04/10/2014

LUÍSA AMARO | Discurso Direto


Hoje recebemos no Portugal Rebelde, Luísa Amaro; discípula do mestre Carlos Paredes, que acompanhou na vida e nos palcos de todo o mundo. "Argvs" é o seu novo trabalho que vem reafirmar o universo original e fascinante da voz da guitarra portuguesa. Inspirada nas emoções clássicas mediterrâneas, a compositora faz, agora, um exercício histórico de harmonias diferentes e rompendo definitivamente com a formal tradição de tocar guitarra: sem dedos calejados, são as cordas sentimentalizadas que expressam afectos livres e únicos de um tempo sem tempo, nem género, meia volta no destino da identidade portuguesa.

Portugal Rebelde - “Argvs”, une Portugal e Grécia sob inspiração homérica. A aproximação à Grécia fez-se “por mero acaso”?

Luísa Amaro - Foi um trabalho pensado, em que a Grécia aparece como consequência de toda a Odisseia que eu queria evocar…Claro que o trabalho se foi construindo lentamente e cada vez era mais forte a ideia de unir dois povos, duas civilizações tão antigas, com séculos de História e que têm tanto em comum.

PR -  É verdade que a sua guitarra é uma espécie de caravela que vai recebendo e vai dando da sua cultura, ligando-se aos povos?

LA - Sim, é uma imagem que me é muito querida. Eu só vejo a guitarra portuguesa como uma ponte para outras culturas. Um instrumento de partilha, que dá e que recebe por cada porto por onde viaja.

PR -  que se ficou a dever a escolha de “Argvs” para título deste disco?

LA - “Argvs” é o cão de Ulisses, é o símbolo da fidelidade, da amizade, da lealdade intemporal. Também o símbolo do cão dos 100 olhos, do profundo observador e companheiro das aventuras e bons momentos. Senti que era importante “dar vida” a estes sentimentos, num Mundo cada vez mais alheado do que é verdadeiramente fundamental à vida!

PR - “Argvs”, é um disco com temas que remetem para a Odisseia (Argus, Tirésias, Circe…), fecha com Penélope. É o lado mais “doce” da sua guitarra?

LA - Sim. A guitarra também pode ser doce e melódica. As linhas melódicas simples naquelas 12 cordas de aço chegam profundamente às pessoas. E fico feliz quando as pessoas mo referem…

PR -  Numa frase apenas – ou talvez duas- como caracterizaria este “Argvs”?

LA - “Argvs” é um disco de partilha. Mediterrâneo – mar de viagens e emoções.

PR - Para terminar, no ano em que comemoram dez anos do desaparecimento de Carlos Paredes, este génio da guitarra portuguesa continua a ser a sua fonte de inspiração?

LA - Sempre! Carlos Paredes é e será sempre uma lição de vida e uma inspiração que nos aconselha a seguir o nosso próprio caminho.

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