Nascida no Porto e sustentada pela dialética presente no seu nome, a Bella Máfia mostra-se por fim. Mordaz, esclarecida e actual. Sete anos depois da primeira aparição ao vivo, lançam o seu primeiro álbum, uma peça levada a cabo em 12 actos. Em "Heróis, Vilões & Outras Conspirações" vivem vozes dissonantes, opiniões vincadas, divagações existenciais e amor, sempre o amor. E apenas quando o silêncio se instala, quarenta e um minutos depois do início desta viagem, cada um vestirá a pele do que daqui retirar: Um Herói, um Vilão ou uma Conspiração? Dela fazem parte: João Carneiro, Bruno Mayer, Tiago Coelho, Frederico Pereira e Valter Antunes.
Portugal Rebelde - Seis anos depois da formação, a Bella Máfia editou o seu disco de estreia. Houve alguma “conspiração” para que só em 2013 isso acontecesse?
Bella Máfia - Talvez tenha havido mesmo! Na verdade o disco começou a ser gravado em 2010 e o processo de pré-produção levou algum tempo. Depois disso, quisemos fazer tudo o resto com muita calma e saborear ao máximo a experiência, ainda p’ra mais estando a gravar com alguém como o Vítor Silva. Crescemos muito nesse período, e aprendemos muito também. E quando ouvimos o disco pela primeira vez, em Maio de 2013, não tivemos dúvidas de que valeu a pena a espera. O lançamento que fazemos agora é ‘apenas’ físico, isto porque desde Maio do ano passado que é possível ouvir as nossas conspirações já que o nosso disco vive na teia digital desde essa altura, e muita gente fez a compra do disco em formato digital e uma pré-reserva do formato físico do álbum que apresentamos agora.
PR - “Heróis, Vilões e Outras Conspirações”, é uma “peça” levada a cabo em 12 atos. O Amor é o fio condutor a estas 12 canções?
Bella Máfia - O amor próprio talvez…e não deixa de ser amor. Isto porque o disco, o ‘argumento’ desta peça com 12 actos é essencialmente introspectivo, vive intensamente de um olhar para dentro. Mas não de uma forma egoísta, pelo contrário. Procura apenas fazer com que olhemos para nós próprios e que nos conheçamos primeiro, conseguindo saber do que somos capazes. Explora tudo aquilo que nos faz agir e reagir. Procura saber do que somos capazes de despertar nos outros, e o que a nós nos desperta. Logicamente, o amor tem um papel central em todo o ser humano. Talvez seja o amor de facto…
PR - Numa frase apenas como caracterizariam este disco de estreia?
Bella Máfia - Essa é uma pergunta difícil. Sem clichés, creio que essa é uma pergunta para ser colocada a cada pessoa que o ouvir. Pois a nossa interpretação e a forma como o vemos será sempre diferente da dos outros. Mesmo entre nós os 5 há essa diferença. De resto, pensamos que o próprio título já é uma boa caracterização, um bom resumo do que podemos esperar do álbum. Portanto, se tivéssemos que o resumir numa frase, nada melhor que o próprio título. Nele habitam heróis, vilões e outras conspirações. Cabe a cada um encontrá-los.
PR - “Lavagens cerebrais” foi o single escolhido para apresentar este “Heróis, Vilões e outras Conspirações”. De que é que nos fala este tema?
Bella Máfia - Fala-nos da passividade com que temos encarado as nossas vidas. Algo que vemos como o maior problema da nossa geração, que vive erradamente agarrada à ideia de ter tudo quando na verdade tem muito pouco e vive cada vez mais de uma forma submissa e falsamente livre. Não é nem pretende ser uma música de intervenção até porque já não acreditamos que isso exista. Ou pelo menos que exista ou possa existir, ou ser apresentada como o foi noutros tempos. O mundo e as pessoas mudaram de uma forma que a influência da música na ‘intervenção’ se apresenta como algo muito difícil de se conseguir. Tentamos por isso sintetizar, encurtar distâncias, simplificar a mensagem. A ‘Acção! Reacção?!’ que proclamámos em Lavagens Cerebrais terá de nascer do tal impulso interior, não poderá nascer em qualquer revolta das massas. Já fomos bem mais utópicos do que o que somos hoje. É pena!
PR - Já tiveram oportunidade de dar a conhecer este disco de estreia. Qual tem sido o “feedback” do público?
Bella Máfia - Não nos podemos queixar porque todas as reacções de quem ouve o nosso disco têm sido de facto muito positivas. Queixamo-nos sim da dificuldade com que nos deparamos na sua promoção. Tem sido de facto muito complicado conseguir mostrar este disco a mais gente. Por vezes revela-se tarefa de ‘herói’ conseguir uma pequena notícia, um artigo ou uma referência à nossa música nos veículos de comunicação. Mais ainda quando falamos de rádios, nomeadamente as grandes rádios nacionais. As redes sociais têm por isso desempenhado um papel fundamental e quase exclusivo nessa promoção. Grão a grão vamos enchendo o papo da nossa galinha…mas não é de todo fácil promover um projecto como o nosso no nosso país e no nosso espectro musical.
PR - Para terminar, Bella Máfia, é a “senha” ideal para inquietar os espíritos?
A nós parece-nos que sim. Em nós e para nós, é isso que acontece. Parece-nos também que é dessa mesma inquietação que se alimentam os espíritos. Tentamos fazer a nossa parte, falando das coisas mais banais através de uma linguagem crua mas nem por isso vulgar. Tentamos tocar as pessoas com coisas que nos tocam ou tocaram a nós. Não nos vemos como “mensageiros”, mas a “mensagem” está lá, para quem a quiser entender. Os espíritos inquietam-se (ou não) mediante a descodificação e interpretação que cada um dá às nossas palavras.
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