Hoje fazemo-nos ao caminho pelas terras de Baião na companhia dos Andarilhos, numa viagem ao encontro da nossa cultura e das nossas gentes. Ir por caminhos velhos é hoje “a opção” de quem insiste em não deixar esquecer este pedaço de terra cheio de histórias e cantigas. Vasco Monterroso é o nosso "cicerone" nesta viagem pelo "Caminho Velho", o 2º capítulo dos Andarilhos.
Portugal Rebelde - ”Recolhemos, vivemos
e saboreamos…passados longínquos, memórias vivas de gerações presentes”. Este
Continua a ser o “caminho”, numa altura em que os Andarilhos comemoram 20 anos
de vida?
Vasco Monterroso - Sim,
de facto pensamos que esta frase resume um pouco do espírito do projecto
“Andarilhos”. Associados ao património etnomusicológico português e em especial
da região duriense, interessa-nos viver
e saborear tradições, enquanto
fenómenos vivos, sentindo que de alguma forma somos também um reflexo dessa
ideia. Num processo criativo pretendemos dar continuidade a estilos e generos
musicais afectos à tradição duriense, portuguesa e neste caminho procuramos a
reinvenção da música tradicional, partindo o mais possível dela própria.
PR - O caminho foi sempre o da música tradicional, primeiro adaptando temas
conhecidos e depois a criarem os seus próprios. Onde é que os Andarilhos vão
buscar a “inspiração” para esta viagem?
VM - “Caminhando”
pelas músicas da tradição, houve um processo não premeditado, em que as interpretações ou reinterpretações
deram origem a temas originais. Existe “nesta viagem” a evocação de uma identidade musical
inspirada em vivências rurais, que não pretendemos que seja nostálgica ou
saudosista. Tendo em atenção este legado imaterial, pretendemos poder vivê-lo e saboreá-lo, mas
também transformá-lo de forma a que faça/tenha sentido hoje, pois a tradição, quando viva, é algo em
presente mudança/transformação...
PR - Numa frase apenas - ou duas - como caracterizarias este “Caminho Velho”?
VM - Para mim é muito difícil
essa síntese, esperamos sinceramente que tu o possas fazer... para depois, se
for elogioso, te podermos citar! (risos)
PR - Já tiveram oportunidade de apresentar este disco, a última das quais no
Byonritmos. Qual tem sido o “feedback” do público às novas canções dos
Andarilhos?
VM - Tem sido óptimo. O Caminho
Velho” e a sua promoção tem criado a oportunidade para contactarmos com muita
gente que se identifica com a musicalidade dos Andarilhos e entre estes muitos
nos têm dado a conhecer as emoções que retiram do disco. Ao vivo, uma
experiência muito interessante, os temas do disco são vividos de diferentes
formas e cada espectáculo é único, aqui ligamos também os temas do “Caminho
Velho” a outros que nos acompanham há mais tempo e que a todo o momento vão
conhecendo novas roupagens. A experiência no Byonritmos
2011, foi inesquecível! Neste festival
onde somos também organizadores, juntamos cerca de 2.000 amigos e foi verdadeiramente
emocionante estar naquele palco! A adesão não podia ser melhor, dançaram-se chulas
e viras de formas mais convencionais e também, mais à frente do palco, com
muito mosh à mistura. A adesão da juventude, nomeadamente a da nossa terra, foi
algo que nos tocou profundamente neste concerto. Ainda o facto de estarem ali
diferentes gerações e diferentes culturas, com as expressões de entusiasmo a
chegarem de todo o lado... inesquecível!
PR - Os Andarilhos têm raízes profundamente ligadas ao Douro e às tradições das
vindimas. Numa altura em que aqui e ali se preparam as vindimas, sentem que este
ofício perdeu os “tons” de festa de outros tempos?
VM - O poema do tema promocional
do disco “Chula do Douro”, falando
dos cesto da vindima e da chula diz “mais pesados são agora/ que os não ajudas
a levar”. Sem dúvida que a
musicalidade própria das nossas gentes dava um “tom” de festa às vindimas de
outrora. Um trabalho árduo onde a música tinha presença e era o tónico para
estes dias de trabalho duro. Hoje assistimos a esta descapitalização cultural,
promovida em parte pela mecanização dos processos da vindima mas também pelo
desvanecimento desta memória colectiva que nos empobrece e entristece a todos.
PR - Uma das canções deste 2º registo dos Andarilho é “Senhora do Marão” . Quiseram
desta forma homenagear a romaria mais alta de Portugal?
VM - Sim, acabou por ser uma
promoção desejada para esta festa/romaria, que tem este cognome apelativo. Lembrando
que o tema consta hoje da playlist da Antena1... Mas esta romaria tem uma
história lindíssima: por um lado é uma expressão da cultura popular duriense e
por outro é o vestígio de civilizações milenares. Uma tradição viva com raízes
longínquas, que resitiu e se transformou, de culto solar pré-cristão a romaria cristã.
Continuando a fazer sentido nas vivências deste povo, hoje. São fenómenos como
este que nos fazem sentir orgulhosos da nossa identidade, as tais memórias
vivas...
PR - Para terminar, por onde passa o futuro próximo dos Andarilhos?
VM - O futuro próximo são concertos e múltiplas
acções que levem este “Caminho Velho” ao encontro das “gentes”, de forma a que
mais o possam trilhar ouvindo-o. Vamos estar no Fundão/Alpedrinha no Festival
da Transumância dia 16 de Setembro e nesse mesmo fim-de-semana (dia 17/Setembro) na
Régua participando na Feira do Livro.
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