25/03/2011

YOLANDA SOARES | Discurso Direto

Ao segundo registo, Yolanda Soares, assume "Metamorphosis", um disco inovador, original e sumptuoso. Há uma nova era para esta "guerreira", que continua a ter na guitarra portuguesa a "alma" do seu trabalho, cada vez mais global.

Portugal Rebelde - "Metamorphosis", é o nome do seu segundo trabalho. Que transformações podemos encontrar neste 2º registo?

Yolanda Soares - Neste novo trabalho já não incluí temas de fado e sim temas totalmente originais. "Metamorphosis" é um trabalho igualmente inovador, original, belo e sumptuoso mas numa direcção diferente do primeiro trabalho. Mais rock sinfónico, mais pop, clássico também e ainda mais jovem e irreverente. É uma verdadeira transformação que reflecte a nova era. A era da transformação. Necessária. Inevitável. Um trabalho que fala de Portugal e encontra na alma portuguesa inspiração para viajar por diversas influências. Não se prende a conceitos tradicionalistas. Arrisca. Pertence ao Mundo. É um trabalho Global. Assente nas emoções de todos nós e na história lusitana demonstrando o outro lado de ser-se português. Um lado mais inovador, contemporâneo e ligado ao mundo. Recebi neste trabalho influências que me tornam uma cantora de fusão de estilos. Parti em busca de um caminho diferente. Que me identifique como portuguesa mas que me distinga de conceitos repetitivos e muito usuais. Por isso consideram o meu novo trabalho demasiadamente internacional. Porque o que é Nacional não pode ser diferente do usual. Curioso não?

PR - Em "Music-Box  (Fado em Concerto"), o seu primeiro trabalho, a Yolanda Soares revela-se uma artista versátil utilizando as suas raízes como inspiração para um trabalho inovador fazendo uma fusão entre o Fado, música clássica e electrónica. Neste segundo trabalho, encontramos uma autêntica transformação estilística tocando agora o rock sinfónico. É assim Yolanda Soares?

YS - Sim, se quisermos identificar com um nome, ou estilo musical. Apesar de eu considerar que este álbum "Metamorphosis" é mais que simplesmente rock sinfónico. Até porque não sou nem nunca fui consumidora de rock sinfónico apesar de achar muito interessante. Também costumam apelidar este trabalho de rock progressivo pois é um trabalho algo épico e com um conceito e mensagem bem definidos assemelhando-se a bandas como Genesis ou Pink Floyd pela parte mais conceptual do que musical. Inclui inúmeras influências não tendo um ritmo constante em alguns dos temas. No mesmo tema, tanto sou suave e doce na voz e na abordagem musical, como logo a seguir me transformo em algo muito mais forte e potente, quer na voz como na música. São extremos que se completam e se adoram. Aqui podemos ouvir inúmeras influências. Há quem me diga que pareço a Tarja Turunen, Enya, Within Temptation, Evanescence ou mesmo Bjork…e muito mais que agora não me lembro. Existem estrangeiros que acham a minha música algo celta, medieval, étnica e épica também e que tem algo de Cirque du Soleil (talvez pelas letras e fantasia que gosto de incluir nos meus trabalhos). Muito cinematográfica. Enfim, existem muitas opiniões porque de facto existe um mundo neste trabalho. É um trabalho global, muito ligado ao mundo e ao universo. Tem algum misticismo inerente. Mas, e apesar de todas as opiniões, eu considero que este trabalho tem como base a alma portuguesa numa descoberta global. Ouve-se a guitarra portuguesa em alguns temas que falam exactamente de Lisboa e do mar português. Mas ouvem-se temas que pertencem a outros lugares, outras terras...ao mundo. E é principalmente um trabalho que pretende ser belo, envolvente, impactante e surpreendente. É um trabalho muito emotivo.

PR - Numa frase - ou talvez duas - como caracterizaria este "Metamorphosis"?

YS - Nova Era.

PR - Qual tem sido o "feedback" do público, em relação às novas canções de "Metamorphosis"?

