15/02/2016

CAIS SODRÉ FUNK CONNECTION | "Soul, Sweat & Cut the Crap"



O título do novíssimo álbum dos Cais Sodré Funk Connection, "Soul, Sweat & Cut the Crap", diz-nos praticamente tudo o que importa saber sobre a música que fazem: vem da alma, exige energia e entrega, e é honesta e directa. Sem truques, sem artifícios, sem efeitos especiais ou enquadramentos artificiais de modas vazias.

Este é já o segundo álbum dos Cais Sodré Funk Connection depois da auspiciosa estreia assinada com You Are Somebody que o próprio grupo lançou em 2012. A estreia discográfica data de um par de anos antes, com o single “Lose It” que foi concebido com a participação de Rickey Calloway. 

E em todos estes anos, o colectivo foi polindo o verdadeiro diamante que revelaram ser desde a primeira hora: com incontáveis gotas de suor largadas em palco, com pérolas como “Summer Days of Fun” a conquistarem espaço nos nossos ouvidos, corações e ancas e até com o improvável hit que resultou do cruzamento com esse original soul boy que é Paulo de Carvalho no enorme “Mãe Negra”.

O som dos Cais Sodré Funk Connection é, obviamente, canalizado através dos grandes: de James Brown e Aretha Franklin, de Marvin Gaye e Eatta James, reis e raínhas que ainda hoje são referências incontestadas onde quer que se valorize o poder da alma acima do ruído das luzes.

Com Soul, Sweat & Cut the Crap este colectivo de irmãos e irmãs soul prova que se pode crescer e tornar ainda mais perfeito o que já era de uma beleza irrepreensível: os metais soam mais coesos, mais sofisticados, os ritmos mais sensuais, as melodias mais luminosas. 

Os temas – que em termos de autoria resultam quase sempre da combinação dos talentos musicais e poéticos de Tiago Santos, João Gomes e João Cabrita – são poderosas evocações de uma tradição, mas realizados a partir do presente, como se o tempo fosse uma mera ilusão: “Take it Like a Man”, “Soul Lady”, “Ridin’ a Funkin’ Bike” ou “Like No Other” e “Do The Math” são bombas de açúcar para os nossos ouvidos, ímans irresistíveis para os nossos pés e enchem-nos de sorrisos. São lições de groove, precisas e fluídas ao mesmo tempo. Como só a soul sabe ser.

João Gomes, Francisco Rebelo, Tiago Santos, João Cabrita, José Raminhos, Miguel Marques e Rui Alves são os inexcedíveis instrumentistas de serviço, poços de bom gosto em que sabe bem mergulhar. À frente, a classe pura de Silk e Tamin que injectam alma em cada tema como se o Cais Sodré fosse ali algures ao lado de Memphis, um sítio obrigatório para passar a caminho dos estúdios da Stax.

"Soul, Sweat & Cut the Crap" sai em 2016 (26 de Fevereiro), mas podia ter saído em 1966, 1978, 1995 ou 3140. Não importa: música assim não se prende ao tempo, só à alma de quem a ela se entrega.

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