21/08/2014

FADO IN BOSSA | Discurso Direto


Fado in Bossa é um projeto que funde o género musical do Fado tradicionalmente Português e a Bossa Nova originária do Brasil. É um projeto luso-brasileiro criado por Ana Gomes, cantora natural de Braga, e Uriel Varallo, pianista natural de São Paulo, Brasil. O primeiro álbum do projeto intitula-se "Fado Tropical", indo buscar o seu título ao tema com o mesmo nome de Chico Buarque e Ruy Guerra. Ana Gomes, é hoje a minha convidada em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu o projeto Fado In Bossa?

Ana Gomes - O projeto Fado in Bossa surgiu quando em 2008 conheci o maestro e pianista Uriel Varallo, um especialista da Bossa Nova e conversamos um pouco sobre a possibilidade de fazermos um projeto associado ao conhecido Fado canção, que eu tanto gosto. A ideia começou a dar frutos pouco tempo depois quando percebemos que podíamos rearranjar velhos temas de Fado, como por exemplo a Rosinha dos Limões, Coimbra ou Lenda da Fonte, dando-lhes uma nova sonoridade, com o ritmo e a vibração da Bossa Nova.

PR - Este primeiro disco, “Fado Tropical” é uma fusão de duas culturas, uma simbiose entre a saudade do fado e a esperança da bossa nova. Estes dois estilos completam-se e enriquecem-se?

AG - Sem dúvida… Penso que para percebermos isso basta escutar um pouco deste primeiro álbum. O nosso Fado, tradicionalmente saudosista e melancólico, na maioria da sua essência, transporta-nos para sentimentos semelhantes contudo, através desta fusão com a Bossa Nova o Fado é mais “leve”, mais “alegre”, não perdendo nunca a mensagem implícita na letra da canção nem o modo de interpretar que tem de ser sempre muito adequado e peculiar. Mas a Bossa Nova por natureza interpreta a vida e a morte, o amor e o desamor com esperança, daí que penso que a conjugação tem sido ideal, e felizmente tem funcionado na perfeição.

PR - Neste primeiro trabalho discográfico podem ouvir-se temas tradicionais do fado português com novos arranjos. Qual foi a preocupação na escolha dos temas?

AG - É sempre muito complexo escolher apenas doze temas de entre um repertório imenso de Fado. Contudo, ao longo do tempo fomos percebendo que nem todas as canções de Fado se adequariam ao projeto Fado in Bossa, daí que alguma seleção, naturalmente, já estava delimitada. Ainda assim a seleção foi muito complexa pois apesar de trabalharmos muito bem juntos, eu e o maestro Uriel temos gostos um pouco diferentes. Decidimos elaborar, cada um de nós, uma lista com as nossas doze preferências para integrar este primeiro álbum e as listas coincidiam apenas em uma música. Foi caricato mas chegamos a um entendimento que hoje a ambos nos parece ter sido o melhor pelas reações que vamos obtendo por parte do público. Quem sabe, provavelmente para um segundo álbum os restantes temas surgirão.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas – como caracterizaria este "Fado Tropical"?

AG - Muitos elementos naturais, com apelo à água, ao fogo, ao céu, etc., que se conjugam dentro de quem ouve através de ritmos de amor, sofrimento, vivacidade, alegria e conquista.

PR - “Fado Tropical” já foi apresentado em palco. Como é que o público tem reagido a esta fusão entre o fado e a bossa nova?

AG - O público tem sido absolutamente maravilhoso. Considerando que este é o nosso primeiro álbum nunca esperamos que as plateias começassem desde logo a cantar os temas connosco, confiando plenamente nos novos ritmos de alguns fados que tão bem conhecem. A melhor sensação é terminarmos os concertos numa consonância sem igual, com o público todo de pé, cantando connosco e batendo palmas, muitas palmas e muitas vozes.

PR - Para terminar, há algum fado deste disco que a toque em particular? Porquê?

AG - A Rosinha dos Limões que se tornou o single deste álbum é sem dúvida o tema que mais me toca por vários motivos. Foi a primeira canção que decidimos que iria constar de um possível repertório do projeto Fado in Bossa em 2008. É sempre o tema que mais me diverte cantar. Isto também porque, muito antes da gravação do álbum, em apresentações, foi sempre a Rosinha dos Limões que suscitou mais atenção, interesse e vontade de “cantarolar” connosco. É um tema que atravessa gerações, sem dúvida. Temos pessoas com mais idade que a conhecem e cantam connosco relembrando a versão do seu autor, o grande Max, e temos jovens que a conhecem pela nossa versão e que a primeira coisa que me perguntam é se hoje vou cantar a Rosinha dos Limões. Sem dúvida um tema muito especial.

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