YS - Linda. Emotiva também. Tenho notado que o meu tipo de publico é muito ligado a diversos tipos de artes como pintura, poesia, fotografia, dança, música. Engraçado este aspecto. Há uma grande sensibilidade no meu tipo de público. Fãs com talentos noutras áreas. Que gostam do meu trabalho porque talvez identifiquem nele a abrangência artística que tem. Acho isto lindo pois eu própria me emociono com as mensagens que me enviam. Sempre com uma grande emotividade e cheias de espiritualidade. Se calhar por isso é que dizem que o meu trabalho, ou os meus trabalhos, são para a elite. O que poderá ser verdade já que para mim a elite são todos aqueles que gostam e apreciam arte bem feita. Que se interessam também pela música que não se entrega à vulgaridade. Que procuram algo mais do que aquilo que são quase "obrigados" a consumir pelos media que constantemente nos invade de "lixo" comercial em prol de audiência fácil. A elite é para mim o futuro mais interessante de Portugal. Aqueles que querem mudar esta inércia cultural de poderes instalados que recusam e esbarram caminho à novidade, à diferença, à vontade de expressão mais arrojada e à qualidade. Se este trabalho pertence à elite, e se a elite for esta de que falo então sim, pertenço a esta elite. Não à outra que se julga muito competente e cultural mas que constantemente nos obriga a consumir as mesmas fórmulas e conceitos e cria um círculo quase impenetrável. Essa elite não é a minha já que eu sou o tipo de cantora que rompe com "regras" e "códigos" daquilo que é correctamente aceite como cultura. A cultura em Portugal não passa só pelo Fado (na música). Passa sim por toda a expressão artística e musical que a nova geração traz nos diversos géneros. Enfim, tenho tido um feedback extraordinário da Elite que penso será o futuro de Portugal.

PR - No dia 14 de Maio, tem inicio em Alcobaça, 7 espectáculos de apresentação deste novo trabalho. Que "segredos" vamos poder ver e ouvir nestes concertos?

YS - Segredos Abertos deste álbum "Metamorphosis". Aqueles segredos que desvendamos na Arte. Somente na Arte. Por isso escolhi as 7 artes para estes espectáculos. E vou envolvê-las em cada um deles. Como? É segredo! (risos). São segredos que vou desvendando a pouco e pouco. Vou interpretar também alguns temas do meu trabalho anterior Fado em Concerto mas de uma forma mais simples e intimista. Só assistindo ao espectáculo poderão conhecer mais alguns dos meus segredos. Porque é nos espectáculos que a minha alma fica mais despida e se transforma em algo que não transparece na minha personalidade do dia a dia.

PR - A  Yolanda Soares define-se como uma mulher "guerreira, lutadora, intensa, e forte de personalidade". É tudo isto que quer passar nos seus espectáculos?

YS - Também. Porque quero de certa forma demonstrar que temos de ser fortes perante as adversidades económicas, políticas, ambientais, sociais. Guerreiros. Temos de participar mais, estar atentos, corrigir os erros que temos vindo a cometer. Lutar por um mundo melhor. Quero que vejam em mim uma personagem que não se conforma e não desiste, que se veste com armadura para lutar. Que, mesmo "desenquadrada" daquilo que é habitual, pode criar novos caminhos, novas mentalidades e então mover mais um pouco este mundo onde vivemos, já que não podemos fugir dele de vez em quando (risos). Acreditando que a nossa função é mesmo essa, de transformar aquilo que já não está a resultar na forma como vivemos e pensamos. Já percebemos, ou estamos agora a perceber, que não podemos continuar com conceitos obsoletos. Há que ser arrojados, originais, provocadores também. O mundo avança sempre que se provoca. E a arte é uma excelente provocadora e motiva da forma mais bonita que conheço. Porque envolve. Fascina. Emociona. Faz sonhar. Além de provocar, eu gosto de fazer o público sonhar nos meus espectáculos. Gosto de transmitir mensagens sérias da forma mais bela que consigo. Faço dos meus espectáculos uma história, transformando-me em personagens um pouco ficcionais. Não encaro a música nem um concerto musical como apenas temas que vou interpretar. Encaro um concerto musical como uma mensagem, um poema, uma coreografia, uma paisagem, um mundo, um sonho, uma vida. Chamem-me desenquadrada que eu gosto! Aprecio muito até. Porque da forma como as "coisas" andam eu faço até questão de me desenquadrar! (risos).

www.yolandasoares.com

Sem comentários:

/>