03/08/2022

SOTURNO SATURNO | "1982"


1982. A companhia Sinclair Research lança o ZX Spectrum. Com uma resolução gráfica de 256 por 192 pixéis e apenas 8 cores de base - mais 7 com variações de brilho -, este microcomputador converteu muitos ecrãs de televisão em autênticos portais para mundos distantes e fantásticos. É sobre esta memória pixelizada dos anos 80 que se ergue o universo sonoro e visual do álbum "1982" dos Soturno Saturno, um coletivo de Lisboa formado por Pedro Mateus e João Loff no imaginário musical, Luís Silva no conceito gráfico e com colaborações de Bruno Dante e Tiago Mota. 

Em 1982, sob uma matriz fundamentalmente eletrónica, a repetição mecanicista alicerça derivações contemplativas sobre a vastidão fria do cosmos. Gravitamos em torno da tríade espaço-homem-máquina, na qual somos só uma peça, o meio para atingir o fim. Entre o analógico e o digital, na sonoridade de 1982 nada resta de orgânico, não há oxigénio e nem sequer uma voz lhe empresta algum calor, Humanidade. 

Uma singular paleta de sons completa a experiência. O resultado é uma música-máquina que sente, uma espécie de instrumento síncrono com a entropia e por isso mais adequado a medir o tempo do que o relógio que, indiferente, pousa segundo sobre segundo. Os trechos sonoros de "1982" são como destroços coesos numa paisagem imersiva, estruturas hipnóticas e opressivas que parecem ruínas de um futuro distópico desenhado no passado recente. 

Com um som espacial que emergiu das margens barrentas do Tejo, "1982" poderia sonorizar um jogo de ZX Spectrum, ser a banda sonora de um filme sombrio de John Carpenter ou acompanhar viagens pela psique e pelo espaço-tempo.

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