28/07/2014

ONDINA PIRES | "“Juntos Outra Vez - Biografia autorizada de Victor Gomes”


“Juntos Outra Vez - Biografia autorizada de Victor Gomes” é uma obra de Ondina Pires, que fala sobre a história de um outro Portugal, ainda desconhecido pela maioria e à espera de ser desbravado por leitores nacionais e estrangeiros. 

Sempre se falou superficialmente sobre as décadas de quarenta a setenta em Portugal, em certa medida devido às vicissitudes políticas e sociais inerentes ao regime político dessa época: ambientes e ambiências, vivências à flor-da-pele que ficaram cristalizadas no tempo e que estão à espera de serem redescobertas.

O que começou por ser um longo relato de estórias verdadeiras e fabulosas de uma vida cheia de aventuras e emoções resultou numa obra sensorial, quase cinematográfica, cheia de som, cor e imagens. Um autêntico convite à viagem espaço-temporal e um festim estético a nível visual: Uma infância dura e sem família:

“Uma das memórias mais marcantes, no início de vida no Instituto, eram os guinchos arrepiantes que as hienas lançavam durante a noite – as kizumbas! Os miúdos trancavam-se o melhor que podiam nas camaratas dos tais barracões inóspitos e ouviam aquela chiadeira terrível que mais fazia lembrar um choro fúnebre.”

Um miúdo rebelde e destemido: “Em janeiro de 1956, quase a fazer dezasseis anos, o Victor enceta outros caminhos profissionais; procura trabalho como actor e como músico. Deambula por Lourenço Marques, junto ao cais, armado em teddy-boy com um gang de sete rapazolas. Seguiam os modelos dos “rebel without a cause” como as personagens protagonizadas pelos actores James Dean e Marlon Brando: poupa cheia de brilhantina, blue jeans, blusão de ganga com a gola levantada, atitude desafiadora ao “sistema”, à coca de namoradinhas.”

Os primeiros amores e dissabores: “O Victor calçou umas sapatilhas e lá foram dar uma volta até ao Hotel Polana. Conversaram, conversaram, deram as mãos, deram os lábios e ... deram outras coisas. Pronto, o Victor fora “caçado” pela ambiciosa “gazela” sul-africana.”

A sensualidade e sexualidade carismática em palco: “Ao longo dos inúmeros espetáculos dos “Gatos Negros”, os adolescentes afoitos invadiam o palco e desnudavam o Victor arrancando pedaços da roupa de cabedal. Ao fim de algum tempo, as raparigas passariam a fazer o mesmo que o rapazes. Com os bocaditos de cabedal nas mãos tinham a grande lata de ir pedir autógrafos ao Victor, como se aquele material negro se prestasse a ser escrito. Claro que era o Vasco Morgado que financiava as correntes e o cabedal.”

Há fados e fados e este é outro tipo de fado – é o Rock ‘n’ Roll! É o lado histriónico, à beira da vertigem, misturado sabiamente com o calor tropical africano e com as frias pedras da calçada de Lisboa, tantas vezes ziguezagueadas por Victor Gomes esse “globetrotter” ávido de afecto do seu público. Por tudo isto e muito mais... “Juntos Outra Vez”.

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