Enquanto fundador e responsável pela editora Merzbau (uma das pioneiras no registo net-label em Portugal, e casa que descobriu nomes como Lobster, B Fachada, Noiserv, Frango ou Walter Benjamin), Tiago Sousa mostrou sempre uma atenção à novidade e um posicionamento sem fronteiras de estilo ou de linguagem.
A Merzbau, entretanto extinta, cumpriu com sucesso a sua missão – Noiserv já chegou ao Coliseu de Lisboa, B Fachada, integrado entretanto na família Flor Caveira, já chegou a todo o lado. Eis-nos em 2009.
A Merzbau chega ao fim com a sensação de dever cumprido. Tiago Sousa, entretanto, assume uma surpreente carreira a solo, com os discos "Crepúsculo", "Noite", e "The Western Lands".
Supreendente, porque, apesar de assinalada abrangência estética que demonstrou enquanto editor, nada indiciava a direcção que a sua própria música tomava.
Longe da pop de Noiserv, de B Fachada, dos Jesus, The Misunderstood ou de Mariana Ricardo, mas igualmente nos antípodas do experimentalismo dos Frango ou do rock ruidoso e musculado dos Lobster ou Lemur, a música de Tiago Sousa reflecte a referência de figuras de vulto na música erudita, assumindo, porém, um médodo criativo guiado pela intuição e pela espontaneidade.
As emotivas e simples melodias que nesses discos desenhou, sobretudo ao piano, evocam não tanto a sua vivência desse notável caldeirão que é a música portuguesa facção indie ou experimental dos últimos 5 anos, mas muito mais a descoberta de mestres da música moderna e contemporânea, como Erik Satie, Terry Riley, Robbie Basho, Federico Mompou, ou Olivier Messiaen, e a leitura das obras marcantes dos prolíficos escritores da geração Beat, dos testemunhos políticos de H.D. Thoreau e dos Situacionistas e da distante filosofia oriental.
Chegamos a "Insónia", terceiro álbum na discografia de Tiago Sousa - editado pela alemã Humming Conch. Álbum que vive quase exclusivamente do piano, com aparições de bateria ou de clarinete, cortesia dos músicos convidados João Correia e Ricardo Ribeiro.
"Insónia", gravado no início deste ano por Geoffrey Mulder e masterizado pelo músico Taylor Deupree, conhecido pelo seu trabalho na editora 12 Rec, é, simultaneamente, o disco que esperava (ou que se esperava de) Tiago Sousa, mas é também uma surpresa.
É, por um lado, o culminar do trabalho que Tiago tem vindo a apresentar, mas é também uma surpresa na medida em que nada parecia, de certo modo, poder prever um disco tão conseguido na sua força emocional.
A segurança das suas deambulações marcadamente impressionistas com ecos de Debussy ou de Chopin e o savoir-faire que faz de pequenas e simples melodias hinos acabados de meditação e recolhimento mostram que este é um disco nocturno, sim, mas com um vigor matinal que se materializa na propulsão imparável de um tema como "Passos", e se pressente nos andamentos do single "Folha Caduca" ou do tema de abertura "Movimento".
A partir de 16 Novembro, "Insónia", estará disponível para o público. No dia 04 Dezembro há Concerto de apresentação na Galeria Zé Dos Bois, em Lisboa.
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