27/02/2018

JOSÉ BARROS NAVEGANTE | Discurso Direto


"À'Baladiça", é o nome do novo álbum de José Barros Navegante. Este disco é a 11ª edição (entre 1994 e 2017) do projecto Navegante, o 22º disco de José Barros, em nome pessoal ou outros projectos, além de mais de uma centena de participações noutras edições enquanto músico convidado (Fausto Bordalo Dias, Amélia Muge, Rão Kyao, etc.), ou produtor e editor (Isabel Silvestre, Mário Mata, etc.) ou ainda como director musical (Festival Sete Sois Sete Luas: La Gialetta, MedKriolOrkestra, Mazagão7Luas, Cunfrontos7Sóis, etc.) ou ainda outros projectos: Quatro Ao Sul (prémio José Afonso 2013), José Barros e Mimmo Epifani (projecto luso-italiano).

Portugal Rebelde - "À’Baladiça, é o nome escolhido para título deste novo trabalho. Quer falar-nos um pouco desta escolha?

José Barros Navegante - A Abaladiça é um termo que se usa no Alentejo quando se quer beber a ultima rodada antes da partida. À’Baladiça é o uso da prosódia como o povo a diz. Bebemos a última rodada e partimos. Em Inglês One For The Road; a “saideira” no Brasil e não só. Uma para o caminho, ou a ultima para o caminho. Não foi ideia segura que este pudesse ser a ultima viagem deste projecto de José Barros: o Navegante. Não vamos abalar. Mas depois deste disco a ideia será gravar apenas originais, tendo como sempre a música portuguesa como referencia, sempre, mas sem temas tradicionais que normalmente faziam parte do alinhamento, muitas vezes pequena parte, dos discos anteriores. Após À’Baladiça, apenas originais em próximos registos de José Barros Navegante.

PR - Amélia Muge, Camilo Pessanha e Teresa Muge são os autores de três das 11 canções deste disco. Há alguma razão especial nestas escolhas?

José Barros Navegante - Há sempre razões especiais para escolhermos este ou aquele poeta, este ou aquele poema. No caso de Amélia Muge, uma cumplicidade e amizade de muitos anos com parcerias já nos discos anteriores e desde o primeiro disco em 1994, com uma escrita que sempre me encantou e encanta. Portanto uma cumplicidade de muitos anos. A Teresa Muge porque há muito que a conheço e criei o gosto pela sua forma de escrita muito singular. Apenas este Flor de Peito agora, mas seguramente outros se seguirão. Camilo Pessanha pela actualidade de escrita poética de um poeta que viveu há 100 anos atrás mas continua acutilante como se tivesse escrito Porque O Melhor hoje mesmo.

PR - “Músicos, cravos e rosas” foi a canção escolhida para single de apresentação deste disco. Este é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste "À`Baladiça"?

José Barros Navegante - Poderia ser. Este tema pode ser o espírito deste disco. Mas assim seria em todos os outros discos Navegante. Na verdade este tema fala dos músicos, da sua vida difícil e etérea, sem rumo certo porque as condições económicas não o permitem. Ter como profissão a música continua a ser na maior parte dos casos, em Portugal e se calhar no mundo, uma dúvida permanente: teremos espectáculos?; Poderemos viver do trabalho que fazemos?; teremos condições para voltar a gravar?. Todas estas duvidas fazem parte do dia a dia de um músico, de um cantor, de um produtor musical. Músicos, Cravos e Rosas. Tiramos a vírgula e diremos músicos escravos e rosas. É a prosódia a funcionar (in)conscientemente.



PR - No próximo dia 10 de Março as canções deste disco são apresentadas no C.C. Olga Cadaval, em Sintra. O que é que o público pode esperar deste concerto?

José Barros Navegante - Pode esperar um grande concerto. Serão 2 horas de espectáculo para ouvir todos os 11 temas e todos os músicos e cantores convidados desta À’Baladiça, na 1ª parte, e 11 canções escolhidas de todos os outros discos passados. Festejamos 25 Anos com muitos convidados: Mimmo Epifani (Itália), Rão Kyao, Carlos Alberto Moniz, Samuel Quedas, Rui Vaz, José M. David, Armindo Neves, Isabel Silvestre, etc.

PR - Numa frase como caracterizaria este "À `Baladiça"?

José Barros Navegante - Música portuguesa, viva, actual e sobre o Portugal dos nossos dias, na sua relação com as culturas do mundo actual. Sem aculturação mas com saudável relação cultural com outras referencias musicais, outras culturas, outros países mas sempre a mesma cultura: a qualidade musical, bons músicos, bons cantores e boa escrita porque temos muito para dizer.

PR - Para terminar, que memórias guarda destes 25 anos de canções?

José Barros Navegante - 25 Anos, 11 discos de música portuguesa, de instrumentos portugueses, de canto polifónico português, mas sempre, sempre em franca relação com outras culturas musicais e universais, recriando temas tradicionais ou criando originais. 11 discos, 160 canções, das quais 52 são temas tradicionais e a grande maioria são originais. Sempre com boas referencias criticas, boas ou más assim é a vida de compositor, mas sempre com a vontade de fazer boa música que nos apaixone e aproxime da realidade de ser português. Foi com este carácter que José Barros e Navegante se apresentou em espectáculos por toda a Europa, Brasil, Estados Unidos, África, etc. Mas no final a memória será mesmo os 11 discos até agora editados com que nos apresentamos ao mundo.

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