15/10/2012

JANITA SALOMÉ | Discurso Direto


Numa altura em que se prepara a candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade, os irmãos Vitorino e Janita Salomé apresentaram recentemente o álbum "Moda Impura", um disco que  segundo Janita Salomé é "mais uma tentativa de agitar as águas do cante."

Portugal Rebelde - O Padre António Marvão escreveu que “o Alentejo precisava de abrir as suas portas à aventura, sair de si mesmo, ouvir outros cantes, outras vozes, sem deixar os seus, já se vê…” No disco “Moda Impura”, procuram (re)inventar o cante alentejano?

Janita Salomé -  “Abrir as portas à aventura, sair de si mesmo, ouvir outros cantes, outras vozes”, como escreveu o Padre Marvão é um desafio à inovação, quiçá à reinvenção. Aceitar o repto é um risco que implica uma procura constante, tentativas sucessivas de introduzir novos elementos instrumentais, melódicos, modais ou rítmicos no cante sem descaracterizá-lo. Neste trabalho “Moda Impura” aceitamos esse desafio. 
  
PR - Numa altura em que se prepara a Candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade, este disco de alguma forma nos alerta para a importância de preservar e revitalizar o cante alentejano, numa linguagem atual que torne ainda mais apetecível?

JS - O desejo de preservar e revitalizar deve estar presente na mente de todos os alentejanos nele envolvidos, com o sem candidatura a Património Imaterial da Humanidade. E, uma coisa é certa, a paixão dos alentejanos pelo seu cante é muito forte. Ainda assim não deixo de reconhecer a importância da dira candidatura.

PR - Os Textos de António Lobo Antunes para este disco são contributos para a evolução do cante alentejano?

JS - O interesse de vultos importantes da nossa cultura pelo cante alentejano não é novo e constitui sempre um estimulo. António Lobo Antunes exprimiu com profunda sensibilidade e sabedoria nas quadras que escreveu, a sua grande paixão pelo Alentejo. O cante sai enriquecido. 

PR - O rapper Chullage participa num dos temas deste disco. Este é mais um “contributo” no sentido do majestoso e misterioso cante alentejano evoluir?

JS - Ninguém melhor que o meu irmão Vitorino saberá pronunciar-se sobre esta questão, pois é ele o autor do tema e quem convidou o rapper Chullage. No entanto, não deixo de dizer que o cante alentejano é sobejamente rico para ser motivo de inspiração nas mais diversas experiências muiscais. Lembro que Luís de Freitas Branco compôs a “Suíte Alentejana” inspirado nos nossos corais polifónicos. 

PR - O álbum “Moda Impura” continua o magnífico trabalho iniciado em “ Vozes do Sul” editado em 2000?

JS - De alguma forma assim é de facto, mas em “Moda Impura” os riscos são maiores como é natural e arriscarei ainda mais numa próxima abordagem.

PR  - Numa frase apenas como caracterizaria “Moda Impura”?

JS - Mais uma tentativa de agitar as águas do cante.

PR - ”Moda Impura”, foi apresentado muito recentemente no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Como é o público recebeu as canções deste disco?
 
JS - O público foi inexcedível no apresso com que nos recebeu e aplaudiu o espectáculo.

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