1982. A companhia Sinclair Research lança o ZX Spectrum. Com uma resolução gráfica de 256 por 192 pixéis e apenas 8 cores de base - mais 7 com variações de brilho -, este microcomputador converteu muitos ecrãs de televisão em autênticos portais para mundos distantes e fantásticos. É sobre esta memória pixelizada dos anos 80 que se ergue o universo sonoro e visual do álbum "1982" dos Soturno Saturno, um coletivo de Lisboa formado por Pedro Mateus e João Loff no imaginário musical, Luís Silva no conceito gráfico e com colaborações de Bruno Dante e Tiago Mota.
Em 1982, sob uma matriz fundamentalmente eletrónica,
a repetição mecanicista alicerça derivações
contemplativas sobre a vastidão fria do cosmos.
Gravitamos em torno da tríade espaço-homem-máquina, na
qual somos só uma peça, o meio para atingir o fim.
Entre o analógico e o digital, na sonoridade de 1982
nada resta de orgânico, não há oxigénio e nem sequer
uma voz lhe empresta algum calor, Humanidade.
Uma
singular paleta de sons completa a experiência. O
resultado é uma música-máquina que sente, uma espécie
de instrumento síncrono com a entropia e por isso mais
adequado a medir o tempo do que o relógio que,
indiferente, pousa segundo sobre segundo. Os trechos
sonoros de "1982" são como destroços coesos numa paisagem
imersiva, estruturas hipnóticas e opressivas que
parecem ruínas de um futuro distópico desenhado no
passado recente.
Com um som espacial que emergiu das margens barrentas
do Tejo, "1982" poderia sonorizar um jogo de ZX Spectrum,
ser a banda sonora de um filme sombrio de John
Carpenter ou acompanhar viagens pela psique e pelo
espaço-tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário