10/07/2019

LUSITANIAN GHOSTS | Discurso Direto


Lusitanian Ghosts é um coletivo de artistas que cruzam os cordofones populares portugueses (Amarantina, Beiroa, Braguesa, Campaniça, Terceira, e Toeira) com uma estética de rock n roll / singer-songwriter internacional, onde um artista sueco, Micke Ghost, toca viola Amarantina e um artista português, Omiri, toca também a Nyckleharpa, um cordofone medieval sueco. Os singles “Trailer Park Memories”, “Godspeed to You”, e “The World” antecederam o lançamento do disco debut do projeto. Hoje em "Discurso Direto" recebemos os Lusitanian Ghosts.

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu o projeto Lusitanian Ghosts?

Lusitanian Ghosts - Numa conversa com o meu Avô, o Mestre Adelino Leitão, em casa do meu irmão Tiago Leitão em Setúbal, ele revelou que tinha sido músico, tinha tido uma banda, Os Fatalistas, entre outros projetos; e quando ele faleceu herdei alguns cordofones… depois descobri a viola Beiroa. Comecei a tentar compor na Beiroa… criar algo mais localizado. Não me fazia sentido gravar mais um disco de rock n roll só, como já tinha feito em Toronto, Londres ou Estocolmo, mas sim um disco local, um projeto português. Comprei uma Amarantina e levei-a a Estocolmo, ofereci-a ao Micke Ghost… e aí tudo começou.

PR - Lusitanian Ghosts é um coletivo de artistas que cruzam os cordofones populares portugueses (Amarantina, Beiroa, Braguesa, Campaniça, Terceira e Toeira) com uma estética de rock n roll / singer-songwriter internacional. Estão contentes com o resultado final deste disco de estreia?

Lusitanian Ghosts - Este primeiro disco foi uma experiência - nunca se tinham cruzado todos estes cordofones num disco, muito menos num disco cantado em Inglês. O Gajo já estava a reinventar a Campaniça, o Omiri já distorcia a Braguesa, e o Abel já tinha usado a Terceira em gravações com o Guillermo, pós-Primitive… mas assim todas juntas não. Mesmo assim, começámos com uma base de “bedtracks” de rock, bateria, baixo e elétrica. Para o próximo disco, que vai ser gravado em fita evitando qualquer meio digital, vamos fazer ao contrário, começar com os cordofones mesmo. Claro que se não estivéssemos contentes não haveria “próximo disco”, haha. O Canoa e o Ricardo Ferreira fizeram um grande trabalho de gravação e produção.

PR - No passado mês de Abril, apresentaram as canções deste disco em concerto. Qual foi o “feedback” que receberam do público?

Lusitaniann Ghosts - Foi uma excelente noite. Foi a primeira vez que tocámos ao vivo, e funcionou muito bem. É uma verdadeira orquestra de cordofones, todos diferentes, com uma atitude de rock n roll, penso que surpreendeu muita gente que não sabia bem ao que ia. As críticas foram muito positivas. Estamos entusiasmados por ter conseguido, com tão poucos ensaios, apresentar tão bem o disco. Todos temos agendas complicadas para gerir, e para que Lusitanian Ghosts toque é preciso vir o Micke Ghost de Estocolmo. Esperamos conciliar agendas para tocar mais, mesmo que não seja sempre com todos os elementos do coletivo.

PR - Já confirmadas estão também atuações internacionais no Reeperbahn Festival, um dos festivais mais importantes para a indústria da música, que se realiza de 18 a 21 de Setembro, em Hamburgo, e a atuação no Live at Heart, um dos maiores festivais de showcases na Escandinávia, que se realiza de 4 a 7 de setembro, em Örebro, Suécia. Há algumas “surpresas” preparadas para estes concertos?

Lusitanian Ghosts - Todos os nossos concertos são verdadeiras surpresas! Ninguém sabe o que pode acontecer. Na Suécia contamos também com a presença do meu antigo baixista de Neil Leyton & The Ghosts, o Janne Olson. Não teremos por lá O Gajo nem Omiri, por causa dos seus próprios concertos. No Reeperbahn estaremos todos e ainda alguns potenciais convidados internacionais, por confirmar… e depois, cada concerto tocamos uma ou outra música nova, seja nossa, seja cover… em Benfica foi o “Thanks for Chicago Mr. James” de Scott Walker, que foi uma grande referência para nós em estúdio e que, entretanto, faleceu. Não sabemos qual será o setlist nem para a Suécia, nem para a Alemanha, e, entretanto, esperamos confirmar mais um concerto para Portugal.

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste álbum?

Lusitanian Ghosts - Tema no sentido de música? Todas elas… talvez a "Past Laurels"? Ou tema no sentido de temática… vejamos, várias letras abordam uma certa mentalidade portuguesa, os tabus da nossa sociedade, a recusa em dialogar abertamente sobre o que foi na verdade a era dos descobrimentos: a escravatura. Há muita gente em Portugal com mentalidades muito fechadas…, mas as letras não apontam só o dedo às quintinhas e castelos: tiramos o chapéu à Wikipédia criticando por exemplo as velhas enciclopédias como a Britannica, que só contavam um lado da história - a dos vencedores. É um disco que espero possa incentivar o diálogo político, vá. Está na altura de defendermos a cultura, a Europa, o civismo, todos os valores humanistas que fomos conquistando ao longo do século XX e que estão mais uma vez ameaçados por este mundo fora. É um espírito positivo, afirmativo, humanista.

PR - Numa frase como caracterizariam este disco de estreia?

Lusitanian Ghosts - Uma espontânea experiência criativa inédita que promove os cordofones populares portugueses num novo contexto, para além das nossas fronteiras. Um projeto com raízes no passado, mas com uma visão futurista.



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