05/02/2021

CARLOS DO CARMO | "E Ainda..."


Carlos do Carmo deixou-nos no 1.º dia de 2021. O país lamentou a partida de um dos mais importantes vultos da cultura Portuguesa, um dos maiores expoentes do Fado. O seu legado é imenso e a sua influência nas novas gerações vingará por muitas e muitas gerações de fadistas. E, como principal herança, deixou-nos um disco de inéditos. Um disco todo preparado por ele, com a exigência e dedicação que lhe conhecemos todos durante quase 60 anos de carreira. 

Apesar de ter edição póstuma, “E Ainda…” foi todo ele concebido e criado em vida. “E Ainda…” é, então, o último disco de Carlos do Carmo, com toda a carga histórica e simbólica que isso lhe imputa. Foi gravado ao longo de três anos e chegará às lojas fruto da intuição e da certeza de que “tinha coisas para cantar”, como referiu na entrevista incluída na edição deluxe deste disco. 

Sentiu que ainda não dispensava as palavras, sempre as palavras dos poetas e selecionou Hélia Correia, Herberto Helder, Julio Pomar, José Saramago, Vasco Graça Moura, Sophia de Mello Breyner e Jorge Palma e afadistou-os. “Para mim não faz sentido cantar o fado sem bons poetas”, disse. Com o Fado tradicional como fio condutor, em “E Ainda…” também se ouve a música de Victorino D’Almeida, Mário Pacheco, Paulo de Carvalho e José Manuel Neto. 

Editado em vários formatos – em digital, em edição standard em Jewel box com 2 CDs (o álbum de originais e o registo ao vivo dos Coliseus de 2019), edição deluxe, digipack de capa rija, exclusivo Fnac que, para além dos 2CDs inclui ainda um DVD com o concerto do Coliseu de 2019 e imagens inéditas da gravação em vídeo, ensaios e entrevista com o artista e em vinil (o disco de estúdio) – “E Ainda…” já se encontra disponível em pré-venda na Fnac e no iTunes. “E Ainda…” surge 13 anos depois de “À Noite”, o último álbum de fados acompanhado à guitarra, 8 anos depois do último álbum de originais, numa parceria com Maria João Pires, acompanhado ao piano. 

Pelo meio, ainda vieram o disco com Bernardo Sassetti, igualmente acompanhado ao piano, onde cantou originais e versões de temas de outros artistas e “Fado é Amor” onde revisitou temas da sua carreira ao lado de toda uma nova geração que o tem como mentor e referência no fado. 

No concerto do Coliseu dos Recreios, em 2019, o último concerto que deu, na celebração dos seus 80 anos de idade sala, Carlos do Carmo desfiou memórias, revisitou uma carreira que teve o supremo condão de popularizar o fado junto de um público alargado que cresceu a ouvir ‘Os Putos’, ‘O Cacilheiro’ ou ‘O Homem das Castanhas’, ‘Lisboa Menina e Moça’, ‘Um Homem na Cidade’ ou ‘Canoas no Tejo’. Esse e este momento são também o de celebração de toda uma vida a trazer ao fado a quem dele desconfiava, a mostrar o fado a quem o desconhecia, a mostrar ao mundo como Portugal tinha uma canção que nasceu nas ruas e sempre as soube cantar. Obrigada, Carlos do Carmo.

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