08/11/2014

DANIEL CATARINO | Discurso Direto


Daniel Catarino é um cantautor português, que para além do seu trabalho a solo é membro das bandas Uaninauei e Bicho do Mato. Numa edição da Capote Música, o músico acaba de lançar o seu primeiro disco a solo, "Bens que vêm por mal". O Portugal Rebelde esteve recentemente à conversa com o músico alentejano, que em "Discurso Direto" nos apresenta o mostruário de canções que podemos descobrir neste primeiro registo.

Portugal Rebelde - Podemos dizer, que este “Bens que vêm por mal”, é um disco que engloba a música eletrónica (por vezes até dançável) com um universo muito português de religião, tragédia, fado e adultério?

Daniel Catarino - Sempre considerei difícil fazer um trabalho de bom gosto no âmbito da Pop, e foi a esse desafio que me propus com este disco. Na adolescência, abominava tudo quanto fosse música electrónica, e acho que isso se devia à falta de conteúdo das letras, que pareciam uma espécie de livro de clichés de autoajuda em repetição. Uma música que faça as pessoas querer dançar não precisa de incentivar a dança, o que deixa espaço para trabalhar a palavra, que é algo que faço com todo o gosto. Quanto aos assuntos abordados, tal como dizes, são todos bem portugueses, e sendo eu português a viver em Portugal, vejo na minha cultura fontes infinitas de inspiração, ora pela positiva, ora pela negativa.

PR - Ao longo das 6 canções deste disco, tens um olhar muito crítico sobre o mundo que te rodeia. A cantiga ainda é uma arma?

DC - As minhas canções são desabafos, alguns deles bastante agressivos porque algo me perturbou ao ponto de querer expelir as palavras sem os filtros habituais do quotidiano. Não as vejo como armas, vejo-as como tentativas de identificar sombras que pairam sobre nós e que quanto mais gente as reconhecer, mais provável é conseguirmos dar-lhe alguma luz. Vejo-as mais como detectives desarmados que procuram descobrir uma qualquer verdade.

PR - Em termos musicais, “Bens que vêm por mal” apontas “baterias” para a pop nacional dos anos 80. António Variações, é o nome maior desse universo?

DC - É a minha maior referência, porque uniu a música mais dançável ou alegre com letras que espelham a nossa cultura, com todas as suas qualidades e defeitos que se tornam sombras sem cara nem nome. Nos últimos anos tenho sentido uma vontade crescente de explorar a nossa cultura musical, talvez por ter crescido nos anos 90 e trazer daí referências quase exclusivamente anglo-saxónicas.

PR - Para além do teu trabalho a solo, também és membro das bandas Uaninauei e Bicho do Mato. O que é que une todos estes projetos?

DC - Tem tudo base na paixão que tenho pela música, que passa tanto por estar em casa a trabalhá-la sozinho como estar com os amigos a criar em conjunto. Tive a sorte de conhecer muitos músicos com grande criatividade ao longo dos últimos anos, e os projectos foram aparecendo naturalmente dessa vontade comum de fazer o que ainda não está feito em vez de reproduzir.

PR - Qual tem sido o “feedback” público a este “Bens que vêm por mal”?

DC - A resposta tem sido muito positiva, a primeira edição está prestes a esgotar apesar da pouca divulgação de que tem sido alvo, fruto da natureza independente da edição. No entanto, graças aos meios de comunicação independentes, tem passado em diversas rádios nacionais e estrangeiras, tem sido noticiado e criticado em diversos blogs e páginas, e tenho recebido muitas mensagens de parabéns pelo disco. Considerando os recursos escassos da edição, penso que a resposta ultrapassou em muito as espectativas.

PR - Para terminar, numa frase apenas como caracterizarias este “Bens que vêm por mal”?

DC - Um disco de cantautor, criativo e com identidade, tanto individual como colectiva.

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