"Há discos que parecem mapear um território novo à medida que avançam, e o EP de Samalandra é um deles. Trio de geometria improvável desenhado com sintetizadores/voz, baixo/samples e bateria, Samalandra opera num espaço onde o jazz não precisa de pedir licença à eletrónica, onde o groove convive com o risco, e onde a canção em português encontra a pulsação inquieta da improvisação contemporânea.
É música que respira modernidade sem procurar rótulo, que desdobra complexidade rítmica em gestos claros, físicos, dançáveis — um universo onde a sofisticação não exclui o corpo e onde cada compasso se abre como uma porta nova.
A dinâmica interna do trio é o motor secreto desta música. Em Samalandra, a matemática do ritmo é um campo aberto, propulsionado por linhas de baixo debitadas por Tiago Martins que avançam como foguetões, por teclados a cargo de Débora King que ora abraçam, ora desconstroem a harmonia, e por uma bateria exemplarmente ritmada por João Neves que prefere trocar as voltas ao tempo a simplesmente marcá-lo.
Aqui, a complexidade surge mascarada de simplicidade, como quem esconde fractais dentro de um brinquedo. E é talvez deste paradoxo que nasce a identidade do grupo: música que parece fácil até nos tirar o tapete, música séria que nunca perde o sorriso, música viva.
Para esta edição em vinil, a primeira física do projeto, Samalandra decidiu deixar impressas também as suas margens: dois temas extra, gravados de forma caseira e analógica, que revelam a intimidade do laboratório onde o trio testa texturas, erros felizes, micro-improvisações e estados de espírito que dificilmente caberiam num estúdio convencional.
Estes registos expandidos funcionam como portas laterais para o processo criativo, menos polido e mais respirado, e revelam a liberdade lúdica que sempre esteve no âmago da sonoridade do trio." - Rui Miguel Abreu
O disco tem lançamento no próximo dia 14 de novembro!

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