31/05/2021

OCTÁVIO FONSECA | Discurso Direto


No próximo dia 3 de Junho, vai ser apresentado na Universidade Popular, no Porto, "Uma Vontade de Música - As Cantigas do Zeca" (Tradisom, 2021), um livro da autoria de Octávio Fonseca. Esta obra de investigação, com prefácio de Rui Pato, procura demonstrar a dimensão artística das canções de José Afonso, que estão ao nível do que de mais importante se fez na música popular universal do século XX. José Afonso inventou soluções musicais extraordinárias e surpreendentes e introduziu diversas inovações na nossa canção popular. Este livro é uma forma de ler e ouvir as canções de José Afonso, tão discutível como outra qualquer. Mais importante do que o seu conteúdo é confrontá-lo com as canções e refletir sobre elas para descobrir o mar profundo de surpresas que é a obra de José Afonso. Octávio Fonseca, é hoje meu convidado em "Discurso Direto". 

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu a ideia de lançar este livro? 

Octávio Fonseca - Por um lado, a participação no livro José Afonso: todas as canções e trabalhar na transcrição das canções para partitura deu-me uma nova perspetiva da música de José Afonso que, desde logo, me suscitou a vontade de a partilhar. Por outro lado, o convite da Universidade Popular do Porto para fazer um curso de seis horas sobre a obra musical de José Afonso obrigou-me a fazer uma pesquisa que me revelou aspetos desconhecidos. A vontade de partilhar as minhas descobertas, que até podem não o ser para muitas pessoas, aguçou-me ainda mais a vontade de partilha. 

PR - Esta obra é uma forma de ler e ouvir as canções de José Afonso? 

Octávio Fonseca - Exatamente! Esta é a minha leitura da obra de José Afonso. Em alguns aspetos mudei de opinião, que deixou de coincidir com muitas ideias feitas acerca da obra de José Afonso. As suas baladas são uma continuação das baladas coimbrãs? Ele não foi o pioneiro da canção de intervenção no nosso país? O seu lirismo é coimbrão ou camoniano? Eis algumas das questões em que depois de ouvir atentamente a música em causa e de ler alguns depoimentos essenciais, mudei de opinião relativamente às ideias que têm sido defendidas maioritariamente. 

PR - A obra de José Afonso continua a ser um mar profundo de surpresas? 

Octávio Fonseca - Para mim penso que será. Cada vez que se reouve uma canção corre-se o risco de reparar em aspetos musicais ou poéticos de que não nos tínhamos apercebido. Isso aconteceu-me várias vezes. O livro contém o que aprendi até agora. Mais importante que ler as minhas opiniões é confrontá-las com as canções, para que cada apreciador da música de José Afonso possa fazer as suas próprias descobertas e a sua leitura da obra. 

PR - Para terminar, pedia-lhe um exercício (difícil, eu sei). Três canções do Zeca que nunca deixará de cantar. 

Octávio Fonseca - Nunca deixarei de cantar e tocar todas, porque para mim não existe a melhor canção e o melhor álbum de José Afonso, mas percebo o seu desafio. “Era um redondo vocábulo” “De não saber o que me espera” “Os vampiros”.

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