Numa altura em que se prepara a candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade, os irmãos Vitorino e Janita Salomé apresentaram recentemente o álbum "Moda Impura", um disco que segundo Janita Salomé é "mais uma tentativa de agitar as águas do cante."
Portugal Rebelde - O Padre António Marvão escreveu que “o Alentejo precisava de abrir as suas
portas à aventura, sair de si mesmo, ouvir outros cantes, outras vozes, sem
deixar os seus, já se vê…” No disco “Moda Impura”, procuram (re)inventar o
cante alentejano?
Janita Salomé - “Abrir as portas à aventura, sair de si mesmo, ouvir outros cantes, outras
vozes”, como escreveu o Padre Marvão é um desafio à inovação, quiçá à
reinvenção. Aceitar o repto é um risco que implica uma procura constante,
tentativas sucessivas de introduzir novos elementos instrumentais, melódicos,
modais ou rítmicos no cante sem descaracterizá-lo. Neste trabalho “Moda Impura”
aceitamos esse desafio.
PR - Numa altura em que se prepara a Candidatura do Cante Alentejano a Património
Imaterial da Humanidade, este disco de alguma forma nos alerta para a
importância de preservar e revitalizar o cante alentejano, numa linguagem atual
que torne ainda mais apetecível?
JS - O desejo de preservar e revitalizar deve estar presente na mente de todos os
alentejanos nele envolvidos, com o sem candidatura a Património Imaterial da
Humanidade. E, uma coisa é certa, a paixão dos alentejanos pelo seu cante é
muito forte. Ainda assim não deixo de reconhecer a importância da dira
candidatura.
PR - Os Textos de António Lobo Antunes para este disco são contributos para a
evolução do cante alentejano?
JS - O interesse de vultos importantes da nossa cultura pelo cante alentejano não é
novo e constitui sempre um estimulo. António Lobo Antunes exprimiu com profunda
sensibilidade e sabedoria nas quadras que escreveu, a sua grande paixão pelo
Alentejo. O cante sai enriquecido.
PR - O rapper Chullage participa num dos temas deste disco. Este é mais um
“contributo” no sentido do majestoso e misterioso cante alentejano evoluir?
JS - Ninguém melhor que o meu irmão Vitorino saberá pronunciar-se sobre esta
questão, pois é ele o autor do tema e quem convidou o rapper Chullage. No
entanto, não deixo de dizer que o cante alentejano é sobejamente rico para ser
motivo de inspiração nas mais diversas experiências muiscais. Lembro que Luís
de Freitas Branco compôs a “Suíte Alentejana” inspirado nos nossos corais
polifónicos.
PR - O álbum “Moda Impura” continua o
magnífico trabalho iniciado em “ Vozes
do Sul” editado em 2000?
JS - De alguma forma assim é de facto, mas em “Moda Impura” os riscos são maiores
como é natural e arriscarei ainda mais numa próxima abordagem.
PR - Numa frase apenas como caracterizaria “Moda Impura”?
JS - Mais uma tentativa de agitar as águas do cante.
PR - ”Moda
Impura”, foi apresentado muito recentemente no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Como é o público recebeu as canções deste disco?
JS - O público foi inexcedível no apresso com que nos recebeu e aplaudiu o
espectáculo.
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