01/02/2019

MUSICADORIA CHAMA PROMOTORAS DE GUIMARÃES AO PALCO DO CENTRO CULTURAL VILA FLOR


Depois de ter mapeado a música independente que se faz a partir de Guimarães com Som de GMR – abrindo a programação do Café Concerto apenas com bandas locais durante 2017 –, o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, olha para o outro lado do “movimento” da música alternativa da cidade e dá carta-branca a três promotoras vimaranenses com trabalho de programação regular para escolher o som que passa pelo Café Concerto. 

Em Fevereiro, a Revolve faz-se representar com um duplo concerto de Jibóia e Dada Garbeck. O ciclo prolonga-se em março com os Keep Razors Sharp, uma escolha do espaço cultural Banhos Velhos, e, em abril, com Marem Ladson, uma proposta da Capivara Azul – Associação Cultural.

É já amanhã, 2 de Fevereiro, às 23.00h, que o ciclo Musicadoria arranca com um duplo concerto que junta o projeto nacional Jibóia – que tem um novo disco editado pela londrina Discrepant – e Dada Garbeck, alter-ego do músico vimaranense Rui Souza (do trio El Rupe e Medeiros/Lucas), que irá apresentar o seu disco de estreia, editado com selo da Revolve.

Jibóia apresentou-se no início desta década pela mão de Óscar Silva e tornou-se bem claro que a sua música iria beber a diferentes trópicos deste mundo, procurando uma conexão entre climas e ritmos que não obedeceriam estritamente a regras de tempo e espaço. Procurar influências na sua música é um exercício imperfeito, porque ela abre-se de forma cósmica, sem barreiras, à procura de novos sons ao invés de refletir sons que se têm presentes. A partilha é um elemento crucial na criação da música de Jibóia. 

Nos seus três lançamentos anteriores procurou colaboradores que ajudassem a criar a dinâmica que queria no seu som, trabalhando com Makoto Yagyu (If Lucy Fell, Riding Pânico e Paus) como produtor do primeiro EP, homónimo (2013); Sequin e Xinobi no disco seguinte, Badlav (2014); e Ricardo Martins para criar Masala (2016), produzido por Jonathan Saldanha (HHY & The Macumbas, Fujako). No novo disco, OOOO, assumiu o formato banda, e a Ricardo Martins (Lobster, Pop Dell’Arte, BRUXAS/COBRAS, entre outros) juntou André Pinto (aka Mestre André, Notwan e O Morto), para formarem o trio com que atualmente Jibóia se apresenta.

A viagem de "OOOO" é mais partilhada do que nas anteriores. Os três músicos partiram à experiência para criar música através de um conceito, pegando em Musica Universalis, de Pythagoras, que relaciona o movimento dos planetas e a frequência (onda) que eles produzem, com uma harmonia interespacial que essas frequências somadas produzem. Como os músicos descrevem, “é uma relação matemática, algo religiosa até, já que essa musica é inaudível. Uma espécie de conceito poético que designa, ao fim e ao cabo, o som do universo em movimento”. Esta forma de criar revela uma expansão sonora no som de Jibóia. A sua música flui de um modo livre, mas rigoroso, e circular, trabalhando em constância uma ideia de movimento. É inevitável associar o movimento à viagem, uma que tanto se estende ao cosmos como reforça as convicções de Jibóia em trabalhar nas não-convenções do rock e do jazz.

Dada Garbeck, também conhecido como Rui Souza, desenha camadas como sedimentos: cada loop inscreve-se na memória, e por lá fica enquanto os synths assentam em novas paragens, com novas texturas. The Ever Coming ouve-se num processo semelhante ao de cortar uma montanha e identificar-lhe as camadas, de cor em cor, de acorde em acorde, de progressão em sensação. Cada melodia anteriormente desenhada assenta e harmoniza-se com a próxima, criando a ilusão de sempre terem pertencido ao mesmo espaço, apesar de habitarem momentos diferentes. O disco de estreia do vimaranense, editado com selo da Revolve, vive deste crescendo de diferentes materiais, partindo de um namoro constante com as possibilidades de um sintetizador e construindo por cima das notas que precederam as melodias de agora. The Ever Coming não existe em excessos, em que cada novo momento pertence a uma narrativa intricada, em que tons expressionistas, intensos em sensibilidades, preenchem os espaços que a sobeja não tomou.

A programação do ciclo continua em Março, dia 8, com o concerto da superbanda portuguesa Keep Razors Sharp. Recém-chegada do Eurosonic 2019 com o segundo disco, Overcome, na mão, aterram no palco do Café Concerto do CCVF por escolha do espaço cultural Banhos Velhos. Keep Razors Sharp são Afonso Rodrigues (Sean Riley & The Slow Riders), Rai (The Poppers), Bráulio (ex-Capitão Fantasma) e Bibi (Riding Pânico, entre outros). Com uma sonoridade entre o psicadelismo, o shoegaze e o pós-rock, os singles de estreia I See Your Face, 9th e By The Sea tornaram-se sucessos radiofónicos, tendo percorrido palcos de norte a sul do país. A génese deste grupo é como a de qualquer banda de garagem: quatro miúdos (embora já não o sendo) com gostos semelhantes, tempo livre e vontade de tocar. Mas por muitas que sejam as bandas por onde passaram, os Keep Razors Sharp são mais do que a soma destas partes, especialmente ao vivo, e estes amigos vão provar isso mesmo no palco do CCVF.

Musicadoria prolonga-se em abril, no dia 27, com a nova pérola do rock espanhol, Marem Ladson, que aos 19 anos surpreendeu o país vizinho com o seu homólogo disco de estreia, uma proposta da Capivara Azul – Associação Cultural. Marem Ladson é uma cantora e compositora de ascendência americana e galega e a sua música combina folk, pop e rock num som evolutivo poderoso. Nascida em 1997 em Ourense, na Galiza, Ladson começou a escrever contos e poemas aos 9 anos e, depois de aprender a tocar guitarra, compôs suas primeiras canções. 

Após uma passagem casual por Houston (Texas) durante o liceu, onde se juntou a um grupo de compositores e desenvolveu as suas capacidades, retornou a Ourense para descobrir uma comunidade de músicos muito unida e começou a apresentar-se em espaços públicos e a publicar versões acústicas online. Aos 18 anos, assinou um contrato com uma gravadora e em 2015 mudou-se para Madrid. No início de 2017, Ladson lançou seu primeiro single All My Storms, atraindo a atenção da cena musical e dos meios de comunicação espanhóis. Munida da sua música, prepara-se agora para agarrar o público em Guimarães.

Os concertos começam às 23.00h e os bilhetes têm um custo de 5 euros, encontrando-se à venda nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor, do Centro Internacional das Artes José de Guimarães e da Casa da Memória de Guimarães, bem como nas Lojas Fnac e El Corte Inglés, e via online em www.ccvf.pt e oficina.bol.pt.

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