Chama-se "Rádio Alegria" e é o mais recente disco da banda Os Azeitonas, uma boysband de garagem, com Marlon, AJ e Salsa. O segundo álbum foi "produzido" sob a forma de livro, de modo a poupar 16% de I.V.A. ao consumidor final. O Portugal Rebelde esteve à conversa com dois "Boys", AJ e Salsa para ficar a conhecer melhor a "Rádio Alegria", um CD que é um livro, num livro que é um CD e que também fala de uma rádio.
Portugal Rebelde - "Rádio Alegria" é o 2º trabalho de Os Azeitonas. A que se ficou a dever este título para o vosso regresso aos discos?
Araújo Jorge - O nome do disco deve-se à morada da nossa sala de ensaios. Fica na Rua da Alegria, no Porto, e já há uns anos que cultivamos a fantasia de criar a nossa própria rádio pirata. A nossa ideia da "Rádio Alegria" já tem uns anos. À medida que fomos encarando a realidade e desistindo da ideia, resolvemos criar uma rádio imaginária, em disco. O disco já estava composto e parcialmente gravado quando o baptizamos assim. Foi a maneira de dar vida a essa fantasia, e é para isso que servem os discos.
P.R. - O CD é considerado artigo de luxo, logo, sujeito a uma taxa de 21% de I.V.A., e que na compra de um livro, esse mesmo imposto acrescenta apenas 5% ao preço a pagar, Os Azeitonas decidiram inovar, editando um livro com oferta de um CD. Queres comentar?
AJ - A ideia apareceu-nos em inícios de 2006. Eu li algures uma entrevista com um cantor que já nem me lembro quem era, a referir e a insurgir-se contra essa discrepância do IVA. E tive essa ideia, que partilhei com o resto da banda e com o Rui Veloso, o nosso editor. A primeira reacção do Rui foi "mas o que é vão escrever lá"? "Nada, a ideia é essa". Com o tempo, lá fomos convencendo a editora da pertinência dum livro que não fosse mais do que fachada para encobrir um cd e sair mais barato. Entretanto já sairam algumas compilações, de fado, jazz, etc, anteriores ao nosso, em alguns jornais e revistas, mas acho que no que diz respeito a um album de originais editado exclusivamente dessa forma, fomos os primeiros. Estamos à disposição de bandas que queiram seguir o exemplo, pelo menos até a lei do IVA ser revista. Já temos um dossier com toda a "tecnologia" necessária, se assim lhe podemos chamar. A burocracia é mais que muita, e foi preciso quase um ano até isto estar cá fora.Em resumo, não temos ambições literárias com este lançamento. Isto foi só a maneira como registamos a forma legal do lançamento de um album de canções, tendo em vista única e exclusivamente a poupança fiscal. Claro que acaba por ser um produto melhorado, em termos gráficos, com mais de 60 páginas, como se fosse uma edição de luxo de um cd em digipack, mas com a vantagem que custa à volta de 10, 11 euros apenas.
P.R. - "Rádio Alegria", conta com algumas participações especiais. Queres falar-nos um pouco desses convidados?
AJ - A forma que encontramos de dar consistência ao conceito de "rádio alegria" foi transformar o disco todo numa transmissão virtual. Para isso, era necessário um "locutor". Lembramo-nos logo do António Sala, mas isso não foi possivel. O Rui Veloso sugeriu o Paulino Coelho, também da renascença. Também participa o Joao Francisco Guerreiro, jornalista. Nos convidados musicais, participa o Rodrigo Amarante, dos brasileiros Los Hermanos, que que toca guitarra numa música que compôs para nós, e nos enviou por email, à qual o Marlon acrescentou a letra. Também entra a Babi Caius, ex-azeitonette (saiu da banda antes do primeiro disco) e o Tiago Simães, com quem o Salsa tocou no côro de Jazz "Aquijazz", que gravou coros numa música chamada "balada do banco de jardim".
