23/05/2012

BANDARRA | Discurso Direto


Os Bandarra estão de regresso aos discos com "Bicho do Diabo", transpondo para as canções uma mescla de vivência rural com memória urbana. Para chegarem a este porto, serviram-se das expressões próprias que vivem nas palavras dos ilhéus, deixaram-se alagar pelas referências que já os habitavam e descobriram outras na música tradicional/popular Açoriana e Portuguesa. "Bicho do Diabo" é apresentado amanhã no Teatro Aberto, em Lisboa a partir das 23.00h.

Portugal Rebelde - Que histórias podemos encontrar neste “Bicho do Diabo”?

Miguel Machete - Histórias do diabo que reflectem o bicho que todos temos dentro de nós. Para o bem e para o mal! Isto com o devido cheiro a mar-bruma-basalto-sismo, claro.

PR - A vivência rural está muito presente nas canções deste trabalho, sem nunca esquecerem a memória urbana. É desta forma que pretendem “alimentar” este “Bicho do Diabo”?

MM - Este Bicho foi alimentado a massas sovadas, alcatras, cozido à Portuguesa e vinho tinto mas nunca lhe negámos um sashimi, um caril ou um jerk, se no momento ele para aí estivesse virado. Vivemos num campo com vista permanente sobre o mar e este facto amplia a nossa ruralidade mas certamente que estimula as memórias que temos da urbe e o imaginário sobre as terras que nunca pisámos.

PR - "Vamos à Praia" foi o single de avanço deste “Bicho do Diabo”. É este o tema que melhor define o espírito do álbum?

MM - O espírito talvez mas para perceber o que queremos mostrar e a música que fazemos tem que se ouvir o álbum todo. Ou seja, o “vamos à praia” não revela nem resume as surpresas todas que passeiam pelo disco. É um tema simples na construção e na mensagem mas, achamos nós, muito sincero e apropriado. É uma canção que exalta a alegria e a vontade de viver tal qual como a “Chamarrita”, baile mandado (e extraordinário) das ilhas que serviu de fonte de inspiração a este tema – vamos à praia é um dos “mandos” do bailho – Apesar dos altos e baixos das nossas histórias, seguramente que queremos transportar a alegria de viver na nossa bagagem e por isso, acabámos por ter esta canção como single.

PR - ”Bicho do Diabo”, tema que dá nome a este disco conta com a participação de Zeca Medeiros. Como é que surgiu esta oportunidade?

MM - O Zeca é um amigo grande. Temos uma consideração imensa pela pessoa que é e pela música que faz. Já nos tinhamos encontrado no palco mais que uma vez (e noutras aventuras, vezes sem conta) e a vontade de o termos connosco no disco foi crescendo. Juntou-se a esta uma franja de acaso (ele passou pelo Faial quando estávamos a gravar) e pronto, resolveu-se a coisa com um jantar magnífico. O seu timbre sísmico e alma vulcânica serviram este “Bicho do diabo” de forma estupenda. Um take.

PR - Este “Bicho do Diabo” já saiu à rua, que é como quem diz já foi apresentado em palco. Como é que o público tem reagido às novas canções dos Bandarra?

MM - No palco é que o Bicho do Diabo se revela verdadeiramente! E isto porque juntamos à música e às palavras a interpretação – completa-se o ciclo e temos então, as canções dos Bandarra. No palco, para cada história, surge uma personagem que a conta. Os nossos concertos têm um lado cénico, teatral e isso promove a partilha, facto que para nós já foi visível este ano, num Teatro Faialense cheio de gente e de emoção. Fez-se uma festa à moda antiga e as canções novas foram muito bem recebidas. Agora vamos levá-las para Lisboa e Porto.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas - como caracterizarias este “Bicho do Diabo”?

MM - Um disco diabo com música popular portuguesa atlântica lá dentro que conversa com as pessoas.

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