22/04/2011

HORSELAUGHTER | Discurso Direto

Hoje em "Discurso Direto", destaque para os Horselaughter. "I Was a ghost, then", é o álbum, que chegou recentemente às lojas. um disco  recheado histórias, que nos leva a viajar pela América. As cores e a paisagem bucólica do Douro, serviram de inspiração para a gravação de "I Was a ghost, then".

Portugal Rebelde - Antes de mais, quem é o “rosto”, que dá voz ao projecto Horselaughter?
 
Filipe Ferreira - Até ao disco, os Horselaughter eram na prática o nome sobre o qual fui trabalhando sozinho e o disco foi sendo assim construído. No entanto, na parte final das gravações conheci o Miguel Gomes que começou por participar como convidado em alguns temas e acabou por passar a integrar o projecto de forma mais definitiva. Pela minha parte, antes dos Horselaughter apenas tinha tido um projecto, os Oddawn, com quem trabalhei numa banda sonora alternativa para o filme "Tren de Sombras" de José Luís Guerin e em alguns concertos.
 
PR - "I was a ghost, then", é um disco que cresce em torno da ideia de abordar histórias de certo modo cinematográficas, memórias antigas. Queres falar-nos um pouco sobre este “percurso”?
 
FF - O percurso do disco é de certa forma ficcionado e de certa forma real. Por um lado, as personagens e as histórias nunca são literalmente verdadeiras mas por outro há um conjunto de referências perdidas pelas canções que evocam situações reais por que fui passando. De qualquer forma não creio que isso seja o mais importante. Enquanto trabalhava sempre tentei formar um conjunto que pudesse formar algo próximo de uma narrativa sonora e que suscitassem tanto quanto possível ambientes visualmente perceptíveis em quem ouve. A procura desse lado cinematográfico é deliberada nesse sentido e aconteceu assim pois sempre julguei que isso é o mais interessante na música. Não me preocupam tanto detalhes de composição ou virtuosismo na interpretação mas sim esse tipo de ambientes e texturas que sugerem algo mais .
 
PR - As gravações  de "I was a ghost, then" decorreram no Alto Douro,  na aldeia de Paredes da Beira. De alguma forma, o ambiente que te rodeava, conseguiste transpô-lo para o disco?
 
FF - Creio que sim, que há elementos do disco que foram directamente influenciados pelo espaço em que o mesmo foi gravado. A aldeia é bastante isolada e rodeada por montes a perder de vista e o tempo parece passar devagar por lá. Isso traz uma enorme calma e induz uma sensação de isolamento que creio que podem ser sentidos nas canções. Creio até que isso acaba por se fazer sentir de outras formas como seja a tendência para que as histórias sejam marcadas pela solidão e pela ausência. Noutros casos são elementos concretos que surgem nas canções, como no caso da "widows by the window" que é explicitamente dedicada às viúvas da aldeia e à forma como placidamente passam os dias à janela a ver a vida correr sem lhe tocarem.
 
PR - Numa frase apenas - ou duas - como caracterizarias este  "I Was a ghost, then"?
 
FF - Numa frase, como um álbum que resulta de anos de procura e experimentação em torno de um conceito algo vago mas que sempre fez profundo sentido para mim. Em duas, como a conclusão improvável de uma conjugação de factores que finalmente se alinharam e que me permitiram encontrar uma forma de tentar usar uma colecção de memórias, impressões, medos e sensações que colecciono desde sempre, de uma forma minimamente inteligível.
 
PR - Depois do disco, vamos ter oportunidade de ouvir as canções de “I Was a ghost, then”, no palco?

FF - Sim, estamos neste momento a preparar os concertos tentando sobretudo encontrar soluções para que as canções sejam adaptadas a uma formação de apenas dois elementos. Pretendemos tocar em espaços pequenos, em que seja possível tocar de forma muito próxima do público pois isso será importante para que os temas resultem como pretendemos. Vamos levar vários instrumentos e trabalhar com base em loops tentando que o som, sendo inevitavelmente diferente do do disco, seja ainda assim consistente e identitário.
 
PR - Que sensações esperas que as pessoas retirem da audição de "I Was a ghost, then"?

FF - Não tenho isso pensado, nem trabalhei com essa preocupação. A vantagem de trabalhar sozinho, de não ter editora e de não depender da música para viver é que faço apenas e só o que me interessa, sem preocupações de qualquer outra ordem. Dito isto, claro que gostava que o disco fosse agradável para quem o ouve e que diga algo de diferente pois foi efectivamente feito de forma algo invulgar. 


7. Para terminar, em que outros projectos estás a colaborar?

FF - Tenho trabalhado com o projecto Cavalheiro, que acabou de lançar um EP chamado "Farsas" e com quem deverei andar em concerto em 2011 nas apresentações do mesmo.

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