30/03/2019

JOÃO DA ILHA | Discurso Direto


Chama-se "Mares da Indecisão" e é o mais trabalho de João da Ilha. Esta "viagem atlântica" atlântica é composta por 12 canções, algumas absolutamente inéditas e outras mais antigas repescadas da gaveta criativa, em que o que o músico se debruço sobre a Ilha, sobre emoções decorrentes de vivências muito pessoais e sobre um enorme estado de decisão: “in-decisão”. Hoje em discurso Direto é meu convidado João Pedro Leonardo.

Portugal Rebelde - Este “Mares da Indecisão” reporta-nos para uma insularidade em que a condição de ilhéu é um verdadeiro privilégio?

João da Ilha - Do meu ponto de vista e da minha experiência, ser ilhéu não só é um privilégio, como é algo mágico, porque vivencio desde sempre a imensidão do oceano e de toda a natureza envolvente tornando-se de facto algo muito especial e marcante para a minha inspiração artística. Por isso escrevi sobre a “Ilha Imensa”, uma das canções do álbum. Também por isso escrevi sobre uma variedade de temas que quer seja mais diretamente ou indiretamente, reportam para a condição de ser insular: o isolamento, os fenómenos geográficos e climatéricos e toda uma realidade influenciada pelo poder da mãe natureza que muito afeta nosso estado de alma, ou se quieres, melhor dizendo, estado de espírito.

PR - De que é que nos falam as 12 canções deste disco?

João da Ilha - O melhor a fazer é mesmo ouvir o álbum, mas sucintamente posso referir que sobretudo falam das relações e emoções humanas, e tal como referido na resposta anterior, em muitos aspetos relacionados com a vivência de ser ilhéu.

PR - A produção deste “Mares da Indecisão” tem a assinatura de Vasco Ribeiro Casais (Omiri). A que se fica a dever a escolha deste músico para a produção deste trabalho?

João da Ilha - A escolha teve a ver com a admiração que tenho pelo trabalho desenvolvido ao longo de vários anos pelo Vasco com os seus projetos (nomeadamente Dazkarieh), marcados pela criatividade, profissionalismo e capacidade de fusão entre elementos de cariz tradicionais e modernos, aspetos estes que me interessam muito e que tem a ver com a minha abordagem, pelo menos atualmente. Fiz-lhe o convite e ele felizmente aceitou! E na verdade até produzimos dois álbuns, pois antes deste trabalhámos num projeto meu de música instrumental chamado “Som das Esferas”.

PR - Numa frase como caracterizaria este “Mares da Indecisão”?

João da Ilha - A viagem atlântica entre o mar por vezes turbulento e outras vezes de calmaria.

PR - Já teve oportunidade de apresentar as canções deste disco no palco. Qual tem sido o “feeback” do público?

João da Ilha - Quem me segue e conhece o meu trabalho, independentemente de gostar mais ou menos, nota a evolução, reconhece o arrojo e risco tomado em seguir algumas novas direções e sobretudo sente a maturidade alcançada. Quem não me conhece normalmente acontece ficarem cativados e algo surpresos, referindo termos como “diferente”, “novidade” e “frescura” e também é habitual referirem que sem explicar muito bem toda a minha música lhes reporta para o mar, para o atlântico e para as ilhas, mesmo as canções menos óbvias. Mas isso desde sempre. Deve ser algo que está no sangue ilhéu e que passa nas emoções cantadas.

PR - Para terminar, qual é o tema que melhor reflete o “espírito” deste “Mares da Indecisão”?

João da Ilha - Estas “Indecisões” colocaram-me num grande estado de decisão, desde a escolha das canções, os arranjos, orientação musical, e a ponte emocional entre os açores e o continente. Todo o processo de produção (que já foi há mais de um ano) e também muitas das canções (algumas têm quase dez anos) foram compostas nesta divisão entre dois mundos, e atualmente neste preciso momento estou a responder a partir da Ilha Terceira onde recentemente me re-estabeleci depois de 20 anos a residir em Setúbal, portanto eu diria que a canção título “Mares da Indecisão” será a que melhor reflete o espírito deste álbum, porque transporta em si uma certa melancolia e uma reflexão que à semelhança da vida é inconstante, impermanente e inconclusa. Tal como diz a letra: “ficamos assim, sem terra nem chão neste mar de indecisão...”.


Sem comentários:

/>