Considerado por alguns como “o Príncipe da Melancolia” ou como “o mais contemporâneo dos fadistas”, Duarte apresenta (ou apresenta-se) “Só a Cantar”. Um disco que elogia o ser capaz de estar só, o ser capaz de partir sozinho. Com produção de João Gil, “Só a Cantar” é composto por onze temas. com direção artística de Aldina Duarte.
Portugal Rebelde - Que histórias são estas que podemos ouvir no álbum “Só a Cantar”?
Duarte - São histórias que venceram a solidão. São histórias que elogiam a capacidade de estar estar só, de partir sozinho. Cinco fados tradicionais com letras inéditas, quatro temas inéditos, um tema do cancioneiro tradicional alentejano e um tema inédito de José Mário Branco para uma letra minha.
PR - “Esperança” é a palavra que norteia este disco?
Duarte - Apesar de sentir este disco como algo esperançoso, o que norteou a sua conceptualização foi mesmo a ideia de conseguirmos estar só, sem que estejamos em solidão. Para mim, o sentimento de esperança surge com a escuta do disco e não com o seu processo de construção.
PR - Este disco conta com um tema original composto por José Mário Branco. Quer falar-nos um pouco deste encontro?
Duarte - Conheci o José Mário Branco durante a rodagem do filme “Alfama em Si” de Diogo Varela Silva, onde participei enquanto fadista e onde o José Mário estava responsável pela direcção musical. Foi maravilhoso poder conversar com ele e trocar ideias relativas aos mais variados assuntos. Numa dessas conversas, falou-me da ilusão dos efeitos, que muitas vezes escondem os conteúdos ou a falta destes. Eu lembrei-me que andava às voltas com umas sextilhas que tinha escrito e que de alguma forma também abordavam essa temática e pedi-lhe para musicar as mesmas, caso lhe fizesse sentido. Foi assim que aconteceu o “Que Fado é Esse Afinal?”.
PR - Apresentou recentemente este disco no Centro Olga Cadaval, em Sintra. Como é que o publico recebeu este “Só a Cantar”?
Duarte - Sinto alguma dificuldade se tiver que falar em nome do público, mas partindo do que senti enquanto alguém que tem qualquer coisa para partilhar com o publico, o concerto correu muito bem e quem lá esteve foi ouvir um disco novo, com palavras novas e numa atitude de quem não se deixa vencer pela malícia dos dias. Por outro lado e dadas as criticas que tenho recebido, sinto-me agradecido por estas mesmas opiniões. A titulo de exemplo, uma revista da nossa praça escreve que “o fado contemporâneo passa necessariamente por aqui”; numa outra revista, escreve outro jornalista “uma revelação e uma revolução”.
PR - Numa frase como caracterizaria este disco?
Duarte - Se nos deixarmos diluir com a chuva, ainda poderemos chegar ao mar durante a noite.
PR - Para terminar, revê-se na expressão daqueles que o apelidam de “Príncipe da Melancolia”?
Duarte - Usei essa expressão no poema do tema “Rosas” do meu ultimo disco. “Viste em mim o doce escorpião... O solitário príncipe da melancolia...” Neste contexto especifico sei porque o escrevi. Quanto àqueles que depois me apelidaram assim e para que eu possa sentir se me revejo ou não, teria que haver uma mais concreta contextualização da expressão. Contudo, posso assegurar que já me apelidaram de coisas bem piores!
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