30/04/2012

ROGÉRIO CHARRAZ | Discurso Direto


Rodeado de afetos e cumplicidades, Rogério Charraz encontrou a "chave" para para escrever, produzir, arranjar e tocar as canções do seu álbum de estreia, "um disco  inspirado nos grandes autores da Lusofonia."

Portugal Rebelde - Depois de doze anos de aprendizagens e maturação enquanto fundador dos Boémia, e de quatro intensos anos de palcos e de estúdio, encontrou finalmente a “chave” para o seu universo musical?

Rogério Charraz - Sim, sinto que ao longo deste percurso fui encontrando a minha voz e o meu caminho, e a “chave” provavelmente foi ter encontrando as pessoas certas para escrever letras, produzir, arranjar e tocar as músicas que ia compondo. Senti-me rodeado de afectos e cumplicidades, o que me permitiu partir para este projecto em nome próprio com enorme confiança e disponibilidade.

PR - Assume-se como um cantautor: canta, toca, escreve e compõe as suas próprias canções. Qual a fonte de inspiração para as suas canções?

RC - A principal fonte de inspiração é a vida: a minha, a dos que me rodeiam, a do meu país e do mundo em geral. Eu gosto de falar da realidade, daquela que me é muito particular (os sentimentos, as experiências, etc.) e da que faz parte do universo colectivo: o bem comum. É por isso que as minha canções tanto podem falar do amor ou da minha infância, como podem abordar a toxicodependência ou problemas económicos...

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este seu disco de estreia?

RC - É um disco de autor, com um universo muito próprio mas inspirado nos grandes autores da Lusofonia.

PR - Ana Lains, José Mário Branco e Rui Veloso são os convidados especiais deste disco. Quer falar-nos um pouco destas participações?

RC - São participações que aconteceram com alguma naturalidade, porque as canções assim o “exigiram”. Quando discuti o arranjo de “Gostava de ser diferente” com o produtor Alexandre Manaia, achámos que o tema precisava de uma voz feminina, até porque o poema tem uma sensibilidade muito característica do universo feminino. Entretanto conheci a Ana e apaixonei-me pela sua voz, e achei era a pessoa indicada, até pela amizade que fomos desenvolvendo. O Rui Veloso participa num tema que fiz (com o meu amigo Pedro Branco) de tributo ao próprio e ao seu inseparável letrista: Carlos Tê. É um Blues/Rock muito na onda do Rui, e achei que fazia todo o sentido que fosse ele a fazer o solo principal do tema. O José Mário é outro dos meus autores preferidos, e tem uma capacidade única de interpretar textos de uma forma muito intensa, quase visceral. Sendo uma canção que vem um pouco na sequência das canções de resistência que se faziam antes de 25 de Abril, e tendo o texto sido escrito pelo filho, a escolha era óbvia. Resta acrescentar que todos acederam ao convite de forma muito generosa e foram uma mais-valia para este disco.

PR - Quatro canções de “A Chave” fazem parte da banda sonora de “Pai à Força”, uma das séries da RTP de maior sucesso. Gosta de ver as suas canções associadas a séries televisivas?

RC - Gosto essencialmente que as canções que faço cheguem às pessoas, e a TV é um meio de comunicação de grande alcance. Tem sido muito bom para a divulgação do disco ter quatro temas nesta série, vista por muitas famílias, e vai ser bom também ter o tema “Grito Vagabundo” na banda sonora da nova novela da TVI, que vai estrear muito em breve.

PR - Já teve a oportunidade muito recentemente de apresentar as canções deste disco no palco. Qual tem sido o “feedback” que tem recebido do público?

RC - Confesso que o disco tem tido um impacto muito acima das minhas expectativas. A promoção tem corrido muito bem, temos estado nos últimos meses em vários meios de comunicação social, e isso faz com que as pessoas cheguem aos espectáculos conhecendo os temas e o projecto. Depois a energia e a nossa vontade de pisar o palco fazem o resto, e tem sido uma experiência fantástica, com vários capítulos agendados para os próximos tempos.   

PR - “E contra a dita a gente grita”, canta numa das canções deste disco. Este é um “grito de revolta”?

RC - Acima de tudo, é um grito de insatisfação em relação a vários aspectos da nossa vida actual. É a minha visão sobre vários dos problemas que afectam a nossa realidade: a maneira como temos sido mal governados (mas continuamos a fazer as mesmas escolhas!), a falta de interesse pela nossa identidade cultural (penduramos bandeiras nas janelas mas não tratamos bem a nossa música, a nossa língua e até a nossa economia!), etc.

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