15/04/2013

HELENA MATOS | Discurso Direto


Hoje em "Discurso Direto", é minha convidada Helena Matos, autora do livro "Os Filhos do Zip Zip" (A Esfera dos Livros, 2013). Através de um trabalho de pesquisa exaustiva, com recolha de anúncios, fotografias e material da época, a jornalista Helena Matos leva-nos numa visita ao Portugal dos anos 70. "A juventude dançava ao som do rock and rol, enquanto os pais ouviam falar pela primeira vez do flagelo da droga. Esta é a geração Zip Zip.

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu a ideia para retratar em livro o Portugal dos anos 70?

Helena Matos - Tinha feito a pesquisa para a série “Conta-me como foi” e estava a fazer pesquisa para um outro livro sobre a guerra e, pouco a pouco, deste período de 1968 a 1974 fui juntando histórias, dados, casos e factos que me parecia fazerem um todo coerente

PR - Quem são os filhos do Zip Zip?

Helena Matos - No livro são as crianças cujos pais viram o Zip-Zip. Essas crianças cujas vidas já foram muito marcadas pela televisão. Brincaram na rua como os seus irmão mais velhos mas aquele gesto de ligar a televisão passou também a fazer parte da sua rotina diária.

PR - Ao longo desta obra é possível recordar alguns dos anúncios, que marcaram a nossa Televisão. Há algum desses anúncios, que ainda hoje continuam vivos na sua memória?

Helena Matos - As provas de sabor da Planta: levei anos à espera de me cruzar com uma equipa que me convidasse para fazer a prova. O anúncio do Presto que tinha glutões que comiam as nódoas. Os anúncios à pasta medicinal Couto em que um negro fazia malabarismos com uma cadeira presa aos dentes… Na verdade acho que me lembro dos anúncios quase todos.

PR - No que toca à Música Portuguesa, o que é que estava na “moda” nos anos 70?

Helena Matos - Dependia muito. Tanto podiam ser Amália, António Calvário, António Mourão como os Green Windows, o Duo Ouro Negro ou o Quarteto 1111. Noutro registo muito mais político temos os cantores de intervenção como Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Zeca Afonso

PR - Vila de Mouros 1971, é um movimento identitário de uma geração?

Helena Matos - É. Musicalmente falando Vilar de Mouros não correu bem em 1971: choveu, a instalação sonora falhou, o público reagiu mal a alguns dos concertos nomeadamente o de Elton John, para o qual existiam expectativas muito altas. Houve discussões entre artistas, a organização acumulou prejuízos… Mas quem esteve lá viveu um ambiente único. O verdadeiro espectáculo de Vilar de Mouros é a assistência, aquele público onde se vêem hippies, homens de fato completo e logo ali ao lado no rio gente a tomar banho nua e outros nas suas tarefas agrícolas.

PR - Para terminar, Portugal mudou assim tanto nos últimos 40 anos?

Helena Matos - O país urbano que hoje somos, os hábitos de consumo que temos, a aposta no Estado Social, a importância da televisão… começaram precisamente no final dos anos 60, início dos 70.

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