Nos próximos dias 28 e 29 de Novembro realiza-se o 1º Congresso do Bombo na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Um evento que conta com o Alto Patrocínio da Presidência da República e sob a organização da Associação Tocá Rufar. Maria Ceia, directora artística e pedagógica da Tocá Rufar, é hoje minha convidada em "Discurso Direto".
Portugal Rebelde - Nos dias 28 e 29 de Novembro realiza-se o 1º Congresso do Bombo na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Qual é o grande objetivo deste encontro?
Maria Ceia - O I Congresso do Bombo quer marcar um ponto de viragem no movimento das orquestras de percussão tradicional portuguesa assente em 3 determinações fundamentais. A primeira consiste na canalização do saber e das competências associados ao bombo português e à sua prática e viabilizar a sua difusão, a segunda em reafirmar os bombos tradicionais enquanto génese e razão deste movimento – impondo, de alguma forma, a enunciação dos elementos fundamentais deste património e a sua preservação - e, por fim, em reconsiderar o futuro artístico-cultural, educativo e económico deste movimento.
PR - O programa deste congresso estrutura-se em três debates complementares, que abordam, respectivamente, a dimensão educativa, económica e artístico-cultural. Querem falar-nos um pouco deste momento?
Maria Ceia - Acreditamos que o universo do bombo deve ser pensado enquanto contexto sociocultural e não meramente como escola ou espaço criativo e por isso a necessidade destes debates paralelos; e que tem de ser sustentável e consequente. Esta ideia de contexto sociocultural admite uma série de perspectivas e envolve um compromisso maior. Por isso convidámos 3 personalidades maiores a quem confiámos a orientação do debate: Domingo Morais, na dimensão educativa, Augusto Mateus, na dimensão económica e Rui Vieira Nery, na dimensão artístico-cultural. Em certa medida a discussão será válida para o bombo nos aspectos mais específicos mas, na sua generalidade, também para a cultura e a arte em geral. Qual deverá ser o lugar da cultura e da arte na sociedade portuguesa actual? Onde e como deverá estar presente? Como se ensina e onde? Como se sustenta? – são perguntas muito interessantes e difíceis de responder e de uma importância ímpar.
PR - Paralelamente, neste 1º congresso do Bombo haverá momentos musicais, actividades formativas para crianças e adultos. Este é um espaço aberto a todos aqueles que desejem participar? Como o podem fazer?
Maria Ceia - A tradição do bombo implica uma prática. Participar da cultura do bombo é primeiro que tudo tocar e/ou ouvir os bombos. O debate só existe porque antes teve lugar uma prática. Assim, o I Congresso do Bombo também poderá ser fruído enquanto evento musical com espectáculos onde se poderá ouvir tocar bombo e oficinas de formação onde se poderá experimentar a tocar. A entrada no Congresso faz-se mediante a compra de um bilhete que é válido para os 2 dias em www.tocarufar.com/congresso ou na Aula Magna, nos dias do evento: 28 e 29 de Novembro a partir das 9h da manhã. Em alternativa e até dia 23 de Novembro está a decorrer uma campanha de financiamento colectivo, um crowdfunding – em http://ppl.com.pt/pt/prj/congresso-do-bombo onde, pelo donativo no valor de 10,00€, se obtém o ingresso para os 2 dias. O congresso também está creditado como acção de formação para professores do ensino básico e secundário, na medida em que aposta fortemente em temáticas relacionadas com a educação e o ensino das Artes Tradicionais nas escolas O programa está disponível em em www.tocarufar.com/congresso.
PR - Qual o papel do Bombo enquanto instrumento e agente social na música tradicional portuguesa?
Maria Ceia - Se nos cingirmos ao contexto do Tocá Rufar podemos dizer que o bombo é o elemento centrar e aglutinador. O bombo é um tambor, talha a forma como sentimos a música no tempo e fá-lo de um modo grave, bastante profundo – como se fosse vital. Atribuímos-lhe características humanas nobres como seja a resiliência, a coragem mas também a fraternidade... porque tocar bombo implica um pouco de tudo isso. O bombo, por si só, não ajuntará um cunho tradicional à música. Com ele (ou com qualquer outro instrumento da tradição) terá de subsistir a génese da sua prática e cultura. Contudo, como os tempos são diversos do passado a prática contemporânea assumirá novos contornos. Qual o papel do bombo na música tradicional no presente? - é uma questão que está por desvendar. E o mesmo para o lugar da música tradicional portuguesa em geral. Certo é que vivemos um período de efervescência que augura coisas boas. É o momento ideal para realizar um Congresso do Bombo.
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