19/09/2007

RÁDIO FAZUMA | Discurso Directo

«É Dreda Ser Angolano» é uma ideia da Rádio Fazuma, um colectivo com um grande Amor a África e à música. O Portugal Rebelde esteve à conversa com Pedro Costa, para conhecer a Rádio Fazuma e a música Angolana.
Portugal Rebelde - Antes de mais, o que é, e com que objectivos nasceu a Rádio Fazuma?
Pedro Costa - De forma simplificada, é um grupo de pessoas que se juntou para comunicar em rádio, tv, foto, roupa, web, música e tudo o que vier. Na sua génese está o amor por África e uma necessidade de ter um mundinho em que a positividade e a pureza das coisas prevaleçam. Sem rótulos, credos, cores ou geografias definidas. Mas com uma atenção especial à lusofonia.
Portugal Rebelde - O disco "É Dreda ser Angolano", é o "espelho" da música Angolana?
P.C. - Não. É uma das caretas que se podem fazer. Sem grandes adereços ou perucas : ) Faz parte desse espelho. É uma parte que não se ouve na rádio nem se vê na Tv, mas que não é obscura nem desconhecida pelas pessoas que vivem em Angola. Alguns destes artistas são populares ao ponto de já não se poderem nomear de artistas de culto, ou artistas do underground. Vendem milhares de discos legais e piratas. São o espelho de uma geração conciente que existe no Hip Hop, mas também no Kuduro. É uma parte da musica Angolana que, procura retratar e alertar para a realidade da vida da maioria dos seus habitantes, e que fá-lo naturalmente. Sem agenda política ou comercial.
P.R. - A idéia deste disco também passava por transportar para a música as "ruas de Luanda"?
P.C. - Sim. Mas não no sentido que damos às ruas da Europa. Estilo musica do gueto. Aliás, são os ricos que vivem no gueto em Luanda. Não andam na rua.E nesse sentido, sim, é música das ruas, das pessoas, de uma boa parte de Luanda. Uma cidade onde 99% dos habitantes vivem o seu dia a dia, a andar a pé e de kandongueiro (taxi) em condições muito difíceis. Onde, por exemplo, as crianças não vêm os seus direitos à saúde e a educação respeitados. É nesses momentos e é nesse ambiente que se pode ouvir o que é retratado pelos artistas neste cd. É aí que está a inspiração para fazer a música que ouvimos no cd.
P.R. - "É Dreda ser Angolano", vai ser a banda sonora de um documentário sobre Angola, que estão a produzir. Fala-nos um pouco dessa "aventura"?
P.C. - É. Começou depois de ouvirmos o disco dos Ngonguenha. Na altura sentimos a necessidade de o mostrar a toda a gente. Porque ouvimos um disco incrível, com o qual houve uma identificação imediata, e vimos um retrato de Angola como ninguém tinha feito. Mas ao mostrar o disco a outras pessoas, sentimos o obstáculo do desconhecimento da realidade retratada, e de alguma linguagem usada, que não permitiram ao disco ter o reconhecimento imediato que mercia. O desafio seguinte seria fazer um video do "Dreda Ser Angolano", com imagens captadas em Luanda, para haver uma associação às palavras. Pedimos uma Cam emprestada ao César e o Luaty filmou tudo o que lhe apareceu à frente. No final sentimos que das 12 horas de filmagem podíamos fazer uma coisa : ) Um mambo tipo documentário. Ainda está a ser acabado nas calmas : )
P.R. - A música Angolana é mesmo "Dreda"?
P.C. - É muito dreda! Mesmo. E Portugal tem a obrigação de se abrir e descobri-la de coração aberto, antes de outros países mais distantes culturalmente o fazerem (E eles vão descobrir : ) E a história repetir-se né? : ) Apontem aí: MCK, Ikonoklasta, Conductor, Keita Mayanda, Leonardo Wawuti, Phay Grand, Flagelo Urbano, Turbantes, Nastio, entre muitos outros. Nomeadamente o caldeirão de Kuduro sempre a ferver. Para além dos músicos há muitos personagens de outras formas de expressão artística. Há muita criatividade : )

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