03/08/2017

LUÍS SEVERO | Galeria Zé dos Bois


"Luís Severo é um daqueles casos em que o crescimento pessoal se confunde um pouco com a mais recente memória colectiva. Afinal os mesmos ouvidos que o acompanharam desde logo, quando ainda assinava sob Cão da Morte, mantêm-se ávidos e mais fiéis que nunca. E Severo soube reafirmar-se ao longo dos últimos anos pela reinvenção artística e pela certeza do que o fazia mover na vida. Passou de uma jovem promessa a uma sólida confiança, demonstrando uma valiosa capacidade de revigorar a feitura de canções na língua materna. 

Fá-lo de modo espontâneo, apaixonante, como se de facto fosse uma tarefa simples. Talvez o seja realmente, tendo em conta que essa é uma condição quase exclusiva a quem entretanto se formou em Sociologia, mas onde retorna sempre à composição musical no fim do dia e aurora da noite.

Plenamente sintonizado com o seu tempo, as questões socio-políticas do exterior atravessam-se com as dúvidas meta-pessoais do interior, numa torrente de melodias pintadas com convicção e esperança. Cartas de amor, poemas de angústia e polaróides de nostalgia dão forma à longa obra escrita de Severo. Cara d’ Anjo veio a acrescentar matéria a tudo o que até então se juntava; trouxe uma identidade mais definida, consciente de si mesmo e do que o rodeava, mas também novos espaços para que o seu discurso e processos criativos ganhassem outro fôlego, outro corpo. 

Quanto à arte lírica, já alcançou um lugar unicamente seu, fazendo esquecer os habituais barões do cancioneiro nacional, escutados e referenciados ad eternum, mas entretanto adormecidos ou mesmo inertes. Só por isso, por essa frescura e grandeza que traz, seria motivo suficiente de louvor.

O disco homónimo, editado este ano, voltou a aportar uma personalidade especial. No que o próprio considera um resultado mais solitário que os anteriores, a necessidade destas novas canções nasceu em palco, em viagens e em pausas de apresentação de "Cara d’Anjo". Emergiu como uma necessidade maior de concretizar ideias que há muito pairaram sobre si, algumas relativamente díspares do que até aqui vinha a apresentar. 

Foi no estúdio da Cuca Monga, editora dos Capitão Fausto, que este registo aconteceu. Primeiro como laboratório, onde o piano se tornou numa espécie de extensão pessoal, depois como maternidade desses esboços às futuras canções que compõem o seu melhor trabalho até à data." (NA)

08 de Setembro - Galeria Zé dos Bois, Lisboa (22.00h)

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