O novo disco de Mara Pedro chama-se "Tic-tac" e chegou recentemente às lojas. Fadista e estudante de Medicina Dentária, desde cedo percebeu o valor do tempo, o tempo que dá e tira, vai e vem, como o mar que bate na areia, acreditando sempre, que não precisa de escolher um só caminho, que deseja ficar com o que o tempo lhe der e permitir fazer. Hoje em "Discurso Direto" é minha convidada Mara Pedro.
Portugal Rebelde - “Tic- Tac” é um disco que fala do tempo. Este é o tempo para crescer, amadurecer e perceber as escolhas que a vida lhe foi exigindo?
Mara Pedro - Sim, sem duvida! "Tic-tac" mostra principalmente a forma como o tempo nunca se ajustou muito bem à minha idade e ao que seria normal dela. Foi sempre como se o relógio estivesse mais à frente, sem sequer tolerar que não o acompanhasse. O facto de ter começado tão nova a cantar o fado, um estilo de música que já por si exige muito emocionalmente; ter espetáculos; viagens; contacto com o publico e outras pessoas do meio, obrigou-me a ter uma visão diferente das coisas e dos momentos. Talvez por isso esta ideia de tempo não tenha sentido para mim, é como se fosse um conjunto de dimensões que não está definido. Quando canto, o meu corpo está no agora, mas a mente transporta-me para outro tempo, para outra dimensão, provavelmente por isso que ouvi algumas pessoas a dizerem ao longo do meu percurso, que se fechassem os olhos lhes parecia ser a voz de uma mulher mais velha. Obviamente teve repercussões nas escolhas que fui fazendo. A escolha de continuar a estudar, foi uma delas, precisamente por acreditar que não há tempo que me possa limitar de seguir os meus sonhos e conciliar as duas ou mais profissões, desde que ao final me sinta feliz comigo mesma.
PR - Quando é que a menina de Viseu, longe do meio do fado se começa a interessar por este género musical?
Mara Pedro - Segundo o que os meus pais contam, sempre fui uma criança muito extrovertida, que era capaz de dançar ao som de qualquer música e cantarolar melodias na rua, sem qualquer tipo de constrangimento, enfim, é a altura da vida em que somos mais puros e fieis a nós próprios.
Tudo começou quando ouvi pela primeira vez a voz da grande Amália Rodrigues, que continua a ser até hoje uma das referências mais importantes para mim, estava de férias e fui aprendendo alguns temas. A minha primeira vez em palco foi aos 4 anos, ainda me lembro que a minha mãe levava desenhos para eu associar à letra da canção e assim não correr o risco de me esquecer ou ficar nervosa. Depois dessa experiencia as coisas aconteceram naturalmente, em cada concerto, havia sempre alguém que acabava por me convidar para outro espetáculo.
PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste “Tic-Tac”?
Mara Pedro - É difícil responder a essa pergunta, porque o álbum está muito diversificado, caracteriza as várias inspirações e o misto de emoções que fui tendo ao longo destes anos. Passa desde a alegria efusiva de "Tic-Tac", "D. ͣ Cardeala"; da melodia quente de "Suave Medo" e dos dois temas franceses "Quand les filles vont au bal" , "Lá Ville S’eveill"e; ao elogia de um país com "Povo Intemporal"; até aos temas mais introspetivos que mostram uma faceta mais intima da minha história, com "Choro à beira mar" e "Rio corre ao contrário".
PR - Este disco fecha com o tema “Povo Intemporal”. Esta é uma “recordação” muito especial para si?
Mara Pedro - Sim, uma recordação muito intensa.. A primeira vez que participei num concurso foi em Lisboa, chamado de “ Clave de Prata” em que haviam várias músicas fantásticas a concurso e a minha ganhou as três categorias: melhor letra, melhor música e melhor interpretação. Foi feita na altura com a ajuda de um professor meu de piano, José Carmo e lembro-me da enorme felicidade com que recebi aquele prémio, marcou-me e deu-me mais garra para continuar. Nunca a tinha gravado em cd, por isso senti que este fado merecia ser ouvido e não ficar apenas em boas recordações da minha gaveta.
PR - Para terminar, fadista e estudante de medicina dentária. Continua a haver tempo para estes duas “paixões”?
Mara Pedro - Ao contrário daquela que deve ser a primeira ideia que ocorre às pessoas quando digo que decidi fazer um curso que não tem em nada relação com a musica, não me proponho a fazer as coisas simplesmente para dizer que as fiz. O curso não é um plano B para mim, é um plano de vida que quero manter em paralelo com o fado, por isso, respondendo à questão, claro que continuará a haver tempo para estas duas paixões.
1 comentário:
Tic Tac tem uma frescura que dá gosto ouvir
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