20/03/2010

SALWA CASTELO-BRANCO | Discurso Directo

"Música é vivência. Encontro de gentes e tribos, mistura de antigo e profano, sempre em mutação e redescoberta de novas fronteiras. Em busca do século XX português, uma equipa de especialistas em Etnomusicologia fez uma inédita recolha das bandas, etiquetas, instrumentos, estilos, intérpretes, músicos e compositores que marcaram todo um tempo e forma de estar. Sob a direcção científica de Salwa Castelo-Branco, esta é a primeira obra a reunir todo o século XX português de forma tão completa e apurada. Da definição de kizomba ao jazz, do fado à pop, do popular ao erudito, pode-se encontrar nesta enciclopédia toda a informação existente de forma sistematizada". O Portugal Rebelde, esteve recentemente à conversa com a Professora Salwa Castelo-Branco, que nos deu a conhecer a Enciclopédia da Música em Portugal no séc. XX, uma feliz e oportuna edição do Círculo de Leitores.
Portugal Rebelde - Depois de uma década de trabalho de investigação, sente que é esta a obra que faltava, para melhor conhecermos a nossa música?
Salwa Castelo-Branco - Sem dúvida. É notória a escassez de estudos científicos em torno da música no país em qualquer época, sobretudo evidente no último século. A parca literatura que existia antes da elaboração da EMPXX centrava-se sobretudo na música erudita, no fado e na música de matriz rural. A falta de publicações sobre música é particularmente evidente no que toca a obras de referência. Na verdade,não existe em Portugal uma obra de referência actualizada sobre música. Desde a última década do século XIX, foram editados três dicionários: o Dicionário Musical (1890), o Dicionário Biographicode Músicos Portugueses (1900) ambos de Ernesto Vieira e o Dicionário de Música, em dois volumes, de Tomás Borba e Fernando Lopes-Graça (1956 e 1962). Focando essencialmente a música erudita – no último caso, nacional e internacionalmente -, são hoje obras de interesse sobretudo histórico. Por outro lado, a Enciclopédia da Música Ligeira, dirigida por Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida (1998), apenas se centrou numa parcela da produção musical em Portugal.
PR - Em que tipo de trabalho se inspirou para lançar este projecto?
SCB - Nas melhores obras de referência sobre música em que também participei como redactora, nomeadamente: The New Grove Dictionary of Music and Musicians, Garland Encyclopedia of Music,Die Musik in Geschichte und Gegenwart (MGG). Além disso, a Encyclopedia of Music in Canadatambém forneceu um paralelo interessante.
PR - O 1º Volume da Enciclopédia vem acompanhado de um CD ("Breve viagem pela Emissora Nacional, 1938-75"). Para além da informaçãoregistada na Enciclopédia, foi sua intenção divulgar um património musical que, não está disponível ao público?
SCB - Sim claro. É muito importante conhecermos o nosso património musical que é muito rico e diversificado.
PR - Podemos afirmar, que depois desta obra, as Ciências Musicais não vão ser as mesmas?
SCB - A EMPXX é a maior obra musicológica realizada em Portugal. O conhecimento produzido representaum avanço substancial no estudo da música no país, inaugurando novas abordagens e terrenos de pesquisa, e apontando pistas para a investigação no futuro.
PR - Consegue identificar alguma marca, algo que independentemente das diversas expressões musicais, nos identifique como povo?
SCB - O contacto prolongado que Portugal teve com diversos povos sobretudo dos PALOP e o Brasil, mas também com os povos de outros países europeus e do norte de África contribuiu para enformar a cultura e música portuguesas.
PR - Terminada a investigação e escrita a Enciclopédia, que retrato faz de Portugal?
SCB - Em termos musicais, o pais é muito rico e diversificado.

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