30/04/2010

FAUSTO | Casa da Música

Um dos autores fundamentais da Música Popular Portuguesa, Fausto Bordalo Dias, estreia-se na Casa da Música no espectáculo de encerramento do Festival Música e Revolução.
Brilhante criador, inspirado renovador de tradições musicais e poéticas, fascinante (re)contador de histórias e desenhador de história, Fausto revelou-se como cantor em 1968 e teve um importante papel político e cultural na resistência aos últimos anos do fascismo e no processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril de 1974.
Após um disco de acentuadas influências anglo-saxónicas, a sua verdadeira estreia acontece com o LP P’ró que Der e Vier, de 1974. Por esta altura, já Fausto tinha contactado com o movimento da balada e com a chamada “nova canção”.
Portugal vivia o período revolucionário e esse álbum, juntamente com Um Beco com Saída, testemunha o conturbado momento político, social e cultural do país.
Mas a sua obra de mais firme maturidade só chegaria em 1982 com o duplo LP Por Este Rio Acima, que surpreendeu o público com uma proposta originalíssima.
Experimentando uma transposição livre da escrita original de Fernão Mendes Pinto para uma linguagem mais directa, contemporânea, com impressionantes rasgos de imaginação, por um lado, e de lirismo, por outro, Fausto deslocou a perspectiva literária e histórica, esbatendo fronteiras entre épocas e contextos.
Por Este Rio Acima, tornar-se-ia num dos mais celebrados ícones da discografia portuguesa do nosso tempo e, mais uma vez, a esta obra subjaz uma atitude de resistência, desta vez sob a forma da negação do fatalismo histórico.
O tema que dá agora mote a este concerto, Atrás dos Tempos Vêm Tempos, resulta do duplo CD editado em 1996 com o mesmo nome, uma colectânea de canções regravadas compostas entre 1974 e 1994 e reveladora de um reencontro de Fausto com a sua música, com a sua história, consigo mesmo.
Aqui, a música é revisitada com novos contornos; afigura-se semelhante mas não igual, com novos arranjos, assumindo plenamente o processo de renovação a que Fausto se entregou.
O espectáculo que vem apresentar conta com composições que atravessam toda a sua carreira, desde o período mais quente da música de intervenção, nos anos 70, até ao último álbum editado, A Ópera Mágica do Cantor Maldito, de 2003.
Neste olhar para novas formas de totalitarismo, aniquilação e censura em torno da história de um cantor oprimido pelo sistema, o retomar de coordenadas é ainda mais claro – durante a sua concepção Fausto apontou que “seria seguramente um álbum proibido antes do 25 de Abril”.
Com Fausto, é toda uma viagem pelo universo dos sons, da memória colectiva, do sentir mais profundo que nos une enquanto comunidade(s), com algumas canções brilhantes que ficaram entre as mais injustamente abandonadas em terra, bem como algumas das mais importantes canções criadas num passado próximo.
01 de Maio - Casa da Música, Porto (22.00h)

1 comentário:

Fotograma26 disse...

Foi simplesmente fabuloso!

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