05/06/2020

FERNANDO FERREIRA | "Mantenhas"


Fernando Ferreira edita hoje o álbum "Mantenhas".

"Na canção que abre “Mantenhas”, último álbum do surpreendente Fernando Ferreira, ouvimos o som de uma percussão. É um som que existe como porta de entrada para uma viagem que não sabemos onde nos leva, um som que nos habitua à estranheza de um caminho mesmo antes de sabermos se é sequer um caminho.

Tudo neste trabalho é um apelo.

À tolerância – porque cada uma das canções vive do enorme desafio de unir continentes, culturas e pele.

À liberdade – porque é um trabalho aberto ao mundo e à sua diversidade. Com a extraordinária capacidade de nos permitir alargar o mundo como apenas os africanos conseguem. Mas também com o talento de juntar às origens uma influência cosmopolita europeia.

A África de Fernando Ferreira, a que ouvimos nestas canções que agora apresenta ao mundo, é um continente quase metafísico. Vive da memória de si e de um lugar de felicidade, mas que não é um lugar exato, um bocadinho como se fosse uma refeição de infância, irrepetível, única e pura. De alguma maneira, “Mantenhas”, o mesmo que dizer “Saudação”, corresponde a uma procura mítica de uma pureza perdida, a procura de um mundo em que exista luz, campos abertos e uma ideia de felicidade – seja isso o que for.

Nestas magníficas canções estão as mornas e a coladeira, mas também a música dos portos do mediterrâneo ou o jazz. Estão a MPB e um fado que dificilmente é reconhecido sem escavação, trabalho para arqueólogos, viajantes ou sonhadores.

É um álbum de um homem sem pátria, mas que nunca será apátrida. Fernando Ferreira é o contrário disso, alguém que deseja carregar todas as pátrias que em si conseguirem caber. Ele próprio canta que “não amou por desejar o mundo inteiro”, num dos versos mais bonitos de “Mantenhas” da autoria do João Afonso.

Se na primeira canção uma porta se abre, na última exalta-se a vida com um final de festa que nos apela a que sejamos maiores, que nos chama para uma dança que, como o amor, nos poderá salvar das cinzas de um tempo cinzento e obscuro.

Para ouvir.

E guardar sempre que precisarmos de viajar sem bagagem, livres como as crianças. Desamparados num amparo de liberdade." (Luis Osório)


1 comentário:

Gabriela disse...

Ouvi por acaso , gostei e fui procurar.
Bela canção e uma voz magnífica com uma dicção perfeita.
Espero poder ouvir mais.
Gabriela F.Fernandes

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