A Discrepant descobriu uma forma exemplar de fazer o português – e não só – olhar para a música portuguesa contemporânea. Cola-se a palavra “Antologia”. Cola-se a palavra “Antologia” como um truque, um engano, uma virtude do arquivo e da prospecção de olhar para o passado como uma coisa válida.
O presente não é antológico. Ou será? É nas “Antologia de Música Atípica Portuguesa”. O “atípica” é o que nos leva ao engano, ou, neste caso, à verdade. O “atípica” remete para o truque, desmascara a “antologia”, dá-nos o presente. Um presente composto por Síria (Diana Combo), Random Gods, Ondness, Filho da Mãe, Live Low, Banha da Cobra, Fantasma, Gonzo e Luís Antero. Nomes conhecidos, nomes desconhecidos, nomes que compõem um mapa da música contemporânea portuguesa, que se dispõem à electrónica, ao field recording, ao contacto com a tradição.
É uma típica colecção, uma forma de julgar a própria música, a própria sociedade. Uma forma, também, de colocar esta música noutro patamar: que se vê a ser portuguesa, mas que também se vê a ser tudo o mais. E talvez, por isso, até o “Portuguesa” pudesse ser uma falsidade.
Música do mundo, para o mundo, entre valsas que dançam com The Caretaker (“Por Riba”, Síria) ou “Malta Inquieta” (Ondness) que funde o jazz e a electrónica como só esperamos ver nos catálogos lá de fora. Mas hey, é cá dentro. Atípico é tropeçar nisto e não ficar encantado. Deleite.
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