Hoje em "Discurso Direto" são meus convidados Os Velhos. O segundo disco da banda, homónimo, é uma edição conjunta da Amor Fúria e da Florcaveira e é composto por 9 canções feitas ao longo dos últimos 4 anos e gravadas entre 2015 e 2016 no Estúdio Zeco pelo João Só.
Portugal Rebelde - Antes de mais, a que se fica a dever esta longa espera?
Os Velhos - O tempo que demorámos a fazer este disco é uma consequência da maneira como nos relacionamos com a actividade de fazer músicas. Por um lado, o facto de fazermos outras coisas faz com que o tempo que temos para tocar seja limitado. Isso torna-se particularmente influente numa banda como a nossa em que processo de afinação das musicas passa por as tocarmos muitas vezes juntos, sendo por isso preciso conciliar as disponibilidades de todos. Por outro lado, gostamos da lentidão, de poder fazer as coisas com calma, só quando achamos que vale a pena, e de poder ter tempo para conhecer bem as musicas antes de as lançar. É um equilíbrio entre a liberdade na relação com as músicas e o compromisso de as procurar que nem sempre é fácil, mas que neste disco deu um resultado de que gostamos muito.
PR - Quando em 2011 lançaram o vosso disco de estreia, alguma se sentiram parte de uma coisa que ia mudar a música portuguesa?
Não. Nem nos interessa esse olhar para a música portuguesa em geral. Há algumas coisas feitas em Portugal de que gostamos muito, mas interessam-nos cada uma na sua especificidade. A referência à música portuguesa como um conjunto que cobre muitas coisas diferentes não tem grande significado para nós. No que diz respeito à nossa participação, limitamo-nos a fazer umas músicas a pô-las aí para quem as quiser ouvir, não temos outras intenções, pelo menos de carácter público.
PR - As canções mudaram; onde antes ouvíamos os National com Halloween na frente, agora temos os Walkmen com o Francisco a cantar. É verdade que neste disco estão menos urbanos, menos negros?
Os Velhos - É verdade que as canções mudaram. Saiu uma guitarra e entrou um órgão, todas as músicas são lentas, fizemos dobras com piano e guitarras acústicas, mas somos mais ou menos os mesmos com mais uns anos, parece-nos que alguma coisa do primeiro disco passou para este. Continuamos a procurar as mesmas coisas, mas de maneiras diferentes. Quanto a essas referências a outras pessoas, por mais elogiosas que possam ser (não conhecemos muito bem walkmen), esperamos que as músicas vão para além dessa descrição. Também não nos interessa muito classificar as nossas músicas, pelo que não sabemos dizer se estamos mais negros ou mais claros, mais urbanos ou mais rurais. Embora consigamos perceber mais ou menos de onde vêm essas palavras, preferimos que as músicas funcionem por si próprias e não tentar substituí-las por palavras.
PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste álbum?
Os Velhos - Embora seja difícil eleger uma música que caracterize o "espírito deste álbum", tentámos escolher para ir mostrando o disco algumas músicas que o apresentassem antes do lançamento. Essas três músicas, para as quais já fizemos vídeos, mostram um bocado do que se pode encontrar no disco. Talvez a última que lançámos, que se chama Manso, possa servir para quem nunca ouviu nada ficar com uma ideia...
PR - ”Um dia o pai conheceu Os Velhos, a banda de rock português que mais lhes inchou o coração”. É isto que um dia gostariam de dizer aos vossos filhos?
Os Velhos - Seguramente diremos aos nossos filhos que conhecemos os velhos e que nos incharam o coração, mas não tanto por serem uma banda de rock, mais por serem grandes amigos nossos com quem fizemos uma data de coisas. Se a pergunta se dirige ao que gostaríamos que outras dissessem de nós como banda, isso não nos interessa muito. Não sabemos bem porque é que fazemos músicas, mas seguramente tem mais que ver com uma necessidade nossa que nos faz descobri-las do que com intenções para atingir objectivos determinados. Por isso, o que fazemos ao lançar o disco é expor um conjunto de músicas com que são importantes para nós. O melhor que pode acontecer é que essas músicas sejam lugares onde outras pessoas encontrem coisas boas, e esperamos que isso possa acontecer, mas essa relação é com as músicas e não connosco. O que fica são as músicas, não somos nós. Também é dessa maneira que olhamos para as músicas de outros de que gostamos.
PR - Definitivamente, este 2º disco homónimo será o vosso “canto do cisne”?
Os Velhos - Se o cisne canta uma bela melodia antes de morrer, podemos dizer que em parte esperamos que sim, esperamos que este disco possa ser uma bela melodia que tenha qualquer coisa que ver com a naturalidade do canto de uma ave. Quanto à referência ao fim, não faz sentido para nós decretar o fim da banda, até porque passamos muito tempo uns com os outros a fazer estas e outras coisas, mas também não temos planos nem objectivos para cumprir. Na verdade, também não sabíamos se este disco que agora lançámos ia ser acabado, só a certa altura é que achámos que valia a pena fazer um esforço para o fechar. Para além disso, acontece que, com as mudanças que temos vindo a acolher nas nossas vidas, é provável que seja cada vez mais difícil reunir as condições para que voltemos a fazer discos, pelo menos da maneira que fizemos até agora, mas isso não nos preocupa. Se não estivermos a tocar, em princípio será porque arranjámos coisas que achamos mais importantes para fazer.
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