30/08/2007

AZEVEDO SILVA | Discurso Directo

É apontado por muitos como uma das revelações de 2007, a "paixão" pela música é o que o faz correr o país de norte a sul com "Tartaruga" debaixo do braço, um disco recheados de canções simples, com histórias dentro. Durante este ano deu passos "gigantes" para se afirmar como cantautor. Minhas senhoras e meus senhores...Azevedo Silva!
Portugal Rebelde - Quando é que sentiste a necessidade de criar o teu projecto musical?
Azevedo Silva - Esta ideia sempre esteve presente. Antes de ter bandas compunha sempre sozinho e, mesmo estando envolvido noutros projectos, continuei a ter este tipo de “actividade paralela”. Ganhou mais relevo quando comecei a apresentar os temas a solo, ao vivo. Isto coincidiu também com o período em que os Madcab se encontravam em estúdio a começar a gravar o disco de estreia. Lembro-me de tocar a “Charlie” (tema do meu EP de estreia, Clarabóia) para o nosso produtor numa daquelas noitadas em que ficávamos 10 horas seguidas na sala de gravação, sem dormir, praticamente sem comer e sem ouvir algo mais que os temas que tão bem conhecíamos e dos quais estávamos “fartos”. E esse momento foi bom e deu vontade de registá-lo. E assim foi. Não senti necessidade de fazer algo diferente de Madcab mas apenas necessidade de também fazer algo que tanto me dizia.
P.R. - Quais são as tua principais referências musicais?
A.S. - Tenho 3 referências portuguesas que gosto sempre de enunciar: José Afonso, Carlos Paredes e José Mário Branco. Sinto-me ligado a eles pela força de revolta que representaram. Esta pergunta incomodava-me nas primeiras entrevistas que dei, há uns 4 anos, com os Madcab. Hoje percebo que a questão das influências é muito mais do que ouvires este ou aquele grupo e sentires que te identificas com o que eles fazem. É a vida que te rodeia, são as experiências, os amigos, as viagens, os concertos, as desilusões, as alegrias. É muito mais que dizer: “Epá, gosto mesmo daquela banda”. E nesse aspecto, penso que, tanto a Clarabóia como a Tartaruga, são duas experiências muito mais influenciadas por essas vivências que, felizmente para mim, têm sido intensas.
P.R. - Lisboa é a "musa" inspiradora das canções que escreves?
A.S. - Lisboa é a cidade onde me movimento com mais frequência e, ao deixar-me influenciar criativamente pelo que me rodeia, é fácil concluir que é desse ponto que parte grande parte da inspiração. Não vou para Lisboa sentar-me nas ruas a escrever mas ir uma noite ao Bairro Alto, visitar o miradouro da Graça, lembrar-me da Feira da Ladra ou andar pela Mouraria…são motivos suficientes para pensar na cidade, no quotidiano das pessoas, na vida. É uma cidade com História e que me encanta. Talvez por isso me decepcione ver as ruas de Lisboa quase sempre vazias. Faz-me confusão. Talvez seja bom para os momentos em que nos queremos sentir isolados, sem ter o barulho de muitos transeuntes pela cidade. De resto, só está cheia em feriados religiosos, nos Santos Populares ou numa qualquer conquista futebolística.
P.R. - Durante este ano, já percorreste o país de norte a sul. Como é que o público tem reagido às tuas canções?
A.S. - Tirando uma ou outra excepção, fui sempre muito bem recebido pelo público. Não tenho mesmo queixas nenhumas. Falando um pouco dos concertos fora de Lisboa, onde praticamente jogo em casa, as passagens por Braga, Porto e Vila Real foram sempre muito boas e especiais. Ainda há pessoas a tentar conhecer a Tartaruga e outras que nem sequer conhecem a Clarabóia. E apesar de ter dado mais de 20 concertos de Março a Agosto, acho que ainda fui a poucos locais. Tenho de viajar mais! E penso que é isso que farei, se tudo correr bem.
P.R. - Começaste devagar, com passos pequenos e firmes. Primeiro com a demo "Clarabóia", mais tarde com a edição de "Tartaruga". Sentes que 2007, é o ano da tua afirmação?
A.S. - Posso dizer que está a ser um dos melhores anos da minha vida. Aliado ao trabalho que desenvolvo na Rádio Zero, consegui lançar o disco com os Madcab, lancei o meu disco a solo, nunca dei tantos concertos num ano, tenho viajado bastante e conhecido muita gente, ajudei a formar a editora Lástima e as perspectivas são para que continuem a acontecer coisas boas antes de 2008. Quando penso na Tartaruga e nas críticas altamente positivas que têm feito ao disco, fico maravilhado.
P.R. - "Tartaruga" é um disco que não teve edição "física", está disponível para dowload gratuito através da netlabel "Lástima". O futuro da (tua) música passa por aqui?
A.S. - Essa é a parte que muita gente desconhece. A Tartaruga tem uma edição física mas que não está à venda nas lojas. Mas sim, tenho o download gratuito para partilhar a minha música livremente. Vender CD’s não é um objectivo primordial. Fiz a edição física para quem gostar de ter algo mais representativo. Quanto às minhas edições, e tirando a hipótese de haver uma grande novidade em termos de editoras, continuarei a disponibilizar a minha música via Lástima, que é muito mais do que uma simples netlabel. Não sei se outros artistas começarão a disponibilizar o seu trabalho gratuitamente. Em Portugal já há outras editoras a operar dessa maneira. Mas em relação à questão do CD, penso que tem os dias contados. E a indústria tem noção disso. Talvez a música esteja a voltar a ser algo que parte directamente da pessoa que a compõe para quem a quer ouvir. Sem intermediários. Isso seria interessante. Não seria uma partilha frutuosa?
P.R. - Tens a noção de quantas pessoas já "descarregaram" o álbum "Tartaruga"?
A.S. - Sim. De momento já ultrapassou os 3000 downloads e, para meu espanto, não é uma lista feita exclusivamente de portugueses. Com a Clarabóia já tínhamos tido uma reacção excelente ao desafio do download gratuito e esta divulgação parece estar a correr ainda melhor. Ainda continuam a sair críticas e penso que o número de downloads vai continuar a crescer, lentamente. Agora em Setembro vai sair um artigo sobre os meus trabalhos numa publicação espanhola que também é distribuída na América Latina. Com alguma sorte, são mais umas pessoas que passam pelo site.
P.R. - És apontado por muitos como uma das revelações de 2007. Como é que te sentes nesse "papel"?
A.S. - Sinto-me bem. Reparaste como esse “título” teve a capacidade de fazer desaparecer a réstia de humildade que tinha?Não sei, não é algo em que pense. Tenho recebido várias críticas positivas em blogs e sites, o Henrique Amaro também elogiou bastante o meu trabalho, muita gente me dá os parabéns no final dos concertos e tudo isso sabe muito bem. No entanto, acho que ainda há um longo caminho a percorrer. Vou tentar perguntar ao Moz Carrapa e ao José Jorge Letria o que pensam do meu disco. Com um bocado de sorte consigo ter a opinião do José Mário Branco e aí talvez me consigam realmente convencer. Até lá, vou continuar a compor os meus temas calmamente.
P.R. -O que separa os "Madcab" do teu projecto?
A.S. - Em vez de pensar no que me separa dos Madcab, e penso que isso é apenas em termos sonoros, acho que há um factor importante que me liga aos dois projectos que é a paixão pela música. Liga-me a mim e aos amigos que tenho na banda. Lamechas. Sim, eu sei.

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