoscópico, emoldurado por uma dramaturgia de afetos. Hoje em "Discurso Direto" é minha convidada Madalena Palmeirim.

Portugal Rebele -  “Não é sozinha que se faz uma casa feliz”. É este o principio que norteia o seu disco de estreia?

Madalena Palmeirim - Diria que é um dos eixos centrais, sim, tanto no meu trabalho como na vida. Agora que penso nisso, sempre cresci rodeada de muitas pessoas e gosto do alvoroço que isso me traz. Acho que esse traço acaba por vir ao de cima neste primeiro trabalho, entre uma necessidade de exploração e outra de celebração. E como só se celebra realmente quando estás bem acompanhada, trouxe para ao pé de mim vários convidados – com quem me fui cruzando e trabalhando nestes últimos dez anos – para me ajudarem a vestir os diferentes temas. É sobretudo desses encontros com diferentes intérpretes, géneros e línguas, que este disco se faz.

PR - “Right as Rain” é um disco composto por 12 canções originais cantadas em português, inglês e crioulo. A que se fica a dever esta opção?

Madalena Palmeirim - Sempre tive esta vontade de cantar em diferentes línguas e espero em breve começar a juntar ainda mais, para além das três presentes neste disco. Acho que tem muito a ver com o facto de me permitir aproximar de um modo de compor através da palavra enquanto música. Sinto que, quando componho numa língua que não é a minha materna, por não ter um domínio absoluto, existe uma procura mais livre pelo som e mais descomprometida com o significado literal das coisas. Mas é também uma afirmação, um finca-pé na verdade, perante um mercado musical muito limitado. Na altura em que lancei o EP “Mondays”, já com canções em inglês e português, por várias vezes ouvi – por parte de produtores ou agentes – que deveria escolher e cantar numa língua apenas e isso foi algo que me chocou. Ou seja, numa lógica mercantil, reduz-se a identidade de cada um para mais facilmente embrulhar e etiquetar. É um problema que atravessa quem faz música e quem ouve. Mas com um pouco de atrevimento e insistência, espero que esse panorama comece a mudar.

PR - Este disco “passeia-se” por diferentes territórios, passando pela morna, rock, folk ou samba. Isto é fruto das diferentes partilhas que teve em estúdio?

Madalena Palmeirim - Não propriamente, antes de ir para estúdio os temas estavam pré-produzidos e já se passeavam assumidamente por diferentes géneros. Acho que mais do que em estúdio, essa variedade vem dos sítios que me têm inspirado musicalmente ao longo da vida, de uma forma mais ou menos inconsciente.

PR - “M´câ sabê” foi a canção escolhida para single de apresentação deste “Right as Rain” . Este é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste disco?

Madalena Palmeirim - Não sei se será o que caracteriza melhor o disco, mas talvez o que me caracterize melhor a mim, neste momento. A verdade é que tenho andado obcecada com a música cabo-verdiana, sobretudo desde que comecei a aprender a tocar cavaquinho. Também ajudou o facto de lá ter estado recentemente e ter percebido melhor o caldeirão musical de que eles são feitos. Portanto, sim, se o “espírito” deste disco se faz de diferentes encontros, a música cabo-verdiana – na estreita relação que tem com o fado, com o samba e com tantos outros lugares do Atlântico – acaba por melhor reflectir esse sítio de cruzamentos onde gosto de me perder.

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este álbum?

Madalena Palmeirim - Um álbum de afetos, feito de encontros.

PR - Para terminar, é certo como a chuva, que as canções deste disco serão muito em breve apresentadas no palco?

Madalena Palmeirim - Sim, estamos neste momento a preparar vários concertos com uma formação em quarteto e em breve já poderemos anunciar as datas. Aos meus instrumentos (voz, autoharpa, cavaquinho, piano e ukulele) juntei o David Santos (contrabaixo, baixo), o Manuel Dordio (guitarra acústica e eléctrica) e o Nuno Morão (bateria e percussão), mas no concerto de lançamento do disco podem esperar muitos mais convidados em palco também. Se é para festejar, é para festejar a sério.


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