05/09/2024

SARA VIDAL | Discurso Direto

Cruzando a música tradicional e de autor, alusiva ao mar e à pesca, com a videografia e a literatura portuguesa, MARÉ é uma criação da Sons Vadios, estrutura artística e editora sediada na Nazaré, com interpretação de Abílio Caseiro (cavaquinho, bandolim, guitarra portuguesa, guitarra eléctrica), Celina da Piedade (voz, acordeão), Quiné Teles (percussão, voz), Sara Vidal (voz, harpa celta), Zé Francisco (guitarra, voz), João Espada (videografia) e Sónia Pereira (literatura portuguesa). Sara Vidal apresenta hoje no Portugal Rebelde o projeto MARÉ.

Portugal Rebelde - O livro/disco MARÉ é uma homenagem à vida e ao trabalho árduo dos pescadores de todo o país? 

Sara Vidal - Em 2022, a Mútua dos Pescadores quis assinalar de forma especial o seu 80º aniversário e fez uma encomenda artística à Sons Vadios para concebermos um espetáculo original e especial para a ocasião. Naturalmente que teria de ser alusivo aos pescadores, ao sector da pesca, ao mar e às suas gentes... e foi assim que surgiu MARÉ, que é um espetáculo que reúne músicas tradicionais e de autor de todo o país, aliadas à videografia e à literatura portuguesa, e que se assume como uma homenagem a todas as pessoas que vivem e trabalham da pesca, do mar e da indústria marítima. A edição este ano do digibook é o resultado consequente do espetáculo, daí ter o mesmo nome, porque a nossa preocupação também é que este património imaterial e estas músicas sejam divulgadas, valorizadas e que mais pessoas as conheçam e se apropriem delas. 

PR - Esta edição contou com a participação especial do Coro Mútua, constituído por pessoas ligadas ao setor das pescas. Como é que surgiu a ideia? 

Sara Vidal - O Coro Mútua já tinha participado na estreia do espetáculo, em Novembro de 2022, precisamente no 80º aniversário da Mútua dos Pescadores, por isso quisemos contar novamente com a sua participação na gravação disco, não só porque enriquece musicalmente as músicas em que o coro participou, mas porque também desenvolvemos uma relação afetiva e próxima com as pessoas do Coro e da Mútua. Do ponto de vista simbólico e conceptual, a sua participação faz todo o sentido. 

PR - A par das músicas, há também o contributo literário de João Delgado, Manuel Rocha e Abel Coentrão. Quer falar-nos um pouco deste novo "desafio"? 

Sara Vidal - Não queríamos que este trabalho fosse apenas mais uma edição musical, mas que plasmasse o espectáculo no seu todo, com as três componentes da música, da videografia e da literatura portuguesa. Por outro lado, também queríamos que este trabalho fosse, de alguma forma, mais aprofundado com a perspetiva de quem conhece e trabalha no sector pesqueiro, daí termos o contributo do João Delgado, atual presidente do Conselho de Administração da Mútua dos Pescadores. Aliás, ele foi um dos grandes impulsionadores deste espectáculo, viabilizando o apoio fundamental da Mútua desde o primeiro momento. Outro contributo importante, e que nos pareceu fazer sentido, é do Abel Coentrão, que tem uma forte vivência pessoal e familiar com a realidade piscatória de Vila do Conde, desenvolvendo vários trabalhos jornalísticos sobre a temática e também é fundador da Bind'ó Peixe - Associação Cultural, cuja missão e ação incide precisamente sobre divulgar, valorizar e preservar a memória histórico-social das comunidades piscatórias deste território, em particular, mas que têm feito um considerável trabalho para além de Vila do Conde, por isso também considerámos ser interessante e pertinente o seu olhar sobre o trabalho que desenvolvemos na Maré. Por fim, queríamos ter uma visão mais artística e de alguma contextualização musical, e o primeiro pensamento sobre quem poderia dar um contributo interessante a esse nível foi para o Manuel Rocha, que para além de ser um profundo conhecedor da nossa tradição musical, também tem o dom da palavra e sabíamos que nos traria uma boa reflexão sobre o tema. 

PR - Durante este Outono a Maré vai encher com a agenda de alguns concertos, a saber: 7 de setembro (Vila Nova de Famalicão), 29 de setembro (Santa Luzia, Tavira) e 16 de novembro (Peniche). O que é que o público pode esperar destes espetáculos? 

Sara Vidal - Fundamentalmente, uma grande celebração da música portuguesa de raiz e da cultura piscatória. Quem conhece a realidade das gentes do mar e da pesca, revê-se no espetáculo e fica muito agradecido com a homenagem que fazemos, e quem não é assim tão afim passa a conhecer, pelo menos um bocadinho melhor, uma realidade de vida e de trabalho que é muito dura e que, sem dúvida, merece toda a nossa consideração e respeito. Maré não é um espetáculo etnográfico, mas sim artístico.

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