“Nação Valente”, o novo disco de Sérgio Godinho, chegou recentemente às lojas e a todas as plataformas digitais. Tratado como um acontecimento na música portuguesa, este é o primeiro álbum de originais do “escritor de canções” em sete anos. Dez crónicas do nosso dia a dia, uma coleção de canções, todas elas recebidas pelos media com pompa e circunstância, com o valor que lhes é totalmente merecido. Hoje em "Discurso Direto" recebemos Sérgio Godinho.
Portugal Rebelde - Desde “Sobreviventes” (1972) a 2018 com “Nação Valente”, o seu olhar continua focado neste país?
Sérgio Godinho - Acho que nunca deixou de estar, porque inclusivamente continua focado no ser humano, nas pessoas, no íntimo das pessoas e naquilo que elas pensam, agora sim, passa muito por este país. Aliás os meus dois primeiros discos, eu tenho plena consciência a escrever em português, foi uma maneira de não perder o elo através da língua, uma vez que estava exilado. Foi assim uma espécie de "coisa" que me prendeu muito a este país, sem dúvida. Na canção "Nação Valente" é muito explicito.
PR - Que histórias são estas que encontramos neste “Nação Valente”?
Sérgio Godinho - São as histórias que as pessoas quiserem ouvir e ler, são as histórias que as pessoas reconstroem, são histórias de vida, são histórias de pessoas. Eu interesso-me muito por pessoas, mais do que escrever sobre o coletivo. Interesso-me em perceber o que se passa nos comportamentos das pessoas, perceber porque é que fazem isto e não aquilo. Sou um observador também social, e daquilo que está bem e está mal neste país, e portanto são todas as histórias misturadas. Não é só quando as canções têm um nome de pessoas, o caso de "Mariana Pais 21 anos", não é só aí que estou a contar histórias de pessoas. Claro que no caso de "Mariana Pais 21 anos" é muito específico, eu digo "Diz-me por onde vais com essa sede de mundo". É uma rapariga com 21 anos, que tem uma sede de mundo como eu tinha aos 21 anos e partir deste país. Parti, porque precisava de conhecer, viver noutros lugares e de emergir noutras culturas, nouto quotidiano e noutra língua.
PR - “Noite e dia” é o tema mais
dramático deste “Nação Valente”. Este é um retrato dos nossos dias?
Sérgio Godinho - Sim, é o mais dramático, é o retrato de muita gente. É uma personagem que já não se está sequer a reencontrar consigo própria. Não sabe se é dia ou se é noite, vê os filhos ao domingo, o vento sopra frio. Ele está de facto na pior, como se costuma dizer. Eu penso que há muita gente que viveu e vive esse drama de fazer trabalhos de que não gosta, e a certa altura estar numa acumulação que é neurótica mas que é necessário, se calhar, para muita gente em termos financeiros. Posso dizer que é o retrato dos nossos dias.
PR - “Nação Valente” á a canção mais política deste álbum?
Sérgio Godinho - Sim, é política, é social, sócio-política. É uma canção que fala do período pós-troika, de um período em que estivemos mesmo muito negro, com a conivência exagerada do governo português de então. Quando foi dito que era preciso ir para além da troika, é um grande tiro num grande pé. O tema fala desse "não quero ver-te numa gaiola de mão estendida por esmola", mas fala da necessidade de sair disso e ter uma atitude positiva, sobretudo puxarmos pelas nossas próprias forças, pelos nossos brios, e há que ir em frente não valente. Nós não somos sempre valentes, mas é também uma afirmação e um desejo e portanto nessa afirmação está um poema potencial.
1.
PR - Nos dias 23/24 de Fevereiro e 3/4 de Março apresenta as canções deste disco em Lisboa e no Porto respetivamente.
O que é que o público pode esperar destes concertos?
Sérgio Godinho - Vão estar presentes as canções deste disco, senão todas, quase todas e vão estar canções mais antigas sem ordem de preferência, até porque eu e os músicos com quem trabalho já há muito tempo, temos que apresentar as canções novas às canções antigas e fazer com que elas se dêem bem ou que elas se mesclem.
PR - Para terminar, está contente com o resultado final deste disco?
Sérgio Godinho - O disco entrou diretamente para o nº 1 do TOP, penso que está a cumprir as expectativas. É evidente que é tudo relativo, porque há uma grande crise no mercado discográfico, as criticas que o disco teve foram completamente positivas.
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