29/05/2007

T. DO COMÉRCIO | DISCURSO DIRECTO

Dezassete anos depois dos "Sermões a todo o Rebanho", os Trabalhadores do Comércio estão de regresso aos discos, melhores do que nunca.
O Portugal Rebelde esteve à conversa com Sérgio Castro para nos explicar este feliz regresso aos discos dos Trabalhadores do Comércio, "Iblussom/Compilatóriu". Aqui fica o registo da nossa conversa.
Binde ber istu...
Portugal Rebelde - Depois dos "Sermões a todo o Rebanho", passaram 17 anos. A que se ficou a dever este regresso aos discos?
Sérgio Castro - Simplesmente a uma vontade enorme, por parte dos 5 Trabalhadores originais de pôr em disco uma quantidade de trabalho desenvolvido ao largo dos últimos 10 anos. Em 95, quado tocámos no Coliseu, para engrossar a oposição à IURD na sua tentativa de compra da sala para transformá-la em mais um centro de atracção de incautos, descobrimos que a banda estava absolutamente apta e com grande força. Realmente o público ajudou nessa descoberta, tal foi a reacção à nossa actuação. Aliás essa tem sido a tónica geral nos últimos 11 anos, sempre que subimos a um palco. Espero que continue assim. Entretanto nesse mesmo ano a Polygram tinha sacado "O Milhor dos Trabalhadores" uma colectânea cronologicamente confeccionada por mim, que se esgotou e teve segunda edição no ano seguinte. Em 96, entramos em estúdio e versionamos Frank Zappa, pela primeira vez com o "Nel Ligeiro" (Bobby Brown ao bom estilo nortense) e também nos versionamos a nós própios, como sempre gostámos de fazer, neste caso com a versão funk, super dançável do "Taquetinho ou lebas nu fucinho’"(vamos subir o vídeo ao YouTube). Esta nova edição do "Milhor...", para além de nos pôr na estrada nesse ano e no seguinte, abriu-nos o apetite de compor. Está bem explicado na "Selibe Noute"do IBLUSSOM – para quem conseguir ler.
P.R - Os Trabalhadores do Comércio marcaram a década de 80 com a sua música. Numa das canções deste disco dizes. "Us anus 80 fôram mais conturbadus, mas indolhu p´ra eles i sintusollhus mulhadus". Ainda sentes saudades dessa década?
S.C. - Não, realmente não tenho tendência de olhar para trás e, até porque a memória já não ajuda, já me esqueci de muitas coisas curiosas e divertidas que aconteceram nessa época. Gosto de viver o presente e, nos tempos que correm o futuro é logo á noite e, com um pouco de sorte e "hard work", talvez amanhã. E isto não é, nem por sombras pessimismo. É só ter consciência do "lodo" em que todos estamos metidos no planeta. Literalmente, principlamente se continuar a chover da forma que ultimamente tem ocorrido. Simplesmente, nesta canção, o protagonista é saudosista. Foi talvez a forma que enconteri de a ligar a outra dessa época – "Balsamo pra um jugadôre" – onde "Iblussom" foi "pedir" emprestada a harmonia. Um pouco como nos filmes, a segunda entrega da saga.
P.R. - Que "Iblussom" sofreram os Trabalhadores do Comércio em 2007?
S.C. - O público é que tem que tirar essa conclusões. Nós podemos ajudar dizendo que amadurecemos – isso está bem patente – tanto a nivel de composição, como de execução e até de produção, ao que não é alheia a intrevenção do Nuno Meireles, um jovem productor nortenho com amplos créditos nesta indústria. Também ganhámos mais compositores no seio da própria banda. Talvez a mais notável das evoluções tenha sido a do João Medicis, se atendermos a que no último álbum de originais, "Sermões a todo rebanho" (gravado em 1989 e publicado em 90), ele andava ainda a experimentar se ia enveredar pelas teclas (frequentava nessa altura a Escola de Jazz do Porto), o baixo ou a guitarra. Creio que fez a opção certa e hoje é um excelente guitarrista que enriquece enormemente a sonoridade dos Trabalhadores.
P.R. - Para além de "Iblussom", este novo trabalho traz um "Cumpilatóriu" com as grandes canções dos Trabalhadores do Comércio. Este trabalho, justifica a edição do "Cumpilatóriu"?
S.C. - Nunca nos passou pela cabeça editar o ‘Cumpilatóriu’. Realmente sempre que avançávamos a ideia um novo disco e alguém nos propunha uma colectânea, soava a pouco menos do que insulto e não poucas vezes nos "zangámos" com o ideólogo em questão. Iblussom foi pensado, gravado e masterizado como álbum de 13+1 temas e sem nada mais que um excelente "embrulho" a acompanhá-lo – a capa e livrinho confeccionados pelo Carlos Pigma com página central do Rui Azul. Foi entretanto a Farol, que nos propôs mostrar ao mundo mais jovem" a nossa obra discográfica mais relevante. O que fizemos foi gravar ao vivo as versões actualizadas de alguns desses temas e integrar com elas um segundo CD. Embora isso tenha atrasado a saída do álbum, agora parece-me ter sido uma ideia positiva.
P.R. - Este novo disco partilhado com alguns "convidados de luxo". Fala-os um pouco da "Iblussom" desses músicos, na realização deste trabalho.
S.C. - Nada de metafísico ou interplanetário. Simplesmente no nosso rol de amigos, como é natural dado que estamos nesta indústria da Arte/Cultura/Música, a imensa maioria são músicos como nós. E como se costuma dizer 'os amigos são para as ocasiões' e não vimos melhor ocasião que a da gravação de "IBLUSSOM" para reunir muitos deles e desafiá-los a participar. Acima de tudo pensámos que deviam ser eles próprios e propusemos-lhes participações que respeitavam integralmente os seus respectivos estilos e/ou tendências. É algo inovador, pelo simples facto de que só os Trabalhadores fazem álbuns com tanta diversidade como IBLUSSOM, que, por conseguinte pode aglutinar tão distintas colaborações sem perder a coerência. A coerência à Trabalhadores, claro.
P.R. - "Iblussom" é mais que um disco à moda do Porto?
S.C. - Iblussom é Música, Arte, Cultura, Amizade, Envolvimento, Profissionalismo, Actitude, Segurança, Vontade, Coragem, Entrega, Risco, Humor, Seriedade e Prazer. Repara que a todas lhes pus maiúscula, dada a iportância que têm nas nossas vidas e na nossa "filosofia"
P.R. - Numa palavra, como defines "Iblussom".
S.C. - Actual.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adoro os Trabalhadores. Quem não gosta?
Tipicamente portuenses :)

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