21/01/2019

JOANA ESPADINHA | Discurso Direto


Joana Espadinha primeiro levou-nos a dançar e depois fez-nos pensar. E bem. Em dois singles mostrou ao que vinha. É uma cantora, autora, executante. É música de corpo inteiro. Faz canções que nos agarram, activam a circulação de emoções e a vibração dos músculos, desde logo o coração, e tanto nos convidam a menear as ancas como nos abanam. Podíamos descrever o álbum de estreia de Joana Espadinha na Valentim de Carvalho como um disco pop que mergulha no património da música portuguesa de artistas como Lena d’Água ou Gabriela Schaff. Hoje em "Discurso Direto" é minha convidada Joana Espadinha.

Portugal Rebelde - “O Material Tem Sempre Razão” marca o fim da sua timidez como cantora pop?

Joana Espadinha - Eu acho que marca o fim da minha timidez como autora, porque quando escrevemos e gravamos canções nas quais acreditamos, essa confiança no que foi feito dá-nos asas para ir mais longe. Eu nunca pensei em que tipo de cantora seria, mas as canções que escrevi são Pop e por isso eu tornei-me uma cantora Pop. Os rótulos são perigosos, porque são sempre limitadores, mas posso dizer que foi a música que escrevi que me trouxe aqui.

PR - Depois de dez anos a estudar música e a especializar-se no Jazz, sente que encontrou o caminho certo?

Joana Espadinha - Sim, sem dúvida. O caminho certo é sempre o que faz sentido para nós no momento, mesmo que mais tarde se mude de ideias. O meu percurso no Jazz e no estudo da música foi o que o que me deu ferramentas para materializar as canções que queria escrever, e faz parte de quem sou.

PR - Depois de “tampa” de Benjamim, que importância teve o músico e produtor na construção deste disco?

Joana Espadinha - O Benjamim foi absolutamente essencial. Primeiro desafiou-me a escrever mais canções em português, em jeito de “tampa”, e eu aceitei o desafio mesmo cheia de dúvidas existenciais. Quando lhe mostrei as canções novas ele ficou surpreendido e começamos a trabalhar, a fazer a pre-produção do disco em casa dele. Eu acho que ele percebeu, antes de mim, o que este disco podia ser, sonora e esteticamente, porque tinha uma visão mais objectiva, e menos preconceitos que eu, que achava que o disco seria mais próximo do Indie Rock do que do Pop. Acabamos por ir atrás das canções, escolhendo os sons (o Benjamim tocou quase todos os instrumentos do disco) e percebemos, especificamente quando terminamos a primeira canção, o “Leva-me a dançar”, que havia algo de especial e original que marcaria todo o disco. Ele tem um entusiasmo pela música que é contagiante, e muito inspirador.

PR - “Leva-me a Dançar” é o tema mais “desavergonhadamente” pop deste álbum?

Joana Espadinha - Penso que sim. Eu tinha algum receio que se tornasse piroso, e talvez por isso, não me importei que o Benjamim trabalhasse na canção à vontade, e esse desprendimento foi essencial. A canção é uma das minhas favoritas, porque, de uma forma leve, acaba por falar deste paradoxo do amor dos tempos modernos, da mulher que quer ser forte e independente mas também reclama para si um pouco de romantismo.

PR - Já teve oportunidade de apresentar as canções deste disco em palco. Qual tem sido o “feedback” que tem recebido do público?

Joana Espadinha - Tem sido muito bom, é incrível ver que as pessoas conhecem as canções, sentir essa energia, e partilhar o palco com músicos extraordinários. Eu estive afastada dos palcos durante algum tempo e tinha muitas saudades de andar na estrada a tocar. Já temos muitos concertos marcados em 2019, e isso deixa-me muito feliz.

PR - A que se fica a dever a escolha de “O Material tem Sempre razão” para título deste disco?

Joana Espadinha - Esta frase é geracional, talvez os miúdos de hoje não se revejam mas eu passei a vida a ouvi-la da boca do meu pai (que não é o Vítor Espadinha!), e uso muito. A frase é a metáfora perfeita daquele que em sido o meu percurso artístico: sempre que tentei ser alguém que não era, deu-se um curto circuito, porque o material tem sempre razão. Não podemos ir contra o que somos, mesmo que a indústria musical às vezes nos peça o contrário. Podemos evoluir, surpreendermo-nos até em terrenos fora da nossa zona de conforto, mas a nossa essência é sempre a mesma. Há uma canção no disco que fala de tudo isto, e que tem este título, por isso fez todo o sentido estendê-lo ao disco também.




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