20/03/2018

BUDDA POWER BLUES | Discurso Direto


Com 14 anos de carreira o trio bracarense Budda Power Blues editou recentemente o seu 7º disco "Back To Roots". Na eterna busca de novos caminhos do Blues, Budda Guedes procurou nos baús da memória e da história elementos portugueses que facilmente fizessem a ponte com o seu Blues. O temor a Deus, os ritmos pulsantes da chula e do malhão, o choro do fado, o embalo da canção de trabalho, a paz da paisagem, a relação com a natureza. Tudo está presente neste disco que procura também as origens remotas do Blues.

Portugal Rebelde - “Back To Roots” é um disco onde o imaginário lusitano está fortemente presente. É um regresso às origens?

Budda Power Blues - Não é bem um regresso, mas sim uma viagem às origens. Ultimamente tenho tomado consciência da importância da nossa portugalidade e da individualidade que ser português nos confere. Ouço muitas vezes “Nasceste no país errado! Se fosses americano estarias a tocar por todo o mundo”. Eu acho que sou o que sou exactamente porque nasci em Portugal. Este disco estabelece uma realidade paralela onde a génese do Blues e Portugal dessa época se encontram. É uma ficção sobre qual poderá ter sido ou teria sido a influência da cultura lusitana sobre o Blues.

PR - “Back To Roots” é o 7º disco da vossa carreira. 7 é um número muito especial não só para os Blues como para a humanidade. O 7 simboliza também renovação. É também isto que procuram neste disco?

Budda Power Blues - Em todos os discos procuramos fazer algo de novo e diferente e gosto muito de compor conceptualmente. A ideia do numero 7 e todo o seu simbolismo levou o disco para um campo quase que cinematográfico e de banda sonora, pintando paisagens e cenários. Este disco marca a nossa assunção enquanto portugueses que tocam Blues, e que o fazem de uma forma diferente precisamente por sermos portugueses.

PR - “Back To Roots” conta com a participação especial dos Galandum Galundaina em “Healing Heart” e Wolfram Minneman, piano em “Blues Sticks With You”. e Danny Del Toro em “Virtual Blues”. Querem falar-nos um pouco destes “encontros”?

Budda Power Blues - Os convidados nos discos de Budda Power Blues são já uma tradição. é uma bela oportunidade para imortalizar as amizades e parcerias musicais. Em relação ao Wolfram Minnemann, já há muito que gostaríamos de gravar com ele. É uma figura incontornável do Blues Nacional e uma grande inspiração. Sendo este o primeiro disco do Carl Minnemann com Budda Power Blues, parecia ainda mais óbvio convidarmos o Minnemann pai para entrar no disco. Os Galandum Galundaina são amigos de longa data e são os responsáveis por esta minha consciencialização para importância de sermos portugueses e de termos quase como que o dever de cantar sobre isso. Até conhecer a musica dos Galandum não estava minimamente atraído pela tradição portuguesa. Na minha ignorância, simplesmente achava que não havia nada de interessante, musicalmente. Depois de ouvir e trabalhar com os Galandum fui revistar muitas das musicas que me estavam no subconsciente, como o Fausto e os Gaiteiros de Lisboa, Zeca Afonso, entre outros. E realmente percebi que apenas andava distraído e que a música e cultura tradicional portuguesa têm muito que oferecer, se olharmos e escutarmos com atenção. Por essa razão tínhamos que os ter como convidados. “Healling earth” fala sobre o poder curativo da terra e da natureza, e sobre como pode ser tão prazeroso desfrutar da sua beleza. Danny Del Toro é um harmonicista de Madrid que se tornou amigo há já algum tempo. O tema “Virtual Blues” precisava de uma harmónica e o Danny foi uma escolha óbvia. Acabou por emprestar ao tema uma sonoridade fanastica.

PR - Numa frase como caracterizariam este “Back To Roots”?

Budda Power Blues - Back to Roots é uma ficção sobre o que seria o cruzamento entre Portugal e os EUA no início do Século XX, altura em que o Blues nasceu.

PR -  "Blues Sticks With You" foi a canção escolhida para single de avanço deste disco. De que é que nos fala este tema?

Budda Power Blues - “Blues Sticks With You” fala do Blues como modo de vida, como forma de estar e establece o chavão: “Quem canta seus males espanta” como máxima do Blues. O blues não celebra a tristeza, nem a dor! Ante pelo contrario. O blues exorcista todos os sentimentos negativos através da música e transforma-os em passado, permitindo-nos superar as adversidades e enfrentar os nossos problemas de cara levantada. Musicalmente este tema é inspirado no cancioneiro minhoto, cruzando-o com o Blues. Simboliza todo o conceito do disco de forma exemplar.

PR - Para terminar, que memórias guardam de 14 anos de Blues?

Budda Power Blues - São demasiadas para caberem nesta entrevista. Mas são muito boas e muito prazerosas. Se tivesse que ressaltar alguma coisa de 14 anos de concertos e discos, seria as amizades incríveis que fizemos pelo caminho! É sem dúvida a maior fortuna que a vida de músico nos traz!!! Tanta gente boa com quem partilhamos o palco, as mesas de jantar, carrinhas, camarins, assentos de avião, etc. Estamos muito gratos por tudo o que nos tem sido proporcionado pelo facto de sermos músicos.


Sem comentários:

/>