07/09/2011

ANDARILHOS | Discurso Direto


Hoje fazemo-nos ao caminho pelas terras de Baião na companhia dos Andarilhos, numa viagem ao encontro da nossa cultura e das nossas gentes. Ir por caminhos velhos é hoje “a opção” de quem insiste em não deixar esquecer este pedaço de terra cheio de histórias e cantigas. Vasco Monterroso é o nosso "cicerone" nesta viagem pelo "Caminho Velho", o 2º capítulo dos Andarilhos.

Portugal Rebelde - ”Recolhemos, vivemos e saboreamos…passados longínquos, memórias vivas de gerações presentes”. Este Continua a ser o “caminho”, numa altura em que os Andarilhos comemoram 20 anos de vida?

Vasco Monterroso - Sim, de facto pensamos que esta frase resume um pouco do espírito do projecto “Andarilhos”. Associados ao património etnomusicológico português e em especial da região duriense, interessa-nos viver e saborear tradições, enquanto fenómenos vivos, sentindo que de alguma forma somos também um reflexo dessa ideia. Num processo criativo pretendemos dar continuidade a estilos e generos musicais afectos à tradição duriense, portuguesa e neste caminho procuramos a reinvenção da música tradicional, partindo o mais possível dela própria.

PR - O caminho foi sempre o da música tradicional, primeiro adaptando temas conhecidos e depois a criarem os seus próprios. Onde é que os Andarilhos vão buscar a “inspiração” para esta viagem?

VM - “Caminhando” pelas músicas da tradição, houve um processo não premeditado,  em que as interpretações ou reinterpretações deram origem a temas originais. Existe “nesta viagem”  a evocação de uma identidade musical inspirada em vivências rurais, que não pretendemos que seja nostálgica ou saudosista. Tendo em atenção este legado imaterial,  pretendemos poder vivê-lo e saboreá-lo, mas também transformá-lo de forma a que faça/tenha sentido  hoje, pois a tradição, quando viva, é algo em presente mudança/transformação...

PR - Numa frase apenas - ou duas - como caracterizarias este “Caminho Velho”?

VM - Para mim é muito difícil essa síntese, esperamos sinceramente que tu o possas fazer... para depois, se for elogioso, te podermos citar! (risos)

PR - Já tiveram oportunidade de apresentar este disco, a última das quais no Byonritmos. Qual tem sido o “feedback” do público às novas canções dos Andarilhos?

VM - Tem sido óptimo. O Caminho Velho” e a sua promoção tem criado a oportunidade para contactarmos com muita gente que se identifica com a musicalidade dos Andarilhos e entre estes muitos nos têm dado a conhecer as emoções que retiram do disco. Ao vivo, uma experiência muito interessante, os temas do disco são vividos de diferentes formas e cada espectáculo é único, aqui ligamos também os temas do “Caminho Velho” a outros que nos acompanham há mais tempo e que a todo o momento vão conhecendo novas roupagens. A experiência no Byonritmos 2011, foi inesquecível!  Neste festival onde somos também organizadores, juntamos cerca de 2.000 amigos e foi verdadeiramente emocionante estar naquele palco! A adesão não podia ser melhor, dançaram-se chulas e viras de formas mais convencionais e também, mais à frente do palco, com muito mosh à mistura. A adesão da juventude, nomeadamente a da nossa terra, foi algo que nos tocou profundamente neste concerto. Ainda o facto de estarem ali diferentes gerações e diferentes culturas, com as expressões de entusiasmo a chegarem de todo o lado... inesquecível!

PR - Os Andarilhos têm raízes profundamente ligadas ao Douro e às tradições das vindimas. Numa altura em que aqui e ali se preparam as vindimas, sentem que este ofício perdeu os “tons” de festa de outros tempos?

VM - O poema do tema promocional do disco  “Chula do Douro”, falando dos cesto da vindima e da chula diz “mais pesados são agora/ que os não ajudas a levar”. Sem dúvida que a musicalidade própria das nossas gentes dava um “tom” de festa às vindimas de outrora. Um trabalho árduo onde a música tinha presença e era o tónico para estes dias de trabalho duro. Hoje assistimos a esta descapitalização cultural, promovida em parte pela mecanização dos processos da vindima mas também pelo desvanecimento desta memória colectiva que nos empobrece e entristece a todos.

PR - Uma das canções deste 2º registo dos Andarilho é “Senhora do Marão” . Quiseram desta forma homenagear a romaria mais alta de Portugal?

VM - Sim, acabou por ser uma promoção desejada para esta festa/romaria, que tem este cognome apelativo. Lembrando que o tema consta hoje da playlist da Antena1... Mas esta romaria tem uma história lindíssima: por um lado é uma expressão da cultura popular duriense e por outro é o vestígio de civilizações milenares. Uma tradição viva com raízes longínquas, que resitiu e se transformou, de culto solar pré-cristão a romaria cristã. Continuando a fazer sentido nas vivências deste povo, hoje. São fenómenos como este que nos fazem sentir orgulhosos da nossa identidade, as tais memórias vivas...

PR - Para terminar, por onde passa o futuro próximo dos Andarilhos?

VM - O futuro próximo são concertos e múltiplas acções que levem este “Caminho Velho” ao encontro das “gentes”, de forma a que mais o possam trilhar ouvindo-o. Vamos estar no Fundão/Alpedrinha no Festival da Transumância dia 16 de Setembro e nesse mesmo fim-de-semana (dia 17/Setembro) na Régua participando na Feira do Livro.

+ Info:

www.andarilhos.com/agenda

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