26/10/2007

PEDRO JÓIA | Discurso Directo

Depois de uma bem sucedida experiência em volta da obra de Carlos Paredes, Pedro Jóia voltou-se agora para a obra do compositor Armando Freire Salgado, num mundo da música conhecido por Armandinho. "À Espera de Armandinho", traz um conjunto de 12 temas interpretados a solo com uma mestria única, onde a magia da guitarra clássica de Pedro Jóia celebra a guitarra portuguesa. O Portugal Rebelde, esteve à conversa com Pedro Jóia e revelha-lhe agora os segredos do "mestre" ao dedilhar a guitarra clássica.

Portugal Rebelde - Como é que surgiu a idéia de recriar a obra de Armandinho, o "pai" da guitarra de Lisboa?

Pedro Jóia - A guitarra portuguesa sempre me cativou bastante. É um instrumento muito peculiar e que traduz, como não poderia deixar de ser, a alma de Lisboa e o seu legado histórico-musical, que é fruto de muitos cruzamentos ao longo dos séculos. Armandinho foi o primeiro grande guitarrista de Lisboa a reunir evolução técnica, génio criativo e protagonismo, que lhe reservaram um "lugar ao sol" na história do fado do século XX.

P.R. -Para homenagear o "mago" da guitarra de lisboa, o Pedro teve de realizar um estudo profundo, que foi muito além da música de Armandinho. Quer falar-nos um pouco desse trabalho?

P.J. - Quando tive acesso às "gravações inglesas" que Armandinho realizou no Teatro S. Luiz em 1828-29, pude entender melhor a dimensão do músico e, por inerência, do homem inteligente e sensível que ele foi. Recolhi, graças à Dra. Sara Pereira, entre outras pessoas, materiais de época, como entrevistas, fotos e comentários do próprio Armandinho, que me permitiram conhecer melhor o homem e as suas motivações e ideias.

P.R. - "À Espera de Armandinho" é um disco em que a guitarra clásica celebra a guitara portuguesa?

P.J. - Sim, mas de uma forma que pretende traduzir com o rigor possível as suas nuances e dinâmicas próprias. É um trabalho de transcrição feito por um artesão que não pretende mais que reproduzir um instrumento, utilizando outro diferente.

P.R. - A guitarra portuguesa é um instrumento que o apaixona?

P.J. - Sempre me apaixonou em todas as suas expressões. Lisboa e Coimbra.

P.R. - Viveu durante três anos no Brasil, onde trabalhou com alguns dos mais prestigiados músicos brasileiros, com destaque para Ney Matogrosso. Que enriquecimento lhe trouxe à sua música, essa experiência?

P.J. - Foram praticamente quatro anos em que convivi e dividi palcos com músicos muito distantes do meu universo musical e que me enriqueceram bastante musicalmente - outras concepções musicais e técnicas - e onde fiz bons amigos.

P.R. - No libreto do disco "À Espera de Armandinho", Camané escreveu: "Este é realmente um dos trabalhos da autoria de alguém «fora do fado» que mais dignidade lhe deu". Esta é a melhor homenagem que lhe podiam fazer?

P.J. - É um comentário feito por um dos cantores que mais fado respira. Isso para mim é muito importante. Chegar ao âmago do fado é um verdadeiro reconhecimento por este meu trabalho.

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