Salsa - O Paulino é um bem disposto, verdadeiro homem da Rádio - "o" Profissional! Uma das frases dele é, aliás, "vá lá, sorria - sabe que isso não paga IVA!"... O João também entrou no espírito, acedeu ao pedido e lá fez a introdução nostálgica dos Desenhos Animados . O "Hermano" Amarante é de abraço, brasileiro de coração grande; a Babi leva-nos ao início da banda, e o Tiago é um bom amigo, talento escondido (ainda) em Portugal... enfim, tivemos a sorte de gravar com bons amigos, a verdadeira Rádio Alegria foi o processo em si.
P.R. - Quais são as influências musicais de Os Azeitonas?
AJ - Tudo que há de bom e de mau na música portuguesa. Temos também algumas influências, sempre dentro do formato-canção, do melhor que se faz lá fora, desde Elvis, Abba, Neil Diamonb, coisas assim. Neste momento, eu concretamente, ando a ouvir muito do chamado "nacional-cançonetismo", a mal-amada música do regime, desde Loubet Bravo, Maria Clara, Tony de Matos, coisas assim.
Salsa - qualquer coisa genuina... Uma resposta romântica seria "o bater do coração" ou "o pilrear dos passarinhos no pinheiro manso do vizinho numa manhã de primavera"... mas Queens of the Stone Age também serve.
Também temos uma lista pessoal de música "muito eclética" para armar ao forita-intelectual-com-onda-mas-diferente-de-todos-os-foritas-intelectuais-com-onda-porque-conhecemos-bandas-com-nomes-marados-tipo-"The Great Indian Scaramouche"-de-Free-Jazz-e-Neo-Crap, só que como o que nos une é, numa conversa musical, mais cedo ou mais tarde, se dar a reacção oposta de "gostas DISSO??" (enquanto cantarolo o solo de Nikita do Elton John), poupamo-vos a esse trabalho...
Ps: "The Great Indian Scaramouche" foi inventado agora. Quem sabe até existe... Até gosto do nome...
P.R. - Dedicam neste disco um tema a Tony de Matos. A que se ficou a dever esta "homenagem"?
AJ - Somos todos grandes fãs dele. Achei romântica a ideia do cantor romântico não ter muito tempo para romances.
P.R. - O imaginário da rádio está muito presente neste disco. Defendes que a rádio devia passar mais música portuguesa?
AJ - Defendo que sim, que devia, mas nunca às custas de aumento de quotas e outras formas de censura. Gostava muito que passassem numa lógica de mercado, livre, autónoma e natural.
P.R. - Os Azeitonas são a versão masculina das Doce?
AJ - O nosso primeiro press-release vinha cheio de referências às quais ficamos para sempre reféns. Algumas conotações algo auto-satíricas que tinham tanta ou tão pouca piada que toda a gente levou a sério...Boysband, doces masculinas, etc. Mas de certa forma, somos capazes de ser, mas com a diferença de que somos uma banda completamente auto-suficiente (compomos, escrevemos, produzimos, tocamos, decidimos todos os aspectos da cadeia de criaçao). Mas no que toca ao compromisso com o chamado "entertainement", aí talvez sejamos mesmo. Somos uma boysband de garagem. Boysband, tal como os beatles, os sex pistols e os new kids on the block o foram, mas de garagem, na medida em que, ao contrário de todos estes exemplos que acabei de dar, não fomos juntos por nenhum produtor, nem nenhum brian epstein ou malcom mclaren nos vestiu e penteou.
Salsa - Se sim, só 3/4...
1 comentário:
Eu gosto dos Azeitonas por várias razões:
Gosto de música portuguesa; gosto de boa música; gosto de um bom espetáculo; não tenho problemas em gostar de classicos de música ligeira portuguesa; ainda revejo festivais da canção, ainda danço como doida ao som de josé cid; ainda tenho prazer em comprar um bom "livro" de música portuguesa.
Força e muita alegria!!!
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