17/07/2019

BIXIGA 70 | Discurso Direto


A big band Bixiga 70 é formada por destacados nomes da cena instrumental da cidade de São Paulo. A sua épica intensidade sonora, o bombardeio rítmico e as fortes raízes brasileiras misturadas com funk, samba-jazz, reggae e afrobeat, calcados em mix de metais, guitarra e percussão, fazem do coletivo um caldeirão sonoro. A energia contagiante rendeu ao coletivo o 25º Prémio da Música brasileira, na categoria “Revelação”, em 2014. Bixiga 70 lançou em 2018, o seu quarto álbum “Quebra-Cabeça”. O MIMO Festival Amarante é uma das próximas paragens do grupo. O concerto está agendado para o próximo dia 26 de Julho, no Parque Ribeirinho a partir das 21.30h. Daniel Gralha, trompetista da Bixiga 70 é hoje meu convidado em Discurso Direto.

Portugal Rebelde - Fortes raízes brasileiras misturadas com funk, samba-jazz, reggae e afrobeat, calcados em mix de metais, guitarra e percussão. É esta a “receita” do coletivo para o caldeirão sonoro que nos apresentam?

Daniel Gralha - Basicamente essa é a receita, mas o facto é que cada um de nós teve um percurso muito próprio dentro da música que se faz em São Paulo ao longo das últimas duas décadas e, apesar de muitas vezes os caminhos se terem  alinhado e termos integrado projetos em comum, a gente sentiu que à partir do processo do segundo disco essa vivência individual de cada um passou a ser a referência maior pro nosso som. Bixiga 70 é o laboratório onde os 9 músicos dividem a síntese dessa pesquisa e dessa bagagem numa constante troca, de forma horizontal, e com total liberdade de expressão. quando nos fechamos para compor qualquer um pode sugerir o ponto de partida, ou um redirecionamento, uma ponte, uma parte B, uma quebra, de acordo com sua leitura. as ideias que mais contemplam o coletivo são as que perduram. É um método super caótico, intenso, rico e extremamente desafiador para cada um de nós. acredito que nesses processos sempre alcançamos o melhor de nós mesmos.

PR - A que se fica a dever a escolha de Bixiga 70 para nome da banda?

Daniel Gralha - O principal fator que torna possível a existência do grupo é o Estúdio Traquitana, onde fazemos nossos ensaios semanais e onde gravamos nossos 4 discos. Ele fica localizado na Rua Treze Maio - a mais famosa e importante do bairro, no número 70. o bairro é um caldeirão humano - nordestinos, italianos, africanos, povos latino-americanos, é uma bela fotografia do que é São Paulo. fora isso, nosso gosto em comum pela sonoridade das produções da década de setenta também pesou na escolha, é uma singela homenagem.

PR - O álbum “Quebra-cabeça” (2018) coloca uma vez mais o Bixiga no mundo e o mundo no Bixiga?

Daniel Gralha - Sem dúvida temos viajado muito nos últimos anos e dividido experiências incríveis longe de casa e isso acaba tendo um nítido impacto na nossa música, então acredito que "o mundo no Bixiga" seja uma colocação bastante verídica. colocar o Bixiga no mundo, e pelos quatro cantos do Brasil, é nossa luta quotidiana. Estamos tendo retorno muito satisfatório das pessoas que ouviram o disco e uma ótima resposta do público nos shows, então estamos confiantes.

PR - É verdade que o álbum “Quebra-cabeça” é ao mesmo tempo um passo natural no processo de amadurecimento do Bixiga 70 e um ponto de inflexão na carreira do grupo?

Daniel Gralha - A gente conversa internamente que é o nosso trabalho mais completo até agora. o método de composição foi o mesmo do disco "III" porém agora mais donos da própria linguagem, mais confiantes, e essa confiança nos permitiu arriscar um pouco mais, deixar algumas composições tomarem rumos menos comuns p´ra gente. Isso foi enriquecedor, ampliou nossos horizontes. Por essa ótica podemos sim dizer que é um ponto inflexão, mas também não podemos deixar de observar as mudanças que aconteceram no Brasil como um todo e o momento sócio-político que estávamos passando. essas questões tem uma profunda influência no nosso som.

PR - No próximo dia 26 de Julho apresentam no Festival MIMO, em Amarante o álbum “Quebra Cabeça” editado em 2018. O que é que o público português pode esperar da passagem da Bixiga 70 por este Festival?

Daniel Gralha - Um grande baile. Um show para se apreciar sem melodias e batucadas, mas principalmente uma música para se dançar, para se estar presente de corpo pulsante. Liberdade de pensamento é liberdade de movimento.

PR - Para terminar, que memórias guardam de quase 10 anos de canções?

Daniel Gralha - As memórias são muitas; shows históricos, viagens incríveis, roubadas monumentais também, figuras lendárias que tivemos o prazer de dividir o palco, grandes talentos da cena atual que pudemos conhecer de mais perto e experimentar vivências em comum. Mas a memória mais marcante talvez seja essa que se renova cada vez que subimos no palco, que é a do prazer imenso que temos em tocar juntos essa música que descobrimos em nós, e dividir isso com o público num espiral energético como foi desde o primeiro show, e como é em cada cidade que chegamos.



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