20/04/2011

THE GLOCKENWISE | Discurso Direto

São uma das faces visíveis do rock, que "corre" em Barcelos. Os The Glockenwise, editaram muito recente o seu disco de estreia - "Building Waves"; o Portugal Rebelde, esteve à conversa com Nuno Rodrigues, um dos "filhos do tédio e do inconformismo", que em "Discurso Direto", agita as ondas do Rock´n´ Roll.

Portugal Rebelde - “Building waves”, lembra-me  a expressão “fazer ondas”. É esta a forma de estar na vida dos The Glockenwise?

Nuno Rodrigues - Fazer ondas não é necessariamente a forma de estar na vida, mas não há dúvida que uma vida recatada e excessivamente controlada não casa bem com as nossas personalidades. Dizer que este álbum reflecte a nossa maneira de estar é a mais sincera verdade, mas nós não estamos sempre a fazer ondas. Building Waves pareceu-nos o título apropriado para o tipo de impacto que gostávamos que o disco tivesse, bem como é sem dúvida essa a nossa pré-disposição (a de fazer ondas) sempre que entrámos em palco. Pode-se dizer que somos uns rapazes traquinas que regularmente gostam de meter a pata na poça, bem até ao fundo.

PR - Estão contentes com o resultado final deste disco?

NR - Quando se grava um disco já se entra no estúdio com uma espécie de ideia formatada do resultado final. É claro que este som idealizado é o sonho de qualquer músico, mas o produto final do trabalho de estúdio revela-se quase sempre ligeiramente distinto do que se imaginava. Depois de ouvir o disco um milhão de vezes já não o conseguia imaginar sequer com um som diferente do que ficou. Ficámos bastante satisfeitos e adorámos trabalhar com o Paulo Miranda.

PR - Numa frase apenas - ou duas - como caracterizarias este  "Building Waves"?

NR - Este álbum serve diferentes propósitos: gosto dele tanto para comer um gelado na praia como para beber um gin tónico com os amigos. O objectivo final é que é sempre o mesmo: que tudo seja divertido.

PR - Depois do disco, vamos ter oportunidade de ouvir as canções de “Building Waves”, no palco?

NR - Esta é apenas a segunda vez que entrámos em estúdio, o que significa que 99% da vida dos The Glockenwise gira à volta dos concertos ao vivo. Aliás todo o álbum foi vocacionado para os concertos ao vivo, é como se fosse uma “setlist”, só se muda uma ou outra música de posição. Com este disco queremos tocar o dobro do que temos vindo a tocar, por isso penso que não vão faltar oportunidades para se ver e ouvir este álbum em qualquer palco.

PR - Houve alguém que vos apelidou de “filhos do tédio, que aprenderam a contornar a sua condição e a transformar o inconformismo em algo mais”. Concordas?

NR - Concordo totalmente. Só quem cresceu num meio como o nosso é que pode genuinamente opinar sobre este tipo de espaços em que o marasmo está entranhado tão profundamente. A nossa vontade de sair não era muito diferente da que levou os portugueses a procurar o caminho das índias ou a emigrar, só que serviu propósitos totalmente diferentes é claro. O facto de haver tão pouco para fazer ou conhecer fez com que gestos tão simples como ver os Green Machine a tocar no Porto parecesse um salto monumental, e isso é claro que impressiona um miúdo de 15 anos. O tédio nunca foi para nós uma inspiração, foi antes o empurrão que faltava.

PR - Para terminar, Barcelos, vai continuar a ser”capital” do Rock em Portugal?

NR - Barcelos vai continuar a ser uma cidade cheia de músicos e pessoas activas e interessadas, com dezenas de bandas a surgir num curto espaço de tempo. Também vai continuar a ser a terra da falta de apoios, da má gestão, das fracas obras públicas e líderes municipais sem credibilidade. Eu deixo os títulos para quem os quiser dar. Coimbra também foi capital do rock e agora é a capital do “não se passa nada”. Eu vou continuar a amar Barcelos pelo que me motiva a lá regressar sempre que posso, e a odiar exactamente pelos mesmos motivos de sempre. Nunca vou esquecer é que se não fosse Barcelos as minha vida tinha sido muito menos divertida.